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segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

"OS ANJOS SEGUNDO O ESPIRITISMO"

Que haja seres dotados de todas as qualidades atribuídas aos anjos, não restam dúvidas. A revelação espírita neste ponto confirma a crença de todos os povos, fazendo-nos conhecer ao mesmo tempo a origem e natureza de tais seres.
As almas ou Espíritos são criados simples e ignorantes, isto é, sem conhecimentos nem consciência do bem e do mal, porém, aptos para adquirir o que lhes falta. O trabalho é o meio de aquisição, e o fim - que é a perfeição - é para todos o mesmo. Conseguem-no mais ou menos prontamente em virtude do livre-arbítrio e na razão direta dos seus esforços; todos têm os mesmos degraus a franquear, o mesmo trabalho a concluir. Deus não aquinhoa melhor a uns do que a outros, porquanto é justo, e, visto serem todos seus filhos, não tem predileções. Ele lhes diz: Eis a lei que deve constituir a vossa norma de conduta; ela só pode levar-vos ao fim; tudo que lhe for conforme é o bem; tudo que lhe for contrário é o mal. Tendes inteira liberdade de observar ou infringir esta lei, e assim sereis os árbitros da vossa própria sorte.
Conseguintemente, Deus não criou o mal; todas as suas leis são para o bem, e foi o homem que criou esse mal, divorciando-se dessas leis; se ele as observasse escrupulosamente, jamais se desviaria do bom caminho.
Entretanto, a alma, qual criança, é inexperiente nas primeiras fases da existência, e daí o ser falível. Não lhe dá Deus essa experiência, mas dá-lhe meios de adquiri-la. Assim, um passo em falso na senda do mal é um atraso para a alma, que, sofrendo-lhe as conseqüências, aprende à sua custa o que importa evitar. Deste modo, pouco a pouco, se desenvolve, aperfeiçoa e adianta na hierarquia espiritual até ao estado de puro Espírito ou anjo. Os anjos são, pois, as almas dos homens chegados ao grau de perfeição que a criatura comporta, fruindo em sua plenitude a prometida felicidade. Antes, porém, de atingir o grau supremo, gozam de felicidade relativa ao seu adiantamento, felicidade que consiste, não na ociosidade, mas nas funções que a Deus apraz confiar-lhes, e por cujo desempenho se sentem ditosas, tendo ainda nele um meio de progresso. (Vede 1ª Parte, cap. III, "O céu".)
A Humanidade não se limita à Terra; habita inúmeros mundos que no Espaço circulam; já habitou os desaparecidos, e habitará os que se formarem. Tendo-a criado de toda a eternidade, Deus jamais cessa de criá-la. Muito antes que a Terra existisse e por mais remota que a suponhamos, outros mundos havia, nos quais Espíritos encarnados percorreram as mesmas fases que ora percorrem os de mais recente formação, atingindo seu fim antes mesmo que houvéramos saído das mãos do Criador.
De toda a eternidade tem havido, pois, puros Espíritos ou anjos; mas, como a sua existência humana se passou num infinito passado, eis que os supomos como se tivessem sido sempre anjos de todos os tempos.
Realiza-se assim a grande lei de unidade da Criação; Deus nunca esteve inativo e sempre teve puros Espíritos, experimentados e esclarecidos, para transmissão de suas ordens e direção do Universo, desde o governo dos mundos até os mais ínfimos detalhes. Tampouco teve Deus necessidade de criar seres privilegiados, isentos de obrigações; todos, antigos e novos, adquiriram suas posições na luta e por mérito próprio; todos, enfim, são filhos de suas obras.
E, desse modo, completa-se com igualdade a soberana justiça do Criador.

Fonte: “O CÉU E O INFERNO” Allan Kardec




sábado, 16 de janeiro de 2016

"AS DIVERSAS REENCARNAÇÕES DE CHICO XAVIER".

