Nos domínios
espirituais, o remorso nos assenhoreia, o sofrimento tem a aparência de tempo
indeterminado, de algo que jamais terá fim; sem paz, ansiamos pela esperança,
consubstanciada na misericórdia divina, permitindo a reparação das faltas.
Urge, então, empenharmo-nos na tarefa do resgate de nossos débitos.
O apóstolo
dos gentios, Paulo, disse que o homem, na "carne" (existência
física), tendo semeado a corrupção, terá a chance de ceifá-la, erradicando-a de
si (Gálatas 6:7-8). O Amor incomensurável de Deus nos permite a experiência do
retorno à estrada no mesmo ponto que em que dela nos afastamos ("a
sementeira é livre, a colheita é obrigatória"). O Salmo 28 de Davi
igualmente contém esse ensinamento, assim manifestado: "Paga-lhes segundo
as suas obras, segundo a malícia dos seus atos; dá-lhes conforme a obra de suas
mãos, retribui-lhes o que merecem". Tudo isso confirmado pelo Mestre:
"... a cada um segundo as suas obras" (Apocalipse 22:12).
Cometendo a
transgressão, somos conduzidos ao tribunal da nossa própria consciência,
penetrando no mundo espiritual como algozes. Com a chance da retificação
expiatória na carne, retornamos pelo portal da morte como vítimas, sem mais a
presença desagradável da culpa a nos consumir. O suplício tornou-se temporário,
conforme ensinamento de Jesus: "Em verdade te digo que não sairás da
prisão enquanto não pagares o último centavo" (Mateus 5:26).
A ação do
resgate pode acontecer, correlacionando-a com o tipo de infração. Se o mal foi
praticado coletivamente, isto é, em conluio lastimável junto a um grupo de
verdugos ("Ai daqueles por quem vêm o escândalo" - Mateus 18:7),a
liquidação dos débitos acontecerá com a presença de todos os protagonistas
envolvidos, processo conhecido, na doutrina espírita, como expiação coletiva.
As desgraças sociais envolvendo muitas vítimas são relacionadas a fatores
casuais pelos materialistas e espiritualistas menos avisados, o que caracteriza
uma hipótese por demais simplória, não merecendo consideração, desde que a
própria harmonia e ordem do universo, como igualmente a grandeza matemática e
estrutural das galáxias, apontam para uma causa inteligente. Aliás a frase
lapidar de Teófilo Gautier é sempre lembrada: "O acaso é talvez o
pseudônimo de Deus quando Ele não quer assinar o seu próprio nome."
O estudo
profundo do espiritismo nos leva ao entendimento dos fatores causais das
calamidades, opondo-se aos que põem a causa de lado, por falta de explicações
suficientes e convincentes. Em "Obras Póstumas", no cap. intitulado
"Questões e Problemas", há uma abordagem especial de Kardec e dos
espíritos a respeito das expiações coletivas, comprovando a entidade Clelie
Duplantier que faltas coletivas devem ser expiadas coletivamente pelos que,
juntos, a praticaram. Disse que todas as faltas, quer do indivíduo, quer de
famílias e nações, seja qual for o caráter, são expiadas em cumprimento da
mesma lei. Assim como existe a expiação individual, o mesmo sucede quando se
trata de crimes cometidos solidariamente por mais de uma pessoa. A propósito, o
Codificador, em A Gênese", no capítulo 18, item 9, chama-nos a atenção de
que a humanidade é um ser coletivo no qual acontecem as mesmas revoluções
morais que em cada ser individual.
Duplantier
afirma também que, graças ao espiritismo, a justiça das provações é agora compreendida
e não decorre dos atos da vida presente, porque corresponde ao resgate das
dívidas do passado. Depois afirma que haveria de ser assim com relação às
provas coletivas, que são expiadas coletivamente pelos indivíduos que para elas
concorreram, os quais se reencontram para sofrerem juntos a pena de Talião.
As
tragédias, levando às desencarnações coletivas, não são frutos do acaso Na
questão 258, de "OLE", A.K. pergunta se, antes de reencarnar, o
espírito tem consciência ou previsão do que lhe sucederá no curso da vida
terrena. A resposta: "Ele próprio escolhe o gênero de provas por que há de
passar e nisto consiste o seu livre-arbítrio". A desencarnação, o momento
certo da morte, é realmente predeterminado, assim como está documentado em
"OLE", Q. 853, dizendo que o instante da morte é fatal, no verdadeiro
sentido da palavra e chegado esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não
podemos furtar. A questão 853(a) frisa que, quando é chegado o momento do nosso
retorno para a Dimensão Espiritual, nada nos
livrará e também relata que já sabemos o gênero de morte pelo qual
partiremos daqui, pois isso nos foi revelado quando fizemos a escolha desta ou
daquela