Há algumas
falsas concepções que convêm abordar desde já, para as destruir quanto antes.
Uma delas, refere-se à suposição de que no momento da morte a separação do
homem do seu corpo físico possa causar sofrimento. O testemunho das pessoas que
assistem ao passamento, principalmente médicos e enfermeiros, é unânime em
afirmar que quase todos os moribundos expiram placidamente, mesmo os acometidos
de doenças longas e dolorosas, o que não é contradito pelo chamado “estertor
mortal” ou “cirro da morte”, mais ou menos agitado, que sucede segundos antes,
pois que se trata do corpo a deixar de respirar (ou seja, o escoar definitivo
de PRANA para acontecer de imediato a ação mortal, ceifadora de APANA),
apagando-se a vida do corpo que termina o ciclo de animação. De facto, se a
morte é fruto da imprestabilidade ou desgaste definitivo do corpo físico aos
demais veículos ou princípios, o ser, cujas sensações se expressam pelo seu
corpo emocional, só pode sentir-se aliviado ao deixar o corpo tornado inútil.
Esse alívio
extraordinário acompanhado de uma sensação indescritível de leveza, todos o
sentem, tal como todos, uns mais e outros menos, é bem verdade, já têm desde
dias antes da desencarnação uma visão nítida do mundo espiritual e dos seus
habitantes, principalmente daqueles mais chegados (por antigos laços de
parentesco, por exemplo) ao ente prestes a partir, como eles também já
partiram. Com esses, apresentam-se igualmente os Auxiliares Espirituais que
irão ajudar no processo da desencarnação. Tais Auxiliares serão de escala
evolutiva imediatamente superior à do agonizante, e se este tiver sido pessoa
de parca evolução, consequentemente, os seus Assistentes espirituais igualmente
não serão de grande evolução, mesmo que superior à sua. Pelo contrário, o
estudante de Sabedoria Divina, o Iniciado que desencarna tem sempre a apoiá-lo
Seres de tal excelsitude que não raros clarividentes os confundem com o próprio
Cristo, se for no Ocidente, ou então com o Buda ou com Krishna, se for no
Oriente, tal a sua beleza e glória espiritual.
Outro
conceito falso diz respeito à crença de que a morte é a grande igualadora
universal. Esta crença fere substancialmente a Lei do Karma ou da “Causa e
Efeito”, que é uma Lei Universal, válida não- somente para os indivíduos
encarnados mas também para todos os seres e coisas manifestados. A desigualdade
aparente no Mundo Físico, como todos a vemos, persiste no Mundo Astral e mesmo
no Mental Concreto, principalmente naquele após a morte, e engana-se gravemente
quem pensa que em se tirando a vida física dirimem-se os seus sofrimentos;
quanto muito, consegue-se modificar a natureza deles.
Outra ideia
falsa é pensar que a morte conduz indistintamente a consciência de todos a uma
espécie de permanente sono calmo e sem sonhos ou com sonhos agradáveis. Não, o
que se semeou em vida física e ficou impresso na memória mental que sobrevive à
morte cerebral, é que irá determinar a sua vida extrafísica como um paraíso ou
um inferno, rodeado por todas as imagens e pensamentos que criou, atraindo
assim a beleza ou a fealdade de consciências afins. Já o disse no passado: “Faz
de tua vida um céu para não vires a sofrer na morte as penas do teu inferno”…
A aparência
do homem em seu corpo astral, que é o veículo bioplástico das imagens e o mais
imediato, logo, o que mais impressiona ou imprime a forma a que se acostumara
por ser a que tivera na vida orgânica, quase nada difere do que aparentava o
seu corpo físico. A maior diferença, inculcada pela sensação de leveza e
liberdade post-mortem, faz-se sentir no aspecto da idade, pois por norma –
exceptuando aqueles ferreamente agarrados à vida que findou, ficando assim
enfeiados e envelhecidos, quando não mantendo a aparência dos seus últimos dias
terrenos – a aparência que toma o corpo astral é a de ser um tanto mais jovem,
a qual vai tomando o seu corpo fluídico à medida que se desprende do envoltório
carnal.
