Em A Vida no
Outro Mundo, seu autor, Cairbar Schutel, combate a ideia de que nada existe
após a morte e que se o Espírito não é imortal, (…) a vida é uma farsa que
começa no berço e se acaba no túmulo. Como vimos anteriormente, os Espíritos
levam consigo, para o Além-Túmulo, as qualidades boas ou más, todos os vícios e
costumes e todos os conhecimentos e aptidões.
Os
criminosos veem-se mergulhados em profundas trevas e só ouvem os lamentos de
suas vítimas. Os suicidas só têm, na mente, o seu ato tresloucado. Allan
Kardec, na Revista Espírita de maio de 1862, no capítulo intitulado Uma Paixão
de Além-Túmulo, reporta-se ao suicídio, por amor, de um garoto de 12 anos de
idade. Perguntado sobre sua situação, o jovem responde:
(. . .) Meu corpo
lá estava inerte e frio e eu planava em volta dele; chorava lágrimas quentes.
Vocês se admiram das lágrimas de uma alma. Oh! Como são quentes e escaldantes!
Sim, eu chorava, porque acabava de reconhecer a enormidade de meu erro e a
grandeza de Deus!. . . Entretanto, não tinha certeza de minha morte; pensava
que meus olhos se fossem abrir . . .
O sofrimento
dos Espíritos desencarnados é proporcional ao tipo de vida que levaram e ao
maior ou menor apego que tenham à vida material. Durante a crise da morte, eles
lutam para reter a vida corporal que lhes foge, e esse sentimento se prolongará
por muito tempo. Aqueles muito ligados à vida material erram pelas vizinhanças
do lar e do local do trabalho; julgam-se ainda vivos e pretendem participar dos
negócios de que se ocupavam quando encarnados. Os viciados e libertinos
continuam a sentir enorme ansiedade e procuram a convivência de devassos que
lhes saciem os apetites sexuais e os vícios. O avarento fica em estado de
angústia, por não poder impedir que os herdeiros esbanjem a fortuna amealhada
durante a vida terrena.
Em Primeiras
Impressões de Um Espírito, mensagem transmitida pelo Espírito Delphine de
Girardin à médium Sra. Gostel na Sociedade Espírita de Paris, consta, dentro da
sua perspectiva, o seguinte: Falarei da estranha mudança que se opera no
Espírito após a libertação. Ele se evapora dos despojos que abandona, como uma
chama se desprende do foco que a produziu; depois se dá uma grande perturbação
e essa dúvida estranha: estou morto ou vivo?
A ausência
das sensações primárias produzidas pelo corpo espanta e imobiliza, por assim
dizer. Assim como um homem habituado a um fardo pesado, nossa alma, aliviada de
repente, não sabe o que fazer de sua liberdade; depois o espaço infinito, as
maravilhas sem número dos astros, sucedendo-se num ritmo harmonioso, os
Espíritos solícitos, flutuando no ar e deslumbrantes de luz sutil que parece
atravessá-los, o sentimento da libertação que inunda, de súbito, a necessidade
de lançar-se também, no espaço como pássaros que querem treinar suas asas, tais
são as primeiras impressões que todos nós sentimos. (Revista Espírita, de Allan
Kardec, novembro de 1860, n° 11)
Temos
informações, através de várias mensagens, que, no Além, assim como no Aquém,
existem vagabundos, saltimbancos e fanfarrões. Existem, da mesma maneira,
aqueles que se propõem a auxiliar os companheiros atrasados e, ainda, os que
preferem trabalhar pelo seu próprio aprimoramento. Sócrates e Platão disso já
tinham conhecimento e afirmavam:
A alma
impura, nesse estado, encontra-se pesada, é novamente arrastada para o mundo
visível, pelo horror do que é invisível e imaterial. Ela erra, segundo se diz,
ao redor dos monumentos e dos túmulos, juntos dos quais foram vistos, às vezes
fantasmas, como devem ser as imagens das almas que deixaram o corpo sem estar
inteiramente puras, e que conservam alguma coisa de forma material, o que
permite aos nossos olhos percebê-las.
Essas não
são as almas dos bons, mas as dos maus, que são forçadas a errar nesses
lugares, onde carregam as penas de sua vida passada, e onde continuam a errar,
até que os apetites inerentes às suas respectivas formas materiais façam-nas
devolver a um corpo. Então, elas retornam, sem dúvida aos mesmos costumes que,
durante a vida anterior, eram de sua predileção. (O Evangelho Segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec)
Como Deus
não se compraz com o sofrimento eterno de seus filhos, passada uma fase de
depuração dos fluidos mais densos, sobrevêm ao Espírito o sono reparador a que
estão sujeitos todos os recém-chegados ao Mundo Espiritual. Nesse momento,
Espíritos amigos e familiares recolhem os recém-desencarnados e os levam para
as diversas estações de repouso. Ao despertar desse sono que pode variar de
horas a séculos, o Espírito desencarnado começa a perceber o que está em sua
volta. Surpreende-se ao encontrar um ambiente muito semelhante ao da Terra. Por
esse motivo, muitos pensam que ainda estão vivos.
E, só a
partir de uma tomada de consciência da realidade em que se encontram, surgirão
para eles novas oportunidades: estudos, tarefas, trabalho assistencial, tudo de
acordo com o seu adiantamento espiritual, sua capacidade e suas necessidades.
