Se há uma
certeza em nossas vidas, é a do retorno ao Mundo Espiritual, que é de onde
viemos.
Sendo a vida
física uma etapa na vida do Espírito, o momento de transição entre o estado de
encarnado e de desencarnado varia de pessoa para pessoa raiando o infinito, mas
sempre de acordo com a individualidade espiritual.
Allan Kardec
propôs aos Espíritos Superiores:
“O Espírito
sabe por antecipação como desencarnará? – Sabe que o gênero de vida escolhido o
expõe a desencarnar mais de uma maneira do que de outra…” (1)
Comum são os
relatos a respeito de pessoas que pareciam ter conhecimento do desencarne,
pelas atitudes tomadas anteriormente, ou ainda, pela forma com que tocaram
direta ou indiretamente no assunto. Isso confirma a informação dada pelos
Espíritos Superiores, porque o acaso não faz parte das Leis Universais.
Sobre o
instante da morte física perguntou Kardec:
“A separação
se opera instantaneamente e por uma transição brusca? Há uma linha de
demarcação nitidamente traçada entre a vida e a morte?
– Não; a
alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo subitamente
libertado. Esses dois estados se tocam e se confundem de maneira que o Espírito
se desprende pouco a pouco dos laços que o retinham no corpo físico: eles se
desatam, não se quebram.” (2)
Observamos,
pela resposta acima, que mesmo nas mortes instantâneas o espírito retém
“ligações” com o corpo sem vida, se não pelos laços físicos, também pelos laços
desenvolvidos por seus valores e vícios morais.
Seria o caso
de perguntarmos: o que exerce influência no desprendimento do espírito de seu
corpo físico sem vida?
“Pois, onde
está o teu tesouro, ali estará também o teu coração” (3), esclareceu-nos Nosso
Senhor Jesus Cristo, como a nos dizer que os laços do sentimento nos vincularão
a tudo o que nos é caro ao espírito, sejam coisas, propriedades ou pessoas,
pois que estas últimas também consideramos como propriedades nossas.
“Amém vos
digo que tudo que ligardes sobre a terra, estará ligado nos céus” (4) também
disse Nosso Senhor Jesus Cristo. Aqui, por céus podemos entender Mundo
Espiritual, o que significa que mesmo do “lado de lá”, mantemos os laços
firmados aqui, inclusive na transição entre o estado de encarnado para o de
desencarnado.
Necessário
se faz, portanto, incrustarmos em nossa cultura de vida a consciência da
precariedade dos laços que nos prendem ao mundo físico, incluindo às pessoas,
que também são espíritos em evolução. As enfermidades fatais, e muitas vezes as
de longo curso, tornam-se períodos de meditação a respeito dos valores pessoais
diante da vida, permitindo um melhor preparo íntimo para a transição e
readaptação ao mundo espiritual.
Não se deve
entender, no entanto, que o desprendimento das coisas e pessoas deste mundo
cheguem ao despautério de nos tornarmos frios e insensíveis. O que se espera é
tão somente que saibamos trabalhar os sentimentos do espírito imortal,
administrando a influência que as coisas do mundo exercem sobre nós, tirando o
devido proveito para crescimento espiritual, porque, se é fato que estamos
reencarnados, também o é que um dia vamos desencarnar.
A Doutrina
Espírita tem todas as ferramentas necessárias para trabalharmos nossos valores
íntimos, dando-nos o ensejo para o devido preparo para a grande transição que,
embora já a tenhamos experimentado muitas e muitas vezes, ainda se faz presente
com muito peso em nossa forma de viver a vida física.
Pensemos
nisso.
ANTÔNIO
CARLOS NAVARRO
Referências:-(1)
O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 856;
(2) O Livro
dos Espíritos, Allan Kardec, item 155 a;
(3) Mateus,
6:21;
(4) Mateus,
18:18.
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