Haverá
fatalidade nos acontecimentos da vida, conforme o sentido que se dá a essa
palavra, ou seja, todos os acontecimentos são predeterminados? Nesse caso, como
fica o livre-arbítrio?
– A
fatalidade existe apenas na escolha que o Espírito fez ao encarnar e suportar
esta ou aquela prova.
E da escolha
resulta uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição que ele
próprio escolheu e em que se acha.
Falo das
provas de natureza física, porque, quanto às de natureza moral e às tentações,
o Espírito, ao conservar seu livre-arbítrio quanto ao bem e ao mal, é sempre
senhor para ceder ou resistir.
Um bom
Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode vir em sua ajuda, mas não pode influir de
modo a dominar sua vontade.
Um Espírito
mau, ao lhe mostrar de forma exagerada um perigo físico, pode abalá-lo e
assustá-lo.
Porém, a
vontade do Espírito encarnado está constantemente livre para decidir.
Há pessoas
que parecem ser perseguidas por uma fatalidade, independentemente de seu modo
de agir; a infelicidade não é um destino?
– São,
talvez, provas que devem suportar e que escolheram. Mas definitivamente não
deveis acusar o destino pelo que, frequentemente, é apenas a consequência de
vossas próprias faltas.
Nos males
que vos afligem, esforçais-vos para que vossa consciência esteja pura, e já vos
sentireis bastante consolados.
☼ As ideias justas ou falsas que
fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar de acordo com nosso caráter e
posição social.
Achamos mais
simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir nossos fracassos
à sorte ou ao destino, e não à nossa própria falta.
Se a
influência dos Espíritos contribui para isso algumas vezes, podemos sempre nos
defender dessa influência afastando as ideias que nos sugerem, quando são más.
Algumas
pessoas mal escapam de um perigo mortal para logo cair em outro; parece que não
teriam como escapar à morte. Não há fatalidade nisso?
– A
fatalidade só existe, no verdadeiro sentido da palavra, apenas no instante da
morte.
Quando esse
momento chega, seja por um meio ou por outro, não o podeis evitar.
Assim,
qualquer que seja o perigo que nos ameace, não morreremos se a hora não é
chegada?
– Não, não
morrereis, e sobre isso há milhares de exemplos; mas quando a hora chegar, nada
poderá impedir.
Deus sabe
por antecipação qual o gênero de morte que terás na Terra e, muitas vezes,
vosso Espírito também sabe, porque isso foi revelado quando fez a escolha desta
ou daquela existência.
Por causa da
inevitável hora da morte, as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis?
– Não. As
precauções que tomais são sugeridas para evitar a morte que vos ameaça, são
meios para que ela não ocorra.
Qual é o
objetivo da Providência ao nos fazer correr dos perigos que não têm
consequências?
– Quando
vossa vida é colocada em perigo, é uma advertência que vós mesmo desejastes, a
fim de vos desviardes do mal e vos tornardes melhor.
Quando
escapais desse perigo, ainda sob a influência do risco que passastes, refletis
seriamente, conforme a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos sobre vós
para vos melhorardes.
O mau
Espírito, voltando a tentação (digo mau subentendendo o mal que ainda existe
nele), pensa que escapará do mesmo modo a outros perigos e novamente deixa se
dominar pelas paixões.
Pelos
perigos que correis, Deus vos lembra de vossa fraqueza e a fragilidade de vossa
existência.
Se
examinardes a causa e a natureza do perigo, vereis que, muitas vezes, as
consequências são a punição de uma falta cometida ou de um dever não cumprido.
Deus vos
adverte assim para vos recolherdes em vós mesmos e vos corrigirdes.
O LIVRO DOS
ESPÍRITOS –ALLAN KARDEC – QUESTÕES DE 851 a 855
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