No livro “Chico, Diálogos e Recordações”, o autor Carlos Alberto Braga realiza um trabalho sério e dedicado por quatro anos com Arnaldo Rocha, que teve quase 50 anos de convivência com Chico Xavier. Arnaldo revelou uma série de reencarnações de si mesmo e de “Nossa Alma Querida”, como se refere a Chico. Arnaldo Rocha foi o doutrinador de um grupo de desobsessão que Chico Xavier participava. O nome era “Grupo Coração Aberto”, onde muitas revelações sobre vidas passadas na história planetária foram reveladas.
O resultado do trabalho pode ser parcialmente visto nos livros “Instruções Psicofônicas” e “Vozes do Grande Além”. Dentre várias encarnações de Francisco Cândido Xavier, algumas já foram elucidadas:
Hatshepsut (Egito) (aproximadamente de 1490 AC a 1450 AC)
Era uma farani – feminino de faraó – que herdou o trono egípcio em função da morte do irmão. A regência dela foi muito importante para o Egito, já que suspendeu os processos bélicos e de expansão territorial. Trouxe ao povo um pensamento intrínseco e mais religioso. Viveu numa época em que surgiram as escritas nos papiros, o livro dos mortos. Hatshepsut foi muito respeitada e admirada pelo povo egípcio. Obesa e diabética, com câncer nos ossos, desencarnou em torno dos 40 anos, por causa de uma infecção generalizada. Hatshepsut foi a primeira faraó (mulher) da história. Governou o Egito sozinha por 22 anos, na época o Estado era um dos mais ricos.
Chams (Egito) (por volta de 800 AC)
Rainha do Egito durante o império babilônico de Cemirames. Vários amigos de Chico Xavier também estavam encarnados na época, como Camilo Chaves, o próprio Arnaldo Rocha e Emmanuel, que era sacerdote e professor de Chams.
Sacerdotisa (Delphos-Grécia) (cerca de 600 AC)
Não se tem registros de qual o nome Chico Xavier recebeu nesta encarnação. Ela se tornou sacerdotisa por causa do tio (Emmanuel reencarnado), que a encaminhou para a sacerdotisação.
Lucina (Roma-Itália) (aproximadamente 60 AC)
Lucina era casada com o general romano chamado Tito Livonio (Arnaldo Rocha reencarnado), nos tempos da revolução de Catilina. Nesta jornada, Lucina teve como pai Publius Cornelius Lentulus Sura, senador romano, avô de Publius Cornelius Lentulus (Emmanuel).
Flavia Cornélia (Roma-Itália) (de 26 DC a 79 DC)
Nesta encarnação, Chico Xavier era filha do senador romano Publius Cornelius Lentulus (Emmanuel). Arnaldo Rocha confidenciou que quando Chico se lembrava da reencarnação de Flavia sentia muitas dores, porque ela teve hanseníase. Também se percebia um forte odor que se exalava.
Lívia (Ciprus, Massilia, Lugdunm e Neapolis) (de 233 DC a 256 DC)Foi abandonada numa estrada e achada por um escravo, que trabalhava como afinador de instrumento, e tinha o nome de Basílio (Emmanuel reencarnado). Ele a adota e coloca o nome de Lívia – ler Ave Cristo. Nesta ocasião, Arnaldo Rocha era Taciano, um homem casado que tinha uma filha chamada Blandina (Meimei reencarnada). 
Certa vez, os três se encontraram e Taciano chegou a propor uma relação conjugal com Lívia, que era casada com Marcelo Volusian.
Quando a proposta foi feita, Lívia alertou que todos tinham um compromisso assumido, tanto Taciano com sua esposa, quanto ela com o seu marido.
Na oportunidade, Lívia disse: “Além de tudo, nós temos que dar exemplo a essa criança. Imagina ela ter uma referência de pais que abandonam esses compromissos.
Confiemos na providência divina porque nos encontraremos em Blandina num futuro distante”, numa clara alusão ao primeiro encontro entre Arnaldo Rocha e Chico Xavier, na Rua Santos Dumont, em Belo Horizonte, em 1946, quando o médium revelou as mensagens de Meimei do Plano Espiritual.
Clara (França) (por volta de 1150 DC)
Chico Xavier, quando esteve na França, foi nas ruínas dos Cátaros e se lembrou quando, em nome da 1ª Cruzada, toda uma cidade foi às chamas. Essa lembrança foi dolorosa para Chico. No século seguinte, a 2ª Cruzada foi coordenada por Godofredo de Buillon (Rômulo Joviano encarnado – patrão de Chico Xavier na Fazenda Modelo em Pedro Leopoldo), que tinha um irmão chamado Luis de Buillon (Arnaldo Rocha reencarnado), casado com Cecile (Meimei ou Blandina reencarnada). Godofredo e Luis tinham mais um irmão, com o nome de Carlos, casado com Clara (Chico Xavier, reencarnado).
