No sagrado
mistério da vida, cada coração possui no Infinito a alma gêmea da sua,
companheira divina para a viagem à gloriosa imortalidade.
Criadas umas
para as outras, as almas gêmeas se buscam, sempre que separadas. A união perene
é-lhes a aspiração suprema e indefinível. Milhares de seres, se transviados no
crime ou na inconsciência, experimentaram a separação das almas que os
sustentam, como a provação mais ríspida e dolorosa, e, no drama das existências
mais obscuras, vemos sempre a atração eterna das almas que se amam mais
intimamente, envolvendo umas para as outras num turbilhão de ansiedades
angustiosas; atração que é superior a todas as expressões convencionais da vida
terrestre. Quando se encontram no acervo real para os seus corações – a da
ventura de sua união pela qual não trocariam todos os impérios do mundo, e a
única amargura que lhes empana a alegria é a perspectiva de uma nova separação
pela morte, perspectiva essa que a luz da Nova Revelação veio dissipar,
descerrando para todos os espíritos, amantes do bem e da verdade, os horizontes
eternos da vida.
A atração
das almas gêmeas é traço característico de todos os planos de luta na Terra?
O Universo é
o plano infinito que o pensamento divino povoou de ilimitadas e intraduzíveis
belezas. Para todos nós, o primeiro instante da criação do ser está mergulhado
num suave mistério, assim como também a atração profunda e inexplicável que
arrasta uma alma para outra, no instituto dos trabalhos, das experiências e das
provas, no caminho infinito do Tempo.
A ligação
das almas gêmeas repousa, para o nosso conhecimento relativo, nos desígnios
divinos, insondáveis na sua sagrada origem, constituindo a fonte vital do
interesse das criaturas para as edificações da vida. Separadas ou unidas nas
experiências do mundo, as almas irmãs caminham, ansiosas, pela união e pela
harmonia supremas, até que se integrem, no plano espiritual, onde se reúnem
para sempre na mais sublime expressão de amor divino, finalidades profundas de
todas as cogitações do ser, no Dédalo do destino.
A união das
almas gêmeas pode constituir restrição ao amor universal?
O amor das
almas gêmeas não pode efetuar semelhante restrição, porquanto, atingida a
culminância evolutiva, todas as expressões afetivas se irmanam na conquista do
amor divino. O amor das almas gêmeas, em suma, é aquele que o Espírito, um dia,
sentirá pela Humanidade inteira.
Perante a
teoria das almas gêmeas, como esclarecer a situação dos viúvos que procuram,
novas uniões matrimoniais, alegando a felicidade encontrada no lar primitivo?
Não devemos
esquecer que a Terra ainda é uma escola de lutas regeneradoras ou expiatórias,
onde o homem pode consorciar-se várias vezes, sem que a sua união matrimonial
se efetue com a alma gêmea da sua, muitas vezes distante da esfera material.
A criatura
transviada, até que se espiritualize para a compreensão desses laços sublimes,
está submetida, no mapa de suas provações, a tais experiências, por vezes
pesadas e dolorosas. A situação de inquietude e subversão de valores na alma
humana justifica essa provação terrestre, caracterizada pela distância dos
Espíritos amados, que se encontram num plano de compreensão superior, os quais,
longe de desdenharem as boas experiências dos companheiros de seus afetos,
buscam facultar-lhes com a máxima dedicação, de modo a facilitar o seu avanço
direto às mais elevadas conquistas espirituais.
Os Espíritos
evoluídos, pelo fato de deixarem algum amado na Terra, ficam ligados ao planeta
pelos laços da saudade?
Os espíritos
superiores não ficam propriamente ligados ao orbe terreno, mas não perdem o
interesse afetivo pelos seres amados que deixaram no mundo, pelos quais
trabalham com ardor, impulsionando-os na estrada das lutas redentoras, em busca
das culminâncias da perfeição.
A saudade,
nessas almas santificadas e puras, é muito mais sublime e mais forte, por
nascer de uma sensibilidade superior, salientando-se que, convertida num
interesse divino, opera as grandes abnegações do Céu, que seguem os passos
vacilantes do Espírito encarnado, através de sua peregrinação expiatória ou
redentora na face da Terra.
Somente pela
prece a alma encarnada pode auxiliar um Espírito bem-amado que a antecedeu na
jornada do túmulo?
A oração
coopera eficazmente em favor do que partiu, muitas vezes com o espírito
emaranhado na rede das ilusões da existência material. Todavia, o coração amigo
que ficou aí no mundo, pela vibração silenciosa e pelo desejo perseverante de
ser útil ao companheiro que o precedeu na sepultura, para os movimentos da
vida, nos momentos de repouso do corpo, em que a alma evoluída pode gozar de
relativa liberdade, pode encontrar o Espírito sofredor ou errante do amigo
desencarnado, despertar-lhe à vontade no cumprimento do dever, bem como
orienta-lo sobre a sua realidade nova, sem que a sua memória corporal registre
o acontecimento na vigília comum. Daí nasce à afirmativa de que somente o amor
pode atravessar o abismo da morte.
Emmanuel (“O
Consolador” – 322 a 330 - Chico Xavier)