quarta-feira, 22 de agosto de 2012

"A BORBOLETA"


Ninguém passa pelo mundo sem um encontro com o sofrimento. A função deste incômodo companheiro é desgastar o corpo para abrilhantar a alma. O corpo é como uma lagarta que se arrasta pelo pântano em busca de detritos.
A borboleta é a alma que busca o céu, pois tem sede de perfume e de liberdade. O sofrimento envolve o corpo com pesado manto de aflição deixando a alma aprisionada em um casulo.
No casulo opera-se a transformação do corpo, que perde camadas inúteis fazendo surgir uma pele brilhante e macia. Utilizando a resignação a alma vai construindo asas para que possa elevar-se aos planos sublimes.
E espera que o tempo opere o milagre da transformação. A vida do espírito é parecida com a vida da lagarta. Partindo da simplicidade e da ignorância, quase sempre com a ajuda do sofrimento, chega ao céu com suas próprias asas
Da alimentação grosseira chega ao néctar; do corpo feio atinge a beleza; da limitação do rastejo alcança o vôo livre. Temos a escolha de apressar ou não a nossa metamorfose.
Voar ou rastejar é uma decisão de cada um. Pisar na lama ou pousar em flores é uma decisão pessoal e intransferível, pois na estrada evolutiva cada um escolhe seu leito.
A vida é feita de escolhas; para ganhar algo perdemos alguma coisa. A sabedoria está em perder sempre aquilo que nos prende. A vida é uma batalha no casulo da eternidade.
A cada existência ficamos mais leves, pois a capa da lagarta vai se transformando nas escamas da borboleta. De repente não mais nos arrastaremos. Nossa leveza será surpreendida pelo vento que nos impulsionará para cima. E quais borboletas, teremos nosso encontro definitivo com Deus.
Luiz Gonzaga Pinheiro.

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