Meimei, no livro “Meimei Vida e Mensagem”, de Wallace Leal Rodrigues, descreve todos esses nomes, sem falar das reencarnações, e se refere a Chico como quem tem o afeto das mães, numa clara citação das várias encarnações femininas que teve o médium: “… Meu afeto ao Carlos, Dorothy, Lucilla, Cleone e a todos os que se encontram mencionados em nossa história, sem me esquecer do Chico, a quem peço continue velando por nós com o afeto das mães, cuja ternura é o orvalho bendito, alertando-nos para viver, lutar e redimir” (mensagem psicofônica de Meimei pelo médium Chico Xavier, em 13 de agosto de 1950).
Lucrezja di Colonna (Itália) (Século XIII)
Nesta encarnação, Chico Xavier nasceu na família de Colonna, assim como Arnaldo Rocha, que era Pepino de Colonna, e Clóvis Tavares, na época Pierino de Colonna. Os três viveram na época de Francisco de Assis e tiveram contatos, encarnados, com este espírito iluminado.
Joanne D’Arencourt (Arras-França) (Século XVIII)
Joanne D’Arencourt fugiu da perseguição durante a Revolução Francesa sob a proteção de Camile Desmoulins (Luciano dos Anjos, reencarnado). Veio desencarnar tuberculosa em Barcelona em 1789.
Joana de Castela (Espanha) (1479 a 1556)
Joana de Castela era filha de reis católicos – Fernando de Aragão (Rômulo Joviano, encarnado) e Isabel de Castela. Casou-se com Felipe El Hermoso, neto de Maximiliano I, da Áustria, da família dos Habsburgos. O casamento foi político, mas apressado pelo grande amor que existia. Desde criança, Joana via espíritos e, por viver numa sociedade católica, era considerada como louca. Com a desencarnação dos pais de Joana, o marido Felipe e, o pai dele, Felipe I (Arnaldo Rocha reencarnado) disputavam o trono. 
Para evitar que Joana de Castela assumisse, acusaram ela de louca, porque via e falava com os espíritos. Depois que Felipe desencarnou, Joana foi enclausurada por 45 anos em Tordesilhas, na Espanha. A dor era muito grande, mas o que a consolava era o contato com os espíritos. A clausura tem muita relação com a vida de Chico Xavier. Foi uma espécie
de preparação para o que viria. Chico sempre foi muito popular, mas fazia questão de sair do foco para que a Doutrina Espírita fosse ressaltada.
Ruth Céline Japhet (Paris-França) Encarnação anterior à de Chico
Xavier (1837/1885)
Sua infância lembra os infortúnios de Chico Xavier, tal a luta que empreendeu pela saúde combalida. Era médium desde pequena, mas só por volta dos 12 anos começou a distinguir a realidade entre este mundo e o espiritual. Na infância, confundia os dois. Acamada por mais de dois anos, foi um magnetizador chamado Ricard quem constatou que ela era médium (sonâmbula, na designação da época), colocando-a em transe pela primeira vez. Filha de judeu, Ruth Céline Japhet contribuiu com Allan Kardec para trabalhar na revisão de “O Livro dos Espíritos” e do “Evangelho Segundo o Espiritismo”, durante as reuniões nas casas dos Srs. Roustan e Japhet. Isso pode explicar por que Chico sabia, desde pequeno, todo o Evangelho. Em palestra proferida em Niterói no dia 23 de abril, o médium Geraldo Lemos Neto citou este fato: “Desde quando ele tinha cinco anos de idade, Chico guardava integralmente na memória as páginas de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”. A história de Chico Xavier todos nós sabemos. Ele somente veio ter contato com a Doutrina Espírita aos 17 anos de idade”, finalizou.
Para contrariar o pressuposto de que Chico Xavier foi Allan Kardec, o próprio médium mineiro relatou a admiração pelo codificador em carta publicada no livro “Para Sempre Chico Xavier”, de Nena Galves: “Allan Kardec vive. Esta é uma afirmativa que eu quisera pronunciar com uma voz que no momento não tenho, mas com todo o meu coração repito: Deus engrandeça o nosso codificador, o codificador da nossa Doutrina. Que ele se sinta cada vez mais feliz em observar que as suas ideias e as suas lições permanecem acima do tempo, auxiliando-nos a viver. É o que eu pobremente posso dizer na saudação que Allan Kardec merece de todos nós.
Sei que cada um de nós, na intimidade doméstica, torná-lo á lembrado e cada vez mais honrado não só pelos espíritas do Brasil, mas de todo o mundo. Kardec vive”.

