O transe da
morte é sempre um estado de crise para qualquer indivíduo, variando conforme o
adiantamento moral de cada um. Daí a passagem do estado da matéria para a vida
espiritual acarretar uma espécie de perturbação mais ou menos longa, até que se
quebrem todos os elos entre o Espírito e sua organização física.
Essa crise é
um fenômeno natural. Pensemos na hipótese de alguém ter de mudar, abruptamente,
do Nordeste brasileiro para um país europeu ou vice versa. A mudança repentina
implicaria um distúrbio tal no indivíduo, que este levaria algum tempo para se
descondicionar do ambiente anterior e se adaptar às novas e diferentes
condições de vida.
Que diremos,
então, da morte em que o fenômeno de desagregação do corpo processa uma
modificação muito mais violenta? Além disso, vários fatores intervêm na
situação do desencarnado logo após a morte: a idade em que ocorreu a
desencarnação (jovem ou idoso?), o tipo de morte (natural ou violenta? ), se
era apegado ou desprendido dos bens materiais, se tinha bons hábitos ou vícios
inveterados, se possuía ideias materialistas ou espiritualistas. Daí a
necessidade do adormecimento do Espírito, logo após o desprendimento do corpo
físico, para se refazer do transe da morte.
Antes, porém,
que o Espírito adormeça, ocorre o interessante fenômeno de recordação da vida
passada, em que um panorama desfila ante seus olhos. Tem-se notícia de que, em
fração de segundo, o Espírito revê, minuciosamente, todos os fatos da vida
terrena que acabou de deixar, cena após cena, desde a infância até a
desencarnação, desde o incidente mais insignificante até o acontecimento mais
importante. Naquele momento, o Espírito é capaz de avaliar causas e
consequências de todos os seus atos, sejam bons ou maus, como um registro para
aproveitamento em vidas futuras. Só depois, sobrevêm o sono cujo tempo varia de
Espírito para Espírito.
O juiz John
Worth Edmonds, que era notável médium psicógrafo, falante e vidente, escreveu
longa mensagem de seu amigo desencarnado, o juiz Peckam, a quem ele muito
estimava. Nessa época ainda não era conhecido pelos psicólogos o fenômeno da
visão panorâmica. Afirma, então, o Espírito Peckam:
No momento
da morte, revi, como num panorama, os acontecimentos de toda a minha
existência. Todas as cenas, todas as ações que eu praticara passaram ante meu
olhar, como se se houvessem gravado na minha mentalidade, em fórmulas
luminosas. Nem um só dos meus amigos, desde a minha infância até a morte,
faltou à chamada. Na ocasião em que mergulhei no mar, tendo nos braços minha
mulher, apareceram-me meu pai e minha mãe e foi esta quem me tirou da água,
mostrando uma energia, cuja natureza só agora compreendo. (A Crise da Morte, de
Ernesto Bozzano)
Por seu
turno, o Espírito que em vida se chamou Dr. Horace Abraham Ackley relata como
se passaram os primeiros momentos após o seu despertamento no Mundo Espiritual:
Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida me desfilaram sob
as vistas, como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões
naturais, como se o meu passado se houvera tornado presente.
Foi todo o
meu passado que revi, compreendido o último episódio: o da minha desencarnação.
A visão passou diante de mim com tal rapidez, que quase não tive tempo de
refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções. A visão,
em seguida, desapareceu com a mesma instantaneidade com que se mostrara; às
meditações sobre o passado e o futuro, sucedeu em mim vivo interesse pelas
condições atuais. (A Crise da Morte, de Ernesto Bozzano)
Muitas
pessoas indagam: Como é possível alguém que passa por incontáveis “mortes”,
experimenta o estado de erraticidade e reencarna várias vezes, esquecer que
existe o Mundo Espiritual? Explicam, então, os Espíritos codificadores que a
situação de esquecimento ou perturbação nunca é definitiva.
Ela é
transitória, e a lembrança, mais ou menos rápida, das vidas anteriores
dependerá do grau de evolução de cada Espírito. C. W. Leadebeater, em
Auxiliares Invisíveis, comenta sobre o mal que os ensinamentos errôneos a
respeito da condição do Espírito após a morte provocam na Humanidade,
principalmente no mundo ocidental. Certas religiões assustam os seus adeptos,
criando neles muita perturbação e surpresa quando chegam no Mundo Espiritual.
Conta ele o exemplo de um inglês que, em uma mensagem transmitida três dias
depois de morto, narrou que, encontrando um grupo de Espíritos amigos,
perguntou:
— Mas, se eu
estou morto, onde é que estou? Se isto é o céu, não me parece grande coisa; se
é o inferno, é melhor do que eu esperava! Surpresa semelhante tem o Espírito
Monsenhor Robert Hugh Benson. Relata ele, em A Vida nos Mundos Invisíveis, obra
recebida pelo médium Anthony Borgia, que, durante todo o período que sucedeu a
sua última desencarnação, nenhuma ideia lhe ocorrera sobre tribunal de
julgamento ou juízo final como sugerira a religião ortodoxa. Esses conceitos e
os de céu e inferno lhe pareceram totalmente impossíveis e, na realidade,
fantasias absurdas.
Fonte:
Blog-Verdade e Luz
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