O momento da
morte, por mais rápido que ela ocorra, não é instantâneo, pois que há sempre um
estado intermediário entre a vida e a morte, à semelhança daqueles breves
instantes em que se passa do estado de vigília ao de sono; é como o apagar de
um bico de gás em que, antes da completa extinção, a chama vai decrescendo…
Esse momento
de transição mais que importante é crucial para o futuro espiritual do ser em
trânsito. Nesses breves instantes, mesmo que a morte seja rápida, o homem vê
passar diante da sua consciência, com muitíssima maior nitidez que um filme de
cinema, o panorama total da sua vida recém-concluída, até aos mínimos detalhes.
Os acontecimentos apresentam-se em ordem inversa, recuando desde esse momento
derradeiro até à infância, assistindo ele a esse desenrolar dos factos como um
observador imparcial e, nessa contemplação, analisa a série infinita de causas
que o fizeram agir, sentir e pensar, desde o nascimento até à morte, e dessa
retrospecção deduz a natureza da vida que terá na futura encarnação. Tudo isso
se passa nos breves instantes em que a chama da vida física vai se apagando…
Tenha-se em mente que o factor Tempo como o conhecemos no Plano em que vivemos,
não é idêntico ao dos demais Planos da Natureza: um segundo no Mundo Físico
equivale a um minuto ou a uma hora no Astral, tal como um minuto ou uma hora
parecem um ano ou um século no Mental. Nisto, quem não terá, em poucos segundos
de sono, sonhado o desenrolar de acontecimentos que, nesse estado, lhe
pareceram durar várias horas ou muito mais?
As
conclusões que o homem tira de tudo o que acabou de ver nesses derradeiros
instantes é como se fosse uma visão do seu futuro, porque ela é verdadeiramente
imparcial. Nesse estado, o ser penetra no domínio completo das causas que gerou
durante a vida: é o mundo dos mortos, o reino de YAMA, o mundo dos efeitos.
Antes que se corte definitivamente o laço ou elo vital (o chamado “cordão
prateado” ou o que liga os corpos mental e astral ao físico por intermédio do
etérico, sendo que o “cordão d´ouro” ou Sutratmã é o que une os três aspectos
da Mónada Imortal ou o Homem Verdadeiro) que o liga ao Mundo Físico, pode, por
um supremo esforço de vontade, imprimir ao seu pensamento uma energia
suficiente para determinar, desde esse momento, as condições em que virá a
reencarnar. Eis a importância crucial do último pensamento do moribundo, pois
nele reside o seu bom ou mau futuro espiritual. Sempre aconselhei ao ente prestes
a entrar em trânsito a visualizar aquilo tenha como sendo o mais belo e
grandioso na sua concepção pessoal: o Cristo, o Buda, o Mestre JHS, um Anjo de
Glória, um Templo luminoso, uma Paisagem maravilhosa, a Flor-de-Lis, a
Rosacruz, etc., isto sempre de acordo com a natureza do implicado, e sempre com
a firme certeza de que a seguir Deus virá operar o Milagre da Ressurreição pelo
indiscutível apoio imediato dos seus Santos e Sábios Emissários.
Por tudo
isso, é de importância capital para o discípulo que visa preparar nesta vida as
suas condições futuras (para isso, mister se faz a convicção absoluta na
doutrina do Karma, não de maneira cega mas esclarecida), organizar para si um
ideal superior de ser, meditar constantemente sobre ele e vivê-lo o melhor que
souber e puder, ou seja, capacitando-se a possuir as mais nobres qualidades
morais e espirituais de sabedoria, bondade, tolerância, sacrifício, justiça,
etc., para que, na hora fugaz da sua morte, possa o seu pensamento evocar esse
ideal, modelando assim as condições favoráveis à sua futura encarnação.
Sendo de
importância crucial esse momento de retrospecção em seu trânsito para a vida
espiritual, necessitando o moribundo de toda a atenção e sossego para
concentrar-se nos fenómenos que então se processam em si e em seu torno,
torna-se evidente que um ambiente exterior sossegado, ausente de agitações
emocionais, redundará em benefício enorme para ele. As vibrações intensas dos
choros e lamentações dos entes que o cercam, só podem prejudicá-lo afetando imenso
o seu desprendimento corpóreo, principalmente se ainda for jovem cujos laços
físicos rompidos são muito mais intensos que num idoso.