PUBLICADO NO JORNAL CORREIO ESPÍRITA EM JUNHO DE 2010

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

“AS CONDENAÇÕES BIBLICAS E O ESPIRITISMO”

Os nossos irmãos que se apegam ao texto bíblico, como a única norma para a vida e a morte sempre trazem engatilhada uma sentença condenatória para o Espírita, com a agravante de ser inapelável e eterna.
Citam, inclusive, passagens da Bíblia que, segundo eles, condenam o Espiritismo.
Em duas diferentes ocasiões tive a oportunidade de refutar estas investidas contra a Doutrina Espírita.
CASO 1
Confesso que sou um ignorante, sem as luzes das letras, mas não gosto de ser levado pelo cabresto, para aceitar isto ou aquilo.
Certo dia estive presente a um diálogo travado entre dois religiosos, indiscutivelmente profundos conhecedores da Bíblia, a qual designavam por Palavra de Deus. Eu ouvia e eles falavam. Dissertavam sobre o significado de várias passagens bíblicas, demorando-se sobre o pecado, as penas eternas, a salvação e sobre a criação artesanal do Universo, por um Deus que criara o homem "à Sua imagem e semelhança". Dando por minha insignificante presença, interpelaram-me.
- E você, já aceitou a Palavra de Deus? Já leu a Bíblia?
- Já, eu sou Espírita.
- E não se deu conta da condenação dos necromantes às penas eternas?
- Meus irmãos eu não compreendi certas coisas que li na Bíblia. Em Êxodo, cap. XX, vv. 13, a Tábua dos Mandamentos que Moisés acabava de trazer do Sinai, diz: "Não matarás" e, logo a seguir, no mesmo livro, no cap. XXVII está escrito: "Assim diz o Senhor, o Deus de Israel, cada um tomará a espada sobre o lado, passai e tomai a passar pelo arraial, de porta em porta, e mate a cada um a seu irmão, cada um a seu amigo e cada um a seu vizinho". Isso é justo? Manda não matar e logo a seguir manda passar ao fio da espada, irmãos, vizinhos e amigos?
Em l Reis, cap. XXII, vv. 19 a 23, encontramos o Senhor associando-se com espírito mentiroso para enganar o Acabe e, no vv. 23 está escrito que: "Eis que o Senhor pôs o espírito mentiroso na boca de todos estes teus profetas e o Senhor falou o que é mau contra ti."
Também nas Sagradas Palavras, encontrei no cap. II do Evangelista João, a narrativa de um Cristo espancando os que se aglutinavam no pátio do templo, vendendo pombas, enquanto desconhecia os gordos sacerdotes que o dirigiam, mesmo havendo o Mestre exortado à prática infinita do perdão.
Tudo isso e muitas outras coisas contraditórias que encontrei na Bíblia, me fazem preferir o Espiritismo, que nos ensina a confiar num Pai verdadeiramente amoroso, que não condena seus filhos ao fogo do Inferno e a nenhuma pena eterna e num Cristo manso, suave, amigo, que não espanca e não condena, mas que ensina e admoesta seus filhos à prática do bem. Por isso sou Espírita.
- Isso é uma demonstração de desconhecimento da Palavra de Deus, que só é revelada aos que creem. Creia, meu amigo e ela te será revelada.
- Crer para depois ter a revelação, é fé cega, irracional e imposta, eu prefiro receber a revelação, para então, depois de esclarecido, acreditar. Isso é fé racional, convicta, aceita, sem imposições, como ensina o Espiritismo.
E encerrou-se ali o diálogo.
CASO 2
De outra feita, um grupo de irmãos evangélicos deu-me a honra de sua presença em minha casa. Atendidos, pediram, educadamente para entrar.
- Nós sabemos que o senhor é espírita e gostaríamos de falar-lhe sobre o plano do Senhor para salvá-lo.
- Mas eu não estou perdido!
- Meu amigo, se o senhor não mudar a sua convicção religiosa, aceitando Cristo como seu Salvador, certamente perderá a sua alma.
- Onde você encontrou essa sentença? Questionei ao meu interlocutor.
- Na Bíblia, em Deuteronômio, cap. XVIII, vv. 11 e 12, o Senhor condena e ordena o lançamento fora, dos necromantes e feiticeiros, o que significa lançá-los nas chamas eternas do Inferno.
- Meus irmãos, respondi, se querem, realmente, obedecer ao mandamento bíblico, não basta a sentença de morte para os espíritas, é preciso que vocês passem a matar os necromantes e feiticeiros, corno está em Levítico, cap. XX, vv. 27, ou a cumprir o que ordena o Senhor em Êxodo cap. XXXV, vv. 2, matando os que trabalham no sábado, ou, ainda, lançando os nossos irmãos leprosos para fora das cidades, como é ordenado em Números, cap. V, vv. 1 a 4. Meus irmãos eu creio que Deus, o manancial infinito de amor e sabedoria, não se prestaria a cometer tantas maldades.
Um dos componentes do grupo, mulher inteligente e bem falante, observou que, não sendo eu agraciado com a revelação, não poderia interpretar o verdadeiro significado da Palavra de Deus.
- É verdade, respondi, eu não recebi nenhuma revelação, apenas li a Bíblia e, nela, também, no Novo Testamento eu encontrei em I Coríntios, cap. XlV, vv. 34 e 35, que a mulher deve permanecer calada e em seu lar, não lhe sendo permitido falar em público; entretanto, vejo, até com certo agrado, que a irmã não obedeceu às sentenças bíblicas, preferindo ser livre para poder propagar a sua fé. Por isso, meus irmãos, eu prefiro ser livre para pensar e escolher racionalmente a minha fé, como ensina, sem impor, a Doutrina Espírita.
Os irmãos evangélicos se foram, certamente levando consigo a certeza de que eu não teria salvação.
Revista Espírita Allan Kardec, nº 38.