Comentando as palestras familiares que estabelece com o Além-Túmulo, Allan
Kardec diz a respeito da desencarnação:
Extinguindo-se
as forças vitais, o Espírito se desprende do corpo no momento em que cessa a
vida orgânica. Mas separação não é brusca ou instantânea. Por vezes começa
antes da cessação completa da vida; nem sempre é completada no instante da
morte. Sabemos que entre o Espírito e o corpo existe um liame semi-material,
que constitui o primeiro envoltório. Este liame não se quebra subitamente. E,
enquanto subsiste, fica o Espírito num estado de perturbação comparável ao que
acompanha o despertar.
(. . .) ao
entrar no mundo dos Espíritos é acolhido pelos amigos que o vêm receber, como
se voltasse de penosa viagem. Se a travessia foi feliz, isto é, se o tempo de
exílio foi empregado de maneira proveitosa para si e o elevou na hierarquia do
mundo dos Espíritos, eles o felicitam. Ali reencontra os conhecidos, mistura-se
aos que o amam e com ele simpatizam, e então começa, para ele, verdadeiramente,
a sua nova existência. (Revista Espírita, abril de 1959, no 4, de Allan Kardec)
Na
erraticidade, o Espírito não adquire, imediatamente, o saber e a virtude;
antes, conserva sua inteligência ou ignorância, idéias, concepções, ódios ou
afeições. O que se abala com o desligamento do corpo é a memória, e a sua
lucidez retornará segundo o nível moral do desencarnado e à medida que se
apagam as impressões terrenas. Se o Espírito errante tem bons propósitos, ele
progride nos aspectos intelectual, moral e espiritual, podendo trazer-nos, mais
tarde, as notícias das Colônias Espirituais onde estagiou, uma vez que,
enquanto recebe tratamento no corpo perispiritual, o Espírito desencarnado se
instrui.
Devido à
diversidade de nossos caracteres, — aptidões, sentimentos, vícios, virtudes e
hábitos — as condições de vida no Além são de uma diversidade infinita, daí as
diferenças no conteúdo das mensagens. Existem, também, Espíritos tão evoluídos
e depurados (Espíritos puros ou perfeitos) sobre os quais a Terra não mais
exerce atração. Estes habitam as regiões menos densas e só reencarnam para
cumprir missões especiais, como aconteceu com Jesus, Buda e Confúcio, além de
outros grandes missionários.
Todavia, há
Espíritos que não se incorporam a nenhum movimento nobre; vivem na Terra da
Liberdade que é uma região, segundo informam os Espíritos, próxima à crosta
terrestre, onde os desencarnados se entregam a mais completa indisciplina. Cada
um faz o que quer e age de acordo com o livre-arbítrio, sem quaisquer
restrições morais. A tônica de suas vidas é a liberalidade. Muitas vezes,
reencarnam sem passar por estágios nas Colônias de recuperação e sem analisarem
as vidas anteriores. Nos Mundos Espirituais superiores, os Espíritos continuam
a agir dentro do seu livre-arbítrio, porém de acordo com padrões morais
elevados.
Segundo
Allan Kardec, ao tratar dos Possessos de Morzine: Sendo a Terra um mundo inferior,
isto é, pouco adiantado, resulta que a imensa maioria dos Espíritos que a
povoam tanto no estado errante, quanto no de encarnados, deve compor-se de
Espíritos imperfeitos, que fazem mais mal que bem. Daí a predominância do Mal
na Terra.
Ora, sendo a
Terra, ao mesmo tempo, um mundo de expiação, é o contato do Mal que torna os
homens infelizes, pois se todos os homens fossem bons, todos seriam felizes. E’
um estado ainda não alcançado por nosso globo; e é para tal estado que Deus
quer conduzi-lo. Todas as tribulações aqui experimentadas pelos homens de bem,
quer da parte dos homens quer da dos Espíritos, são consequências deste estado
de inferioridade. Poder-se-ia dizer que a Terra é a Botany-Bay dos mundos: aí
se encontram a selvageria primitiva e a civilização, a criminalidade e a
expiação. (Revista espírita, de Allan Kardec, n2 12, dezembro de 1862 )
Assim, o
fundamental para nós é saber que a Terra nada mais é que um pálido reflexo do
Mundo Espiritual e que ambos se encontram na mesma faixa vibratória. Allan
Kardec, em mensagem transmitida, após a sua morte, na residência de Miss Anne
Blackwell, em Paris, em 14 de setembro de 1869, confirma os ensinamentos que em
vida recebeu dos Espíritos em palestras familiares: Sou tão feliz como nem
podeis pensar, meus bons amigos, por vos encontrar reunidos. Estou entre vós,
numa atmosfera simpática e benevolente, que agrada ao mesmo tempo o meu
espírito e o meu coração. Há muito tempo que eu desejava ardentemente o
estabelecimento de relações regulares entre a escola francesa e a escola
americana.
(… ) O
Espíritos conservam no Espaço suas simpatias e seus hábitos terrenos. Os
Espíritos dos americanos mortos são ainda americanos, como os desencarnado que
viveram na França são ainda franceses no Espaço. Daí as diferenças dos ensinos
em alguns centros. Cada grupo de Espíritos, por sua própria natureza, por seu
espírito nacional, apropria suas instruções ao caráter, ao gênio especial
daqueles que o dirigem. (Revista Espírita, de Allan Kardec, na 6, junho de
1869)
Sendo assim,
conclui-se que o processo da morte não é necessariamente doloroso, embora,
muitas vezes, os que presenciem o desenlace de algum amigo ou parente observem
a luta do moribundo para conservar o Espírito no corpo. Aos olhos físicos a
impressão é de a pessoa estar sofrendo intensamente, mas essa se constitui,
apenas, uma visão terrena, dos que ainda permanecem do lado de cá. A realidade
é bem outra.
Fonte:
Blog-Verdade e Luz
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