É, assim,
prova de elevado nível de cultura espiritual quando a família do morto sabe
conservar a devida calma diante do evento dessa natureza, pelo que as
religiões, os médicos e os enfermeiros deveriam ter uma cultura maior nesta
questão da morte do que aparentam ter, para efetivamente intervirem com toda a
eficiência tanto junto do que parte como dos seus entes queridos que ficam.
O costume de
contratar “mulheres chorosas” ou “carpideiras” para assistir ao último suspiro
do moribundo e ao seu enterro, cada uma caprichando mais que a outra no
fingimento de manifestações sofríveis por quem nunca conheceram, é dos piores e
mais desrespeitosos atos que se podem fazer por atingirem dolorosamente a alma
que parte…
Não se deve
comparar o momento da morte com o Dia do Juízo, embora o morto passe naqueles
instantes por uma provação, que é justamente a de rememorar todos os seus atos.
Talvez seja um pequeno juízo, porque o Grande Dia do Juízo Final diz respeito
exclusivamente a um certo momento da evolução da alma através da cadeia de
mundos. Mas o que não se pode negar é o acerto, mesmo que débil em termos de
cultura teosófica, das religiões em dar assistência moral ao moribundo,
ajudando-o nesse instante crucial com preces elevadas.
Terminada
essa fase de retrospecção, o homem entra num estado semiconsciente que
corresponde à sua transição através do corpo etérico que deixa para trás ao
mesmo tempo que o cordão da alma recua consigo até ao chakra umbilical do corpo
astral, assim terminando a vida física, tornando-se o PRANA, “vida”, a APANA,
“não-vida”. Com a saída da alma do corpo físico e deixando para trás o corpo
etérico este fica ligado àquele, por ser o seu verdadeiro molde físico, mas já
não o interpenetra, simplesmente fica flutuando sobre o cadáver,
desagregando-se sincronicamente com o veículo físico. Por isso o cemitério
apresenta o desagradável espetáculo dos corpos em decomposição com os seus
moldes etéricos flutuando sobre eles como farrapos…
Isso leva à
questão higiénica da cremação dos corpos advogada por muitos, principalmente no
Oriente. Contudo e atendendo a que o processo de retrospecção e trânsito varia
de alma para alma consoante a evolução alcançada, logo, sendo mais ou menos
rápida a integração nos corpos superiores, deve-se ter muito cuidado em não
queimar ou embalsamar o corpo antes de passarem, no mínimo, três dias depois da
morte. Há aqueles que fazem a retrospecção e depois mantêm-se aferrados à vida
que terminou, assim permanecendo no corpo etérico, e por repercussão acabarão
sentindo os efeitos cirúrgicos de qualquer exame médico post-mortem ou
ferimento provocado no corpo físico inerte. De maneira que, não é demais
repetir, é aconselhável deixarem-se passar três dias antes de proceder a
qualquer cremação, embalsamamento e até enterramento, como também a alguma
autópsia, além de que pode acontecer o fenómeno, não raro, de um estado
cataléptico, com paragem cardíaca temporária, ser confundido com morte
orgânica.
Muitos que
passaram pelo fenómeno cataléptico da “morte temporária”, dizem que nesse
estado “penetraram num túnel luminoso ao fundo do qual havia gente ou paisagem,
ou ambas as coisas”. Isso é fácil de explicar: Trata-se da abertura da visão
suprafísica pela dilatação do chakra frontal, sem a ingerência das sensações
físicas, dando-lhe assim o primeiro vislumbre do panorama do Plano imediato, o
Astral. Quem, acaso, antes de adormecer nunca apercebeu um foco ou uma esfera
luminosa na região frontal?…
Separado
definitivamente do corpo denso, como disse, em geral o duplo etérico fica
flutuando como uma nuvem violeta sobre o cadáver, constituindo aquilo que
geralmente se chama de espectro. Então a consciência penetra num estado de
sono, que perdura até se desprender completamente do mesmo duplo etérico, que
vai de minutos a horas até dias e mesmo semanas, dependendo esse prazo da
evolução consciencial alcançada pelo falecido. Para todos os efeitos, deve-se
respeitar os três dias já assinalados… pois que desses em diante as condições
para a execução das exéquias fúnebres entram em fase de degradação em qualquer
sentido, e se acaso a alma permanecer ligada ao corpo morto através do duplo
etérico em desagregação, então é sinal claro da sua parca evolução e farto
karma, e tal será o seu castigo
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