Esse Capelli

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

“ELA NÃO MORREU POR SUA CULPA.”

Lia e Marcela eram enfermeiras e amigas de longa data. Trabalhavam juntas em uma unidade de pronto atendimento, como parte da equipe que integrava as ambulâncias. Muito próximas, ajudavam uma à outra não só quando havia a necessidade de troca de seus plantões, como também em questões pessoais. Quando a filha de Lia nasceu, além da avó, o maior apoio foi o da “tia” Marcela.
Certa ocasião, Lia soube que não poderia cumprir o plantão da semana seguinte porque teria que resolver um compromisso particular. Como de costume, recorreu a sua amiga Marcela, que prontamente procurou a administração para informar que estaria no lugar da colega.
Na quarta-feira, antes de Marcela ir para a unidade, Lia ligou para amiga para contar o quanto estava feliz. A filha tinha obtido boas notas na escola, o esposo estava tendo bons resultados no novo emprego e ela tinha conseguido pegar seu carro novo naquele mesmo dia. Com o tradicional afeto, encerrou a ligação, reforçando todo o agradecimento que tinha pelo constante apoio daquela irmã de coração.
Marcela chegou ao trabalho às dezoito horas, levando a alegria daquela conversa fraternal para com seus colegas e pacientes. Assim, mesmo com toda a movimentação do plantão, nem sentiu as horas passarem. Estava muito motivada naquele dia.
Por volta de dez da noite, no entanto, sentiu um breve calafrio ao receber um chamado para embarcar em uma das ambulâncias. Não entendeu o motivo daquela sensação, mas prosseguiu em direção ao local onde fora informado que uma jovem havia se acidentado com o carro.
Ao chegar ao local, não foi difícil perceber que a ocorrência tratava-se de uma tentativa de assalto seguida de morte. Não haveria muito que fazer. Mas os profissionais de saúde se aproximaram do carro para verificar os sinais vitais da moça.
Ao chegar mais perto, o chão sumiu aos pés da enfermeira. Era Lia, sua amiga. Marcela deu alguns passos para trás e quis negar a visão do ocorrido. Sua atitude profissional deu lugar a um extravasamento emocional inesperado. Não se conteve e teve que ser amparada pelos colegas. Como poderia imaginar que aquela troca de plantão resultaria naquilo? Dali por diante, remorso e lágrimas tomaram conta de Marcela.
Meses se passaram junto à dor e à sensação de ter sido culpada pela morte da amiga: “se eu não tivesse trocado o plantão, isto não teria acontecido”. A casa de Marcela envolveu-se em pura tristeza. Tudo para ela tinha dado lugar a uma sensação dolorosa de culpa.
Mas um dia, tentando mudar aquele cenário, o seu filho pré-adolescente, ao chegar da escola, abraça a mãe no sofá e diz com lágrimas nos olhos:
– “Mãe, volta a ser feliz com a gente. Ela não morreu por sua culpa.”.
Marcela se surpreende com a frase inesperada do filho. Diante daquelas lágrimas profundas, começou a rever o sentido de sua vida esboçando-lhe um doce sorriso.
Quantos casos reais, similares a este, já não foram contados em nossas vidas. É o tripulante da aeronave que embarca no lugar do colega e desencarna em um acidente aéreo; o carro que se empresta ao filho que, em seguida, falece em uma colisão; dentre tantos outros exemplos.
Em diversas situações como estas, aqueles que foram, indiretamente, partícipes do ocorrido, ao trocarem suas posições ou cederem seus bens materiais nos diversos cenários, costumam trazer para si uma imensa culpa, como se fossem responsáveis pelo desencarne do próximo. Alguns levam por anos este sentimento, atrapalhando, até mesmo, sua vida pessoal e profissional.
Neste contexto, a Doutrina Espírita nos traz o consolo de que todos nós, antes de encarnarmos, já temos uma programação realizada para a nossa vida. De uma maneira geral, escolhemos antes do berço as expiações e provas pelas quais passaremos. Logo, já temos uma programação a cumprir, como se fosse uma “espécie de destino” [1].
Isto não inibe, todavia, o nosso livre-arbítrio. No decorrer da caminhada podemos mudar nossos rumos, acelerando o nosso progresso ou atrasando a nossa evolução. Tudo depende de nossos propósitos junto ao bem, à neutralidade ou ao mal.
Aqueles que caminham conosco estão unidos por laços de outras encarnações, pautadas na afinidade ou débitos contraídos [2]. E não, necessariamente, são responsáveis pelos fatos que ocorrem em nossas vidas.
Desencarnações como a desta história de Lia podem fazer parte de um planejamento anterior, ou ainda do livre arbítrio delituoso de terceiros. Mas a culpa não se incide na troca realizada pela amiga. De uma forma ou de outra, “o instinto do destino” de Lia a levaria até o local onde os fatos poderiam ocorrer. Este “instinto”, em outras palavras, pode ser entendido pela impressão em foro íntimo que o espírito guarda das fases pelas quais passará em sua vida. Chegado o momento, esta impressão pode, muita das vezes, ser despertada, trazendo-nos aquela sensação que denominamos de pressentimento [1].
Não somos necessariamente culpados pelo desencarne de terceiros. Isto dependerá das circunstâncias. Mas somos responsáveis por amá-los em qualquer tempo. O amor espontâneo, sem exigências, sempre nos trará a sensação de conforto por tê-los amado enquanto estavam conosco. Logo, amemos quem está ao nosso lado e quem também já deixou as vestes físicas. E nunca deixemos de amar a nós mesmos, confiantes nos desígnios da Divina Providência.
Márcio Martins da Silva Costa


