A luz da razão iluminou e fortaleceu a fé
combalida pelo dogmatismo com sua tacanhice de outrora, a fé caduca molestada
pela ciência, com seu materialismo reducionista, foi reerguida pela ciência
espírita. Ante o espiritualismo velho com suas frioleiras surge a Doutrina
Espírita com sua lógica irretorquível; a razão espírita transforma-se em fé
raciocinada.
Com o método positivo Kardec mostra a
força da razão e nas Obras da Codificação, através de “O Livro dos Espíritos”
na pág. 47, prenuncia a exobiologia:
“A razão nos diz que entre o homem e Deus
outros elos necessariamente haverá, como disse os astrônomos que, entre os
mundos conhecidos, outros haveria, desconhecidos. Que filosofia já preencheu
essa lacuna?”
Os Espíritos que viviam sobre a névoa do
sobre naturalismo, devido a fé cega, são também iluminados pela razão no virar
da página:
“A razão diz que um efeito inteligente há
de ter como causa uma força inteligente e os fatos hão provado que essa força é
capaz de entrar em comunicação com os homens por meio de sinais materiais.”
Ao ateísmo que grassava na época, Kardec
secundado pelos Espíritos superiores, propõe na questão 4:
“Onde se pode encontrar a prova da
existência de Deus?”
A resposta chega de forma simples e
objetiva, com a profundidade característica dos Espíritos superiores:
“Num axioma que aplicais às vossas
ciências. Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do
homem e a vossa razão responderá.”
No séc. XVII, Blaise Pascal (1623-1662),
matemático, físico , filósofo e escritor francês, dizia: “Duvidar de Deus é
crer em sua existência.”
Ao panteísmo com sua dialética
anfibológica o Espiritismo propõe mais uma vez a razão como fé:
“Pretendem os que professam esta doutrina
achar nela a demonstração de alguns dos atributos de Deus: Sendo infinitos os
mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não havendo o vazio, ou o nada em
parte alguma, Deus está por toda parte; estando Deus em toda parte, pois que
tudo é parte integrante de Deus, ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma
razão de ser inteligente. Que se pode opor a este raciocínio?
- A razão. Refleti maduramente e não vos
será difícil reconhecer-lhe o absurdo.”
Ora, não é com filosofismos ou com
sofismas que chegaremos a verdade. Chega de filosofices!
Kardec comentando a questão 37, esclarece:
“Diz-nos a razão não ser possível que o
Universo se tenha feito a si mesmo e que, não podendo também ser obra do acaso,
há de ser obra de Deus.”
A conclusão semelhante chegou o genial
físico alemão Albert Einstein (1879-1955), quando responde a seus opositores,
partidários do acaso: “Deus não joga dados!” Diante da dialética maquiavélica
insistente replica: “Deus pode ser perspicaz, mas não é malicioso.”
Allan Kardec e Albert Einstein unidos pela
razão na fé descobrem Deus.
A fé espírita por não ser cega, caminha
com segurança de mãos dadas com o progresso. Kardec deixa claro isso, quando na
pág. 196 de “O Livro dos Médiuns”, conclui:
“Se a nossa fé se fortalece de dia para
dia, é porque compreendemos.”
Kardec comentando a questão 717, com o
bom-senso característico de sempre proclama:
“Tudo é relativo, cabendo à razão regrar
as coisas.”
Essa frase cairia como uma luva na pena de
Albert Einstein!
O experimentalismo espírita ou mediunismo,
sem dúvida, é um dos elementos importantes para os investigadores na busca por
informações do mundo espírita, mas, isso não é tudo. Espiritismo não é
mediunismo, é uma doutrina filosófica com base científica e conseqüências
religiosas profundas, daí o Codificador espírita advertir, na pág. 484:
“Falsíssima idéia formaria do Espiritismo
quem julgasse que a sua força lhe vem da prática das manifestações materiais e
que, portanto, obstando-se a tais manifestações, se lhe terá minado a base. Sua
força está na sua filosofia, no apelo que dirige à razão, ao bom-senso.”
Na conclusão de “O Livro dos Espíritos,
Kardec sintetiza o assunto em questão em uma curta frase, na pág. 493:
“O argumento supremo deve ser a razão.”
Ao iniciar “O Evangelho segundo o
Espiritismo” no primeiro capítulo, no subtítulo “Aliança as Ciência e da
religião”, Kardec faz a grande revolução do século XIX, fundindo a razão e a
fé, na 58:
“A Ciência e a Religião não puderam, até
hoje, entender-se, porque, encarando cada uma as coisas do seu ponto de vista exclusivo,
reciprocamente se repeliam. Faltava com que encher o vazio que as separava, um
traço de união que as aproximasse. Esse traço de união está no conhecimento das
leis que regem o Universo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo, leis
tão imutáveis quanto as que regem o movimento dos astros e a existência dos
seres. Uma vez comprovadas pela experiência essas relações, nova luz se fez: a
fé dirigiu-se à razão; esta nada encontrou de ilógico na fé: vencido foi o
materialismo.”
No passado a fé e a razão foram espadas
afiadas nas mãos de teológos (padres) e sábios (filósofos e cientistas). A fé
cega motivada pelos teólogos e padres alimentou a credulidade, e a razão cética
motivada pelos pelos filósofos e cientistas, alimentou a incredulidade.
Na pág. 302 do livro em questão Kardec mostra as distâncias entre ver e
compreender:
“A fé necessita de uma base, base que é a
inteligência perfeita daquilo em que se deve crer. E, para crer, não basta ver;
é preciso, sobretudo, compreender.”
A fé que tem base no ver é a fé de São
Tomé, é “ver para crer” e bem sabemos que essa fé não é suficiente para
converter, os ícones do materialismo extremado. Só a fé do saber dá as bases
seguras para compreensão e aceitação.
Por isso Kardec no virar da página
adverte:
“Fé inabalável só o é a que pode encarar
de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.”
No livro “A Gênese” Kardec reforça as
bases científicas doutrinárias, página 88:
“A fé ortodoxa se sobressaltou, porque
julgou que lhe tiravam a pedra fundamental. Mas, com quem havia de estar a
razão: com a Ciência, que caminhava prudente e progressivamente pelos terrenos
sólidos dos algarismos e da observação, sem nada afirmar antes de ter em mãos
as provas, ou com uma narrativa escrita quando faltavam absolutamente os meios
de observação? No fim de contas, quem há de levar a melhor: aquele que diz 2 e
2 fazem 5 e se nega a verificar, ou aquele que diz que 2 e 2 fazem 4 e o
prova?”
E para fechar com chave de ouro essa
questão, no livro “Obras Póstumas” na página 220, Kardec que foi um ilustre
pensador do séc. XIX, declara convicto:
“Proscrevendo a fé cega (o Espiritismo),
quer ser compreendido. Para ele, absolutamente não há mistérios, mas uma fé
racional, que se baseia em fatos e que deseja a luz. Não repudia nenhuma
descoberta da Ciência, dado que a Ciência é a coletânea das leis da Natureza e
que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Ciência fora repudiar a obra de
Deus.”
Bernardino da Silva Moreira
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