Após de dezoito séculos, tendo chegado à
idade viril, a Humanidade está
suficientemente madura para compreender o
que o Cristo apenas esflorou, porque então, como ele próprio o disse, não o teriam compreendido.
Ora, a que resultado chegaram os que, durante
esse longo período, tiveram a seu
cargo a educação religiosa da mesma Humanidade?
Ao de verem que a indiferença sucedeu à fé
e que a incredulidade se alçou em doutrina.
Em nenhuma
outra época, com efeito, o
cepticismo e o espírito de negação estiveram mais
espalhados em todas as classes da sociedade.
Mas, se algumas das palavras do Cristo se
apresentam encobertas pelo véu da
alegoria, pelo que concerne à regra de
proceder, às relações de homem para homem, aos princípios morais a que ele
expressamente condicionou a salvação,
seus ensinos são claros, explícitos, sem ambiguidade.
Que fizeram das suas máximas de caridade,
de amor e de tolerância; das
recomendações que fez a seus apóstolos para
que convertessem os homens pela brandura e pela persuasão; da simplicidade, da humildade, do
desinteresse e de todas as
virtudes que ele exemplificou?
Em seu nome, os homens se anatematizaram mutuamente
e reciprocamente se amaldiçoaram;
estrangularam-se em nome daquele que
disse: Todos os homens são irmãos.
Do Deus infinitamente
justo, bom e misericordioso que ele revelou, fizeram
um Deus cioso, cruel, vingativo e parcial; àquele Deus, de paz e de verdade,
sacrificaram nas fogueiras, pelas torturas
e perseguições, muito maior número de vítimas, do que as que em todos os tempos os
pagãos crificaram
aos seus falsos deuses; venderam-se as
orações e as graças do céu em
nome daquele que expulsou do Templo os vendedores
e que disse a seus discípulos: Dai de graça o que
de graça recebestes. Que diria o
Cristo, se viesse hoje entre nós? Se visse os que
se dizem seus representantes a ambicionar as honras,
as riquezas, o poder e o fausto dos
príncipes do mundo, ao passo que
ele, mais rei do que todos os reis da Terra, fez a sua entrada em Jerusalém montado num
jumento?
Não teria
o direito de dizer-lhes: Que fizestes dos meus ensinos, vós que incensais o bezerro de ouro,
que dais a maior parte das vossas
preces aos ricos, reservando uma parte insignificante aos pobres, sem embargo de haver eu
dito: Os primeiros serão os
últimos e os últimos serão os primeiros no meu reino.
Mas, se o Cristo não está carnalmente
entre nós, está em Espírito e,
como o senhor da parábola, virá
pedir contas aos seus vinhateiros do
produto da sua vinha, quando
chegar o tempo da colheita.
Fonte : A Gênese. Allan Kardec
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