A Humanidade progride, por meio
dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. Quando estes
preponderam pelo número, tomam a dianteira e arrastam os outros.
De tempos a tempos, surgem no seio dela homens
de gênio que lhe dão um
impulso; vêm depois, como instrumentos de Deus, os que têm autoridade
e, nalguns anos, fazem-na adiantar-se de muitos séculos.
O progresso dos povos também realça a justiça da
reencarnação. Louváveis esforços empregam os homens de bem para conseguir que
uma nação se adiante, moral e intelectualmente. Transformada, a nação será mais
ditosa neste mundo e no outro,concebe-se. Mas, durante a sua marcha lenta através dos
séculos,milhares de indivíduos morrem todos os dias.
Qual a sorte de todos os que sucumbem ao longo do trajeto?
Privá-los-á, a sua relativa inferioridade, da felicidade reservada aos que
chegam por último?
Também relativa será a felicidade que lhes cabe?
Não é possível que a justiça divina haja consagrado
semelhante injustiça.
Com a pluralidade das existências, é igual para todos o
direito à felicidade, porque ninguém fica privado do progresso. Podendo, os que
viveram ao tempo da barbaria, voltar, na época da civilização, a viver no seio do mesmo povo, ou de outro, é
claro que todos tiram proveito da marcha ascensional.
Outra dificuldade, no entanto, apresenta aqui o sistema da unicidade das existências. Segundo este sistema, a alma é
criada no momento em que nasce o ser humano. Então, se um homem é mais adiantado do que outro, é que Deus criou para ele uma alma mais adiantada. Por que esse favor? Que merecimento tem
esse homem, que não viveu mais do que outro, que talvez haja vivido menos, para ser dotado de uma alma superior? Esta,
porém, não é a dificuldade principal. Se os homens vivessem um milênio, conceber-se-ia que, nesse período milenar, tivessem
tempo de progredir. Mas, diariamente morrem criaturas em todas as
idades; incessantemente se renovam na face do planeta, de
tal sorte que todos os dias aparece uma multidão delas e outra
desaparece. Ao cabo de mil anos, já não há naquela nação vestígio de seus antigos habitantes. Contudo, de bárbara, que era, ela
se tornou policiada. Que foi o que progrediu? Foram os
indivíduos
outrora bárbaros? Mas, esses morreram há muito tempo. Teriam sido os recém-chegados? Mas, se suas almas foram criadas no momento em que eles nasceram, essas almas não existiam na época da barbaria e forçoso será então admitir-se que os
esforços que se despendem para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar almas imperfeitas, porém de fazer que Deus crie
almas mais perfeitas.
Comparemos esta teoria do progresso com a que os Espíritos
apresentaram. As almas vindas no tempo da civilização tiveram sua infância,
como todas as outras, mas já tinham
vivido antes e vêm adiantadas por efeito do progresso realizado
anteriormente. Vêm atraídas por um meio que lhes é simpático e que
se acha em relação com o estado em que atualmente se
encontram. De sorte que, os cuidados dispensados à civilização de um povo não têm como conseqüência fazer que, de futuro, se
criem almas mais perfeitas; têm, sim, o de atrair as que já
progrediram, quer tenham vivido no seio do povo que se figura, ao tempo
da
sua barbaria, quer venham de outra parte.
Aqui se nos depara igualmente a chave do progresso da Humanidade inteira.
Quando todos os povos estiverem no mesmo nível, no tocante ao sentimento do
bem, a Terra será ponto de reunião exclusivamente de bons Espíritos, que viverão fraternalmente unidos. Os maus,
sentindo-se aí repelidos e deslocados, irão procurar, em mundos inferiores, o meio que lhes convém, até que sejam dignos de
volver ao nosso, então transformado.
Da teoria vulgar ainda resulta que os trabalhos de melhoria social só às gerações presentes
e
futuras aproveitam, sendo de resultados nulos para as
gerações passadas, que cometeram o erro de vir muito cedo e que ficam sendo o que podem ser, sobrecarregadas com o peso de seus
atos
de barbaria. Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos
ulteriores aproveitam igualmente às gerações pretéritas, que voltam a viver em
melhores condições e podem assim aperfeiçoar-se
no foco da civilização.
Fonte: ‘O LIVRO DOS ESPÍRITOS”
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