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

“VALEU A PENA”?

Você, que é um homem de negócios, e se diz bem sucedido, está feliz com a vida que leva?
Se você sabe dividir bem o seu tempo entre o trabalho e a família, entre as coisas da Terra e os valores espirituais, então você é alguém muito bem sucedido.
Todavia, se é daqueles que não trabalha para viver mas vive para trabalhar, chegará um dia em que você perguntará a si mesmo: Valeu a pena?
E chegará à conclusão de que não valeu a pena tanta correria, para ganhar dinheiro e não usufruir.
Vai ver que o tempo passou e o cansaço tomou conta do seu corpo.
Vai perceber que, mesmo rodeado de muita gente, você se sente só.
Um dia, você vai recolher-se no quarto e vai ter vontade de abraçar o travesseiro, porque não sobrou ninguém para abraçar.
Vai ver que foi entrando numa roda viva, que não é mais dono do tempo que dizem que é seu, e que não pode gastá-lo com qualquer um.
Vai ver que o carro já está se tornando um problema, e não um conforto, que o telefone perturba, que a gravata incomoda...
Perceberá que o seu patrimônio lhe exige tempo demais, e que acabou sendo possuído ao invés de possuir.
E, por mais que tente se livrar de tudo isso, é um escravo, embora invejado por muitos.
Vai ver que não valeu a pena passar vários anos sem férias, sem descanso.
Vai ver que não tem mais ilusões e a esperança anda com vontade de dormir...
Um dia você vai ver que passou pela vida e não viveu.
Frequentou o mundo sem saber porquê, rodou, rodou, e não saiu do lugar...
Pensou que foi, mas ficou.
Teve tudo e não sentiu nada.
Um dia, você verá que o tempo escoa tão rápido como areia fina por entre seus dedos.
E, quando chegar esse momento, você vai sentir vontade de voltar no tempo e gastar suas horas de forma diferente.
Vai querer sorrir, amar, estar com a família, misturar-se com as crianças e estender a mão ao próximo.
Vai desejar o abraço da esposa, sempre relegada a segundo plano.
Vai querer sentir a mão do seu filho acariciando lhe os cabelos...
Vai preferir uma pizza com a criançada em vez de um jantar de negócios. 
Vai desejar ser dono das horas, tirar férias, curtir tudo o que gosta...
Mas, se você deixar isto para pensar só um dia... que nunca chega, talvez você não tenha mais tempo...
Por essa razão, se você se permitiu alguns minutos para refletir sobre esta mensagem, não deixe para depois tudo o que você pode fazer agora.
Sorria, ame, curta a sua família, role no chão com seus filhos, abrace a esposa, beije sua velha mãe, diga a seu pai que o ama e gaste uma porção do seu tempo com os amigos...
Tire férias, faça um check-up, cuide da saúde, invista um pouco em você.
E aproveite para refletir sobre as coisas espirituais, já que você é um ser imortal, criado para a Eternidade...
Se você nunca sentiu o perfume de uma flor...
Jamais estendeu a mão a alguém necessitado de amparo...
Nunca observou o crepúsculo ou contemplou uma aurora...
Não tem tempo para dedicar aos familiares...
Não sai de férias há anos, para manter o serviço em dia...
Nunca emprestou um pouco do seu tempo a algum tipo de serviço social...
Então você já está morto, e ainda não percebeu.
Pense nisso, mas pense agora!
Redação do Momento Espírita


