O Livro dos Espíritos (LE) possui um capítulo intitulado
“Retorno à Vida Corporal”. Neste capítulo são respondidas várias perguntas;
inclusive uma pergunta básica: se reencarnamos, por que não nos lembramos das
outras encarnações? A resposta é que “o esquecimento do passado” é um grande
benefício para facilitar a evolução dos espíritos encarnados no planeta Terra.
O esquecimento do passado é uma proteção para o ser humano
que encarna. “A encarnação é uma nova oportunidade de desenvolver habilidades,
desenvolver recursos e fazer boas escolhas. A encarnação com menos influência
do passado é uma nova oportunidade facilitada. As decisões e as experiências
nesta nova encarnação servirão de contraponto às experiências de outras
encarnações”, diz o livro Nascer Várias Vezes. Ou seja, ao reencarnar, somente
algumas informações do passado influenciam a nova encarnação; isto evita que a
mente seja inundada por influências do passado.
Nos sentiríamos humilhados, se nossos próximos soubessem de
todos os erros que cometemos na presente encarnação; muitas vezes, nos sentimos
humilhados ao ter de admiti-los até a nós mesmos. Convém então perguntar o que
sentiríamos se adicionássemos as falhas do passado às falhas atuais?
Naturalmente, nos sentiríamos bem mais desanimados, sabendo de todas as vezes
que reincidimos nos mesmos erros.
Deus sabe o que faz. Se o esquecimento do passado é
obrigatório, há razões para isso, até mesmo além das que conhecemos.
Não nos lembramos das vidas passadas e nisso está a sabedoria
de Deus.
Se lembrássemos do mal que fizemos ou dos sofrimentos que
passamos, dos inimigos que nos prejudicaram ou daqueles a quem prejudicamos,
não teríamos condições de viver entre eles atualmente.
Pois, muitas vezes, os inimigos do passado hoje são os nossos
filhos, nossos irmãos, nossos pais, nossos amigos, que presentemente se
encontram junto de nós para a reconciliação. Por isso, existe a reencarnação.
Do total de memórias do espírito, somente algumas fazem parte
e influenciam a encarnação atual. As outras memórias do espírito ficam
dissociadas; não influenciam a vida encarnada. De um modo bem simplificado
podemos dizer: ao invés de encarnar com “milhares” de problemas para resolver,
o espírito encarna com a missão de vida de resolver alguns problemas.
O capítulo citado do Livro dos Espíritos (LE) diz: “o homem
não pode nem deve saber de tudo” (pergunta 392). Um espírito com milhares e
milhares de anos possui uma história tão rica e diversa que seria exagero
querer saber tudo sobre ela. Além de exagero, desperdício de tempo e perda de
foco da sua real missão de vida. Por isto, existe a dissociação da memória que
mantém a imensa maioria das memórias do espírito sem ascendência sobre esta
encarnação.
Existem, por outro lado, uma minoria de memórias que ajudam a
formar o novo corpo/mente desde a concepção. A vida que temos hoje é uma
continuidade da vida espiritual e das encarnações passadas. Para que exista
esta continuidade é necessário que muitos conteúdos de encarnações passadas
(“vidas passadas”) façam parte desta vida atual. Ou seja, somos formados
primeiramente por experiências e memórias de encarnações passadas e do plano
espiritual que se armazenam em nossa mente a partir da vida intrauterina.
Qual a função da encarnação? Propiciar a evolução
(desenvolvimento moral e intelectual do ser). Cada um nasce com suas missões de
vida, ou seja, com metas evolutivas prioritárias. As memórias de vidas passadas
que continuam a atuar na vida atual estão, principalmente, relacionadas a estas
missões de vida.
Os conteúdos do espírito são filtrados quando da encarnação,
isto permite o foco nos objetivos traçados como a missão de vida. Nascemos com
objetivos evolutivos bem determinados, e nascemos com boas condições para
atingi-los. Este filtro favorece a realização da missão de vida”, diz o livro
Nascer Várias Vezes.
Existem três tipos de memórias do espírito: aquela que ficou
dissociada e a que está ativa na vida encarnada (a terceira será abordada mais
a frente no texto). A memória ativa está relacionada com os desafios evolutivos
que o espírito tem que enfrentar.
Acontece que a memória que está ativa também está
“esquecida”, porque ela está no inconsciente. Somente podemos percebê-las pelos
resultados de sua influência. Algumas vezes elas aparecem como medos
irracionais, como interesses por algo, ou como um traço da personalidade, ou
outra particularidade qualquer. Enquanto o sintoma ou característica da
personalidade está presente na consciência, a origem (história) permanece no
inconsciente influenciando a mente total. Este não é um esquecimento
verdadeiro. É mais uma ignorância. Ignoramos parte da nossa verdade interior.
Ignoramos parte do motivo de sermos como somos. A verdade é esta: o ser humano
ignora o que está no seu inconsciente e que ajudou a formá-lo como ele é. A
terapia de vidas passadas (TVP) lida com estas memórias que ignoramos. São
memórias ativas, presentes e que nos fazem sofrer (ou nos favorecem com suas
qualidades e experiências). A maioria destas memórias inconscientes é de
encarnações passadas e do plano espiritual – e fazem parte desta encarnação.
Podemos dizer que a TVP é uma forma a mais de ajuda para que
todos possam evoluir e superar os desafios da vida. É uma forma de caridade, de
compaixão e de facilitar o cumprimento das missões de vida.
Existem quatro tipos de memórias no ser humano: as que são
conscientes, as que ignoramos (que estão no inconsciente), as que são próprias
do espírito (que estão dissociadas da mente encarnada) e as memórias
transpessoais.
No livro “A Gênese”, Kardec escreve que existem ideias
intuitivas e inatas ao ser. Estas ideias inatas foram desenvolvidas antes do
nascimento, em parte são originadas de “memórias” que vão além da história do
espírito. Por exemplo, há uma capacidade inata de o espírito escolher “o bem ao
invés do mal”. Esta capacidade não foi desenvolvida pelo espírito, e sim “dada”
por Deus como um recurso a ser utilizado para facilitar a evolução. C.G.Jung
deu o nome de arquétipo a um tipo de “memória” inata que todos os humanos
possuem e que serve de referência para a mente desenvolver.
A importância da memória transpessoal para a evolução do
espírito advém do fato de que é um dos recursos mais poderosos que existem à
disposição de cada um para aprender, amadurecer e progredir. A existência desta
memória é um dado lógico. Deus, ao criar espíritos destinados a evoluir, lhes
deu condição (desde a primeira encarnação) de fazer boas escolhas. Estas
condições presentes desde o início são memórias presentes no espírito e,
portanto, em cada ser humano.
“Conheça a verdade, e esta vos libertará”, diz o ditado. O
ser humano, espírito encarnado, pode evoluir mais facilmente quando busca a
origem dos seus problemas em memórias que ele ignora e que estão guardadas no
seu inconsciente. Ele supera sofrimentos e, acima de tudo, pode contribuir mais
efetivamente para o progresso da sociedade e dos seus familiares.
Por Regis Mesquita.
*Regis Mesquita é psicólogo e Terapeuta de Vidas Passadas em
Campinas, SP, autor e escritor do livro “Nascer Várias Vezes”.