Enquanto as penosas transições do século XX se anunciam ao tinido
sinistro das armas, as forças espirituais se reúnem para as grandes
reconstruções do porvir.
Aproxima-se o momento em que se efetuará a aferição de todos os
valores terrestres para o ressurgimento das energias criadoras de um
mundo novo, e natural é que recordemos o ascendente místico de todas as civilizações que surgiram e desapareceram, evocando os grandes
períodos evolutivos da Humanidade, com as suas misérias e com os seus
esplendores, para afirmar as realidades espirituais acima de todos os fenômenos transitórios da matéria.
Esse esforço de síntese será o da fé reclamando a sua posição em face da ciência dos homens, e ante as religiões da separatividade, como a bússola da verdadeira sabedoria.
Diante dos nossos olhos de espírito passam os fantasmas das civilizações mortas, como se permanecêssemos diante de um "écran" maravilhoso. As almas mudam a indumentária carnal, no curso incessante dos séculos; constróem o edifício milenário da evolução humana com as suas lágrimas e sofrimentos, e até nossos ouvidos chegam os ecos dolorosos de suas aflições.
Passam as primeiras organizações do homem e passam as suas grandes cidades, transformadas em ossuários silenciosos.
O tempo, como patrimônio divino do espírito, renova as inquietações e angústias de cada século, no sentido de aclarar o caminho das experiências humanas. Passam as raças e as gerações, as línguas e os povos, os países e as fronteiras, as ciências e as religiões.
Um sopro divino faz movimentar todas as coisas nesse torvelinho maravilhoso.
Estabelece-se, então, a ordem equilibrando todos os fenômenos e movimentos do edifício planetário, vitalizando os laços eternos que reúnem a sua grande família.
Vê-se, então, o fio inquebrantável que sustenta os séculos das experiências terrestres, reunindo-as, harmoniosamente, umas às outras, a fim de que constituam o tesouro imortal da alma humana em sua gloriosa ascensão para o Infinito.
As raças são substituídas pelas almas e as gerações constituem fases do seu aprendizado e aproveitamento; as línguas são formas de expressão, caminhando para a expressão única da fraternidade e do amor, e os povos são os membros dispersos de uma grande família trabalhando para o estabelecimento definitivo de sua comunidade universal.
Seus filhos mais eminentes, no plano dos valores espirituais, são agraciados pela Justiça Suprema, que legisla no Alto para todos os mundos do Universo, e podem visitar as outras pátrias siderais, regressando ao orbe, no esforço abençoado de missões regeneradoras dentro das igrejas e das academias terrenas.
Na tela mágica dos nossos estudos, destacam-se esses missionários que o mundo muitas vezes crucificou na incompreensão das almas vulgares, mas, em tudo e sobre todos, irradia-se a luz desse fio de espiritualidade que diviniza a matéria, encadeando o trabalho das civilizações, e, mais acima, ofuscando o "écran" das nossas observações e dos nossos estudos, vemos a fonte de extraordinária luz, de onde parte o primeiro ponto geométrico desse fio de vida e de harmonia, que equilibra e satura toda a Terra numa apoteose de movimento e divinas claridades.
Nossos pobres olhos não podem divisar particularidades nesse deslumbramento, mas sabemos que o fio da luz e da vida está nas suas sãos. É Ele quem sustenta todos os elementos ativos e passivos da existência planetária. No seu coração augusto e misericordioso está o Verbo do princípio. Um sopro de sua vontade pode renovar todas as coisas, e um gesto seu pode transformar a fisionomia de todos os horizontes terrestres.
Passaram as gerações de todos os tempos, com as suas inquietações e angústias. As guerras ensangüentaram o roteiro dos povos nas suas peregrinações incessantes para o conhecimento superior.
Caíram os tronos dos reis e esfacelaram-se coroas milenárias. Os príncipes do mundo voltaram ao teatro de sua vaidade orgulhosa, no indumento humilde dos escravos, e, em vão, os ditadores conclamaram, e conclamam ainda, os povos da Terra para o morticínio e para a destruição.
O determinismo do amor e do bem é a lei de todo o Universo e a alma humana emerge de todas as catástrofes em busca de uma vida melhor.
Só Jesus não passou, na caminhada dolorosa das raças, objetivando a dilaceração de todas as fronteiras para o amplexo universal.
Ele é a Luz do Principio e nas suas mãos misericordiosas repousam os destinos do mundo. Seu coração magnânimo é a fonte da vida para toda a Humanidade terrestre. Sua mensagem de amor, no Evangelho, é a eterna palavra da ressurreição e da justiça, da fraternidade e da misericórdia.
Todas as coisas humanas passaram, todas as coisas humanas se modificarão. Ele, porém, é a Luz de todas as vidas terrestres, inacessível ao tempo e à destruição.
Enquanto falamos da missão do século XX, contemplando os ditadores da atualidade, que se arvoram em verdugos das multidões, cumpre-nos voltar os olhos súplices para a infinita misericórdia do Senhor, implorando-lhe paz e amor para todos os corações.
Mensagem tirada do livro:’Caminhos da Luz” Chico Xavier. Pelo Espírito:
“Emmanuel”
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