terça-feira, 12 de janeiro de 2016

"PEDRO O APOSTOLO."

25 de agosto de 1936
Enquanto a Capital dos mineiros, dirigida pelos seus elementos eclesiásticos, se prepara, esperando as grandes manifestações de fé do segundo Congresso Eucarístico Nacional, chegam os turistas elegantes e os peregrinos invisíveis. Também eu quis conhecer de perto as atividades religiosas dos conterrâneos de Augusto de Lima. 
Na Praça Raul Soares, espaçosa e ornamentada, vi o monumento dos congressistas, elevando-se em forma de altar, onde os atos religiosos serão celebrados. No topo, a custódia, rodeada de arcanjos petrificados, guardando o símbolo suave e branco da eucaristia, e, cá em baixo, nas linhas irregulares da terra, as acomodações largas e fartas, de onde o povo assistirá, comovido, às manifestações de Minas católica. 
Foi nesse ambiente que a figura de um homem trajado à israelita, lembrando alguns tipos que em Jerusalém se dirigem, freqüentemente, para o lugar sagrado das lamentações, aguçou a minha curiosidade incorrigível de jornalista. 
- Um judeu?! – exclamei, aguardando as novidades de uma entrevista. 
- Sim, fui judeu, há algumas centenas de anos – respondeu laconicamente o interpelado. 
Sua réplica exaltou a minha bisbilhotice e procurei atrair a atenção da singular personagem. 
- Vosso nome? – continuei. 
- Simão Pedro. 
- O Apóstolo? 
E a veneranda figura respondeu afirmativamente, colando ao peito os cabelos respeitáveis da barba encanecida. 
Surpreso e sedento da sua palavra, contemplei aquela figura hebraica, cheia de simplicidade e simpatia. Ao meu cérebro afluíam centenas de perguntas, sem que pudesse coordená-las devidamente. 
- Mestre – disse-lhe, por fim -, Vossa palavra tem para o mundo um valor inestimável. A cristandade nunca vos julgou acessível na face da Terra, acreditando que vos conserváveis no Céu, de cujas portas resplandecentes guardáveis a chave maravilhosa. Não teríeis algumas mensagens do Senhor para transmitir à Humanidade, neste momento angustioso que as criaturas estão vivendo? 
E o Apóstolo venerável, dentro da sua expressão resignada e humilde, começou a falar: - Ignoro a razão por que revestiram a minha figura, na Terra, de semelhantes honrarias. 
Como homem, não fui mais que um obscuro pescador da Galileia e, como discípulo do 
Divino Mestre, não tive a fé necessária nos momentos oportunos. O Senhor não poderia, 
portanto, conferir-me privilégios, quando amava todos os seus apóstolos com igual amor. 
- É conhecida, na história das origens do Cristianismo, a vossa desinteligência com Paulo de Tarso. Tudo isso é verdadeiro? 
- De alguma forma, tudo isso é verdade – declarou bondosamente o Apóstolo. – Mas, Paulo tinha razão. Sua palavra enérgica evitou que se criasse uma aristocracia injustificável, que, sem ele, teria que desenvolver-se fatalmente entre os amigos de Jesus, que se haviam retirado de Jerusalém para as regiões da Batanéia. 
- Nada desejais dizer ao mundo sobre a autenticidade dos Evangelhos? 
- Expressão autêntica da biografia e dos atos do Divino Mestre, não seria possível acrescentar qualquer coisa a esse livro sagrado. Muita iniquidade se tem verificado no mundo em nome do estatuto divino, quando todas as hipocrisias e injustiças estão nele sumariamente condenadas. 
- E no capítulo dos milagres? 
- Não é propriamente milagre o que caracterizou as ações práticas do Senhor. Todos os seus 
atos foram resultantes do seu imenso poder espiritual. Todas as obras a que se referem os 
Evangelistas são profundamente verdadeiras. 
E, como quem retrocede no tempo, o Apóstolo monologou: 
- Em Carfanaum, perto de Genesaré, e em Betsaida, muitas vezes acompanhei o Senhor nas suas abençoadas peregrinações. Na Samaria, ao lado de Cesareia de Felipe, vi suas mãos carinhosas dar vistas aos cegos e consolação aos desesperados. Aquele sol claro e ardente da Galileia ainda hoje ilumina toda a minha alma e, tantos séculos depois de minhas lutas no mundo, ao lado de alguns companheiros procuro reivindicar para os homens a vida perfeita do Cristianismo, com o advento do Reino de Deus, que Jesus desejou fundar, com o seu exemplo, em cada coração... 
- Os filósofos terrenos são quase unânimes em afirmar que o Cristo não conhecia a evolução da ciência grega, naquela época, e que as suas parábolas fazem supor a sua ignorância acerca da organização política do Império Romano: seus apóstolos falam de reis e príncipes que não poderiam ter existido. 
- A ação do Cristo – retrucou o Apóstolo – vai mais além que todas as atividades e investigações das filosofias humanas. Cada século que passa imprime um brilho novo à sua figura e um novo fulgor ao seu ensinamento. Ele não foi alheio aos trabalhos do pensamento dos seus contemporâneos. Naquele tempo, as teorias de Lucrécio, expandidas alguns anos antes da obra do Senhor, e as lições de Filon em Alexandria, eram muito inferiores às verdades celestes que Ele vinha trazer à Humanidade atormentada e sofredora... E, quando a figura venerada de Simão parecia prestes a prosseguir na sua jornada, inquiri, abruptamente: 
- Qual o vosso objetivo, atualmente, no Brasil? 
- Venho visitar a obra do Evangelho aqui instituída por Ismael, filho de Abraão e de Agar, e dirigida dos espaços por abnegados apóstolos da fraternidade cristã. 
- E estais igualmente associado às festas do segundo Congresso Eucarístico Nacional? – 
perguntei. 
Mas, o bondoso Apóstolo expressou uma atitude de profunda incompreensão, ao ouvir as minhas derradeiras palavras. 
Foi quando, então, lhe mostrei o rico monumento festivo, as igrejas enfeitadas de ouro, os movimentos de recepção aos prelados, exclamando ele, afinal: 
- Não, meu filho!... Esperam-me longe destas ostentações mentirosas os humildes e os desconsolados. O Reino de Deus ainda é a promessa para todos os pobres e para todos os aflitos da Terra. A Igreja romana, cujo chefe se diz possuidor de um trono que me pertence, está condenada no próprio Evangelho, com todas as suas grandezas bem tristes e bem miseráveis. A cadeira de São Pedro é para mim uma ironia muito amarga... Nestes templos faustosos não há lugares para Jesus, nem para os seus continuadores... 
- E que sugeris, Mestre, para esclarecer a verdade? 
Mas, nesse momento, o Apóstolo venerando enviou-me um gesto compassivo e piedoso, continuando o seu caminho, depois de amarrar, resignadamente, o cordão das sandálias.

Da obra: Crônicas de Além Túmulo. Ditado pelo Espírito Humberto de
Campos, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier.
Recebida em Pedro Leopoldo a 19 de abril de 1935.

𝗖𝗢𝗠𝗢 𝗢𝗦 𝗥𝗘𝗟𝗔𝗖𝗜𝗢𝗡𝗔𝗠𝗘𝗡𝗧𝗢𝗦 𝗙𝗜𝗖𝗔𝗠 𝗔𝗧𝗥𝗘𝗟𝗔𝗗𝗢𝗦 𝗡𝗔𝗦 𝗥𝗘𝗘𝗡𝗖𝗔𝗥𝗡𝗔𝗖̧𝗢̃𝗘𝗦.

Os ajustes dos relacionamentos problemáticos de outras existências. Pelas reencarnações os espíritos têm a oportunidade de reestabelecer os ...