Viu-se, por
uma das respostas narradas no artigo precedente, que haveria, ao que parece,
mundos destinados aos Espíritos errantes. A ideia desses mundos não estava no
pensamento de nenhum dos assistentes, e ninguém não a imaginara sem a revelação
espontânea de Mozart, nova prova de que as comunicações espíritas podem ser
independentes de toda opinião preconcebida. Com o objetivo de aprofundar essa
questão, submetemo-la a um outro Espírito, fora da Sociedade e por intermédio
de um outro médium, que disso não tinha nenhum conhecimento.
1. (A Santo
Agostinho.) Existem, como nos foi dito, mundos que servem aos Espíritos
errantes de estação e de ponto de repouso? - R. Há-os, mas não graduados; quer
dizer que ocupam posições intermediárias entre os outros mundos, segundo a
natureza dos Espíritos que podem aí chegar, e que neles gozam de um bem-estar
maior ou menor.
2. Os
Espíritos que habitam esses mundos podem deixá-los à vontade? - R. Sim; os
Espíritos que se acham nesses mundos podem se desligar deles para irem onde
devem ir. Figurai-vos aves de arribação abatendo-se sobre uma ilha à espera de
recuperar forças para alcançar o seu destino.
3. Os
Espíritos progridem durante suas estações nos mundos intermediários? - R.
Certamente; aqueles que assim se reúnem, fazem-no com o objetivo de se
instruírem e de poderem, mais facilmente, obter a permissão de alcançarem
lugares melhores, e atingir a posição que os eleitos obtêm.
4. Esses
mundos são perpetuamente, e por sua natureza especial, destinados aos Espíritos
errantes? - R. Não; sua posição não é senão transitória.
5. São eles,
ao mesmo tempo, habitados por seres corpóreos? - R. Não.
6. Têm uma
constituição análoga à dos outros planetas? - R. Sim, mas a superfície é
estéril.
7. Por que
essa esterilidade? - R. Aqueles que os habitam de nada necessitam.
8. Essa
esterilidade é permanente e prende-se à sua natureza especial? - R. Não, eles
são estéreis por transição.
9. Esses
mundos devem, então, estar desprovidos de belezas naturais? - R. A Natureza se
traduz pelas belezas da imensidão que não são menos admiráveis daquilo que
chamais as belezas naturais.
10. Há
desses mundos no nosso sistema planetário? - R. Não.
11. Uma vez
que seu estado é transitório, nossa Terra será um dia desse número? - R. Ela o
foi.
12. Em qual
época? - R. Durante a sua formação.
Nota. - Essa
comunicação confirma, uma vez mais, essa grande verdade que nada é inútil na
Natureza; cada coisa tem seu objetivo, sua destinação; nada está no vazio, tudo
está habitado, a vida está por toda parte. Assim, durante a longa série de
séculos que escoaram antes da aparição do homem na Terra, durante esses lentos
períodos de transição atestados pelas camadas geológicas, antes mesmo da
formação dos primeiros seres orgânicos; sobre essa massa informe, nesse árido
caos onde os elementos estavam confundidos, não havia ausência de vida; seres
que não tinham nem nossas necessidades, nem nossas sensações físicas aí
encontravam refúgio. Deus quis que, mesmo nesse estado imperfeito, ela servisse
para alguma coisa. Quem, pois, ousaria dizer que entre esses milhares de mundos
que circulam na imensidão, um só, um dos menores, perdido na multidão, tivesse
o privilégio exclusivo de ser povoado. Qual seria, pois, a utilidade dos
outros? Deus não os teria feito senão para recrear nossos olhos? Suposição
absurda, incompatível com a sabedoria que brilha em todas as suas obras.
Ninguém contestará que há, nessa idéia de mundos ainda impróprios para a vida
material, e todavia povoados por seres vivos apropriados a esse meio, alguma
coisa de grande e sublime onde se encontra, talvez, a solução de mais de um
problema.
Revista
Espírita, maio de 1859
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