Os dias atuais, caracterizados pelos conflitos psicológicos, em
face do tumulto que domina o pensamento da sociedade e as ambições de cada
indivíduo, exigem profundas reflexões, a fim de que a harmonia permaneça nos
sentimentos humanos e na conduta pessoal em relação a si mesmo.
As admiráveis conquistas da Psicologia profunda, contribuindo para
a solução dos muitos distúrbios que se apresentam perturbadores, convidam à
meditação em torno da realidade que se é, para que sejam superados os
condicionamentos em que se encontra, de forma a situar-se com equilíbrio ante
os desafios e as injunções, não raro, penosos, que se apresentam em toda parte
exigindo decisões inadiáveis.
Atordoando-se ante o volume das atividades que defronta, o indivíduo
percebe-se dês-equipado de valores que lhe facultem uma boa administração das
injunções em que se encontra, não sabendo o rumo que deve seguir.
Convidado, porém, à auto-reflexão, à auto-conscientização mediante
as quais poderá descobrir a sua realidade essencial, recusa-se por automatismo,
receando penetrar-se em profundidade, em razão do atavismo castrador a que se
submete.
A sombra que o condiciona ao aceito e determinado ameaça-o de
sofrimento, caso busque iluminar o seu lado escuro, permitindo-lhe a
auto-identificação que se encarregará de libertá-lo das aflições e conflitos de
comportamento, que são heranças ancestrais nele prevalecentes.
Vitimado pelo jogo das paixões sensoriais, anula a própria alma
que discerne, e procura não se deixar vencer pelos desejos infrenes que o
arrastam ao jogo ilusório do prazer desmedido.
Apresentando-se incapaz, no entanto, de lutar pela libertação
interior, permite-se arrastar mais facilmente pelo tumulto dos jogos da
sensualidade, naufragando nas aspirações de enobrecimento e de cultura, de
beleza e de espiritualidade, temendo perder a oportunidade que a todos é
oferecida de desfrutar as facilidades e permissões morais que constituem a
ordem do dia.
A estrutura psicológica do ser humano é trabalhada por mecanismos
muito delicados, sofrendo os golpes violentos da ignorância, do prazer
brutalizado, dos vícios inveterados. Não suportando a alta carga de tensões que
esses impositivos lhe exigem, libera conflitos e temores primitivos que estão
adormecidos, desequilibrando as emoções, cujos equipamentos sutis geram
distonias e depressões.
O desvario do sexo, que se tornou objeto de mercado, transformando
homens e mulheres em coisas de fácil aquisição, é também instrumento de
projeção social, de conquista econômica, de exaltação do ego, despertando nas
mentes imaturas psicologicamente ânsias mal-contidas de desejos absurdos, nele
centralizando todas as aspirações, por considerá-lo indispensável ao triunfo no
círculo em que se movimenta.
Incompleto, por não saber integrar os seus conteúdos psicológicos
da anima à sua masculinidade e do animus à sua feminilidade, conseguindo a
realização da obra-prima que lhe deve constituir meta, o ser humano deixa-se
arrastar pelas imposições de um em detrimento do outro, afligindo-se sem saber
por qual motivo.
Procura, então, agônico e insatisfeito, recuperação na variedade
dos prazeres, identificando-se mais confuso, a um passo de transtorno sempre
mais grave, qual ocorre a todo instante no organismo social e nos
relacionamentos inter-pessoais.
A sombra governa-o, e ele se recusa à luz da libertação.
O Apóstolo Paulo afirmou: Não faço o bem que quero, mas o mal que
não quero, esse eu faço. (Romanos, 7-19.)
Nesse auto-reconhecimento, o nobre servidor do Evangelho de Jesus
denunciava a existência do seu lado escuro, impulsionando-o a atitudes que
reprovava e não conseguia impedir-se de praticar. Mediante, porém, esforço
perseverante e auto-conscientização da própria fragilidade psicológica, o
arauto da Era Nova conseguiu atingir a culminância do seu apostolado, quando
proclamou: (...) E vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim... (Gálatas,
2:20.)
Somente através da coragem para encontrar a consciência mediante
uma análise tranqüila das possibilidades de que dispõe é que a criatura humana
logrará liberar-se da situação conflitiva que a domina, facultando-se
selecionar os valores reais daqueles ilusórios aos quais se atribui
significados, mas que sempre deixam frustração e vazio existencial.
A experiência física tem objetivos bem delineados que se
apresentam acima da vacuidade dos interesses imediatistas que dominam na
moderna sociedade consumista. Esse seu consumismo exterior resulta dos obscuros
conflitos internos que projetam para fora e para outrem sua imagem de
inquietação, transferindo-a do eu profundo, como necessidade de agitação para
fugir de si mesmo.
Sucede que, nessa ansiosa projeção, o ser se torna consumido pelos
demais, e por sua vez, destituído dos sentimentos profundos de amor, procura
consumir os outros, utilizando dos seus recursos e qualidades reais ou
imaginárias para saciar a sede de prazer em que se aturde, e seguir adiante.
Não saciado, porque essas experiências somente mais afligem, surge
a necessidade das extravagâncias, pelas libações alcoólicas, pelo uso de
substâncias químicas alucinantes, pelas aberrações sexuais intituladas de
variedades para o prazer, pela agressividade, pela violência, ou pela queda nos
abismos da depressão, da loucura, do suicídio...
A única alternativa disponível, portanto, para o ser humano de hoje,
qual ocorreu com o de ontem, é o mergulho interior, a auto-descoberta, a
conscientização da sua realidade de Espírito imortal em viagem transitória pelo
corpo, a fim de adquirir novas realizações, reparando males anteriores e
conseguindo harmonia íntima, para que possa desfrutar de todas as concessões
que se lhe encontram à disposição, premiando-o pelo esforço de auto-conquista e
auto-libertação.
Naturalmente que, ao ser ativado o mecanismo de identificação do
ser real, o hábito da fuga dos compromissos superiores induz à projeção, para
poupar-se à dor, o que constitui um grande erro, porquanto o sofrimento se
tornará ainda mais penoso.
É óbvio que somente a claridade vence as sombras, e a
auto-conscientização é o foco de luz direcionado à escuridão que predomina no
comportamento psicológico do ser humano.
Jesus asseverou com propriedade ser a luz do mundo, porque a
Humanidade se encontrava em profunda escuridão, qual ocorre nos dias presentes.
A Sua é a mensagem de responsabilidade pessoal perante a vida, e
de serviço constante em favor de si mesmo e da coletividade.
Trazendo aos homens e mulheres o Seu exemplo de amor e de
abnegação, não se propôs carregar o fardo do mundo, a fim de liberá-los de suas
responsabilidades, mas ensinou a todos como conduzirem os seus problemas e
angústias, solucionando-os com o amor a Deus, a si mesmos e ao próximo, por ser
esse sentimento de amor a perene luz de libertação de toda a sombra existente
no mundo íntimo e na sociedade em geral.
Divaldo P. Franco.
Ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Página psicografada pelo médium Divaldo P. Franco, no dia 11 de
julho de 2000, em Paramirim, Bahia.
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