A vida moderna nos impõe inúmeras obrigações e deveres.
Grosso modo, uma existência bem aproveitada implica em administrar com
proficiência problemas e dificuldades de toda sorte. Jesus – nosso modelo e
guia – e outros expoentes da espiritualidade convivem com labores altamente
complexos e desafiadores. Se o Pai Celestial trabalha, como asseverou o Mestre
outrora, “... eu trabalho também” (João, 5: 17), deixando entrever a pesada
carga de responsabilidades advindas da sua sublime missão de educador dos corações
humanos. Portanto, não podemos, então, de nossa parte, esperar algo
substancialmente diferente. À medida que evoluímos mais deveres abraçamos. Uma
força incoercível nos compele a dar, entregar e a compartilhar mais de nós
mesmos. Passamos a perceber, enfim, que somos muito menos que uma gota – e eu
estou sendo generoso – do oceano.
No entanto, dada a nossa precariedade cognitiva e
considerando as paisagens de sofrimento e destruição que, infelizmente ainda,
caracterizam a Terra, temos a obrigação individual de nos auto iluminarmos para
transformá-la numa das belas moradas da “casa do Pai”. E tal desiderato não
pode ser atingido sem o esforço pessoal de nos alfabetizarmos espiritualmente.
Dito de outra maneira, a criatura humana necessita urgentemente educar a sua
própria alma. Como já nos referimos algures, “... são raros aqueles que,
concomitantemente às exigências da vida moderna – onde sempre predominam as
coisas de natureza material –, dão também atenção aos assuntos de origem
transcendental. Aliás, se tivéssemos a curiosidade de averiguar quanto do nosso
tempo é despendido em coisas ligadas à matéria ou de importância duvidosa,
ficaríamos estarrecidos”. (Vasconcelos, A.F. A necessidade da agenda
espiritual. O Clarim, nº 1, p. 12, agosto 2005)
De maneira similar, a renomada pesquisadora inglesa, Dra.
Ursula King, observa que necessitamos dar mais atenção à educação do espírito.
Ela considera que nós necessitamos aprender a desenvolver uma profunda
liberdade interior e consciência para nos tornarmos mais alertas
espiritualmente e conclui advogando que “A capacidade para espiritualidade está
presente em todos os seres humanos, mas necessita ser ativada e realizada. Isso
significa que tem de ser ensinada de algum modo, e isso requer novos enfoques
para educação espiritual. [...]”.(King, U. The search for
spirituality: our global quest for a spiritual life. New York, NY: BlueBridge, 2008, p.
88.)
Obviamente, o curso do autodesenvolvimento espiritual não é
tarefa para apenas uma existência. Certamente continuará do lado de lá, assim
como em outras encarnações. Também não podemos imaginar que tal aprendizado
advirá exclusivamente de determinados cursos que venhamos a frequentar. Eles
podem, na melhor das hipóteses, ajudar em determinados momentos, mas a maior
parte desse processo de alfabetização ocorrerá mediante: constantes e
solitários exercícios de reflexão e meditação acerca das atitudes tomadas no
dia a dia; a busca incessante do autoconhecimento; a coragem para enfrentar as
sombras da personalidade; e a determinação para proceder tomando sempre o bem
como bússola. Paralelamente a esse esforço, o “aluno” deverá voltar-se a Deus
através da oração sincera e confiante a fim de que os seus canais intuitivos
captem sempre as melhores sugestões.
Não poderá abdicar também de mergulhar a sua atenção em
leituras edificantes, esclarecedoras, eivadas de sabedoria e experiências
humanas valiosas que lhe facultem condições de vislumbrar a dimensão antes
ignorada, isto é, a da vida espiritual. Pode-se prever que o “bom aluno” mudará
consideravelmente a sua percepção e conduta a partir daí. Os seus gostos,
preferências e aspirações sofrerão profundas mudanças, a sua sensibilidade no
trato com os semelhantes será amplificada, assim como dilatada a sua capacidade
de compreensão dos fatos e eventos, entre outros tantos benefícios. Com toda
certeza estará mais preparado para ouvir, dialogar e entender os companheiros
de jornada.
Muitas vezes o “bom aluno” ver-se-á envolvido numa aparente
solidão. Afinal, a sua gama de interesses e até mesmo objetivos transmutam-se
completamente. Mas é na quietude da alma que encontrará respostas e conclusões
para os mais importantes dramas existenciais. Concomitantemente, compreenderá
que deverá desenvolver os recursos da paciência, discernimento, humildade,
renúncia, emoções positivas, amor, fraternidade e tolerância – algumas
matérias, convenhamos, nem sempre lecionadas nas salas educativas da Terra. O
novo ser que emergirá dessa alfabetização dominará não apenas pensamentos,
emoções e poderosas forças interiores, mas estará apto a entender e a cooperar
de maneira mais incisiva na obra do Criador sendo uma criatura melhor sob todos
os aspectos e sentidos.
Por Anselmo Ferreira Vasconcelos
Nenhum comentário:
Postar um comentário