Galdino
Alves Bezerra Neto, filho da técnica em enfermagem aposentada Maria Lopes
Farias, 75, de Fortaleza, estava desaparecido havia mais de cinco anos. Na
época do sumiço, avisara à mãe que iria para uma vaquejada em Canindé (115 km
da capital cearense), e nunca mais voltou. Tinha 47 anos na época.
Seus restos
mortais, porém, foram enfim localizados em uma lagoa na região metropolitana de
Fortaleza, e o exame de DNA confirmou sua identidade. Tudo graças a uma carta
psicografada.
Segundo a
mãe, Gaudino tinha o costume de passar longos períodos longe de casa, sem dar
notícias. Após entrar no quarto mês sem contato, porém, a aposentada se
desesperou. "Eu mandei imprimir mais de 200 fotos grandes dele, com
endereço e telefone", diz. E assim foi por cerca de dois anos, até ela se
convencer da morte do filho.
Nesse meio
tempo, ela passou a frequentar um centro espírita. Na segunda visita, o médium
Nilton Sousa psicografou uma carta do sogro da aposentada. Foi o avô do rapaz,
narra a mãe, que deu a indicação de um local que o médium afirmava desconhecer:
Lagoa do Juvenal.
Ocorre que a
tal lagoa existe. Fica a 35 km de Maranguape, na região metropolitana de
Fortaleza. No começo de 2013, de fato policiais já haviam localizado os restos
mortais de um homem acidentalmente, depois de um incêndio em uma mata ao lado
revelar parte de uma ossada humana.
Segundo o
inspetor Wellington Pereira, que atua na Delegacia Metropolitana de Maranguape,
na ocasião tentou-se identificar os restos mortais, mas, em virtude do estado
de decomposição, o trabalho não avançou e o caso foi arquivado. A ossada foi
enterrada no cemitério municipal como pessoa não identificada.
REVIRAVOLTA
No começo de
2014, após as sessões espíritas, Maria foi à delegacia questionando sobre a
ossada, que poderia ser do filho dela. Na época ela não mencionou a carta
psicografada à polícia. No decorrer daquele ano, ocorreu a exumação dos restos
mortais e, em outubro, o resultado do exame de DNA confirmou tratar-se de
Gaudino.
O caso veio
a público somente no começo deste mês, quando ela comentou com a polícia sobre
a carta psicografada.
O policial
ficou surpreso ao saber da carta. "É um caso que realmente chama
atenção". O próprio médium diz que ficou nervoso com conteúdo do documento
psicografado. "Eu fiquei preocupado. Como médium, eu posso errar",
diz. O resultado do exame de DNA foi o que acalmou Nilton, diz.
A Polícia
Civil, agora com a identificação da ossada, reabriu o caso. Pelo estado
avançado de decomposição, porém, policiais ainda não identificaram a possível
causa da morte.
O inspetor
Wellington Pereira, que em 2013 participou da localização da ossada e acompanha
o caso, diz não ver participação nem do médium nem da aposentada na morte. A
reportagem não conseguiu falar com o delegado responsável pelo caso.
Procurada, a
Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará não se manifestou
sobre a possível ajuda pela carta psicografada e afirmou não ser possível
apontar suspeitos até o momento.
Em nota, a
Polícia Civil do Ceará confirmou que a vítima teve parte de sua ossada
encontrada em 2013 e identificada por meio de exame de DNA. "O laudo
cadavérico afirma que não foi possível identificar a causa da morte, levando em
consideração o tempo que havia transcorrido do óbito até a data do exame".
A nota
confirma que a mãe esteve na delegacia para pedir exame de DNA na ossada
encontrada na Lagoa do Juvenal. "Com a conclusão do teste e o resultado
positivo, a Polícia Civil passou a ter novos elementos que contribuíram para o
aprofundamento das investigações.".
'ESTOU EM
PAZ'
Depois de
cinco anos de aflição, a sensação de Maria é de alívio. "Aconteceu o que
aconteceu, tudo bem. Mas eu sei que meu filho está bem melhor do que eu. Estou
em paz".
Agora, a aposentada
planeja recuperar os restos mortais de seu filho e cremá-los. "A gente vai
fazer uma caravana e soltar as cinzas em Canindé. Ele não gostava de aventura?
Então, eu vou deixá-lo solto".
Fonte: Folha
de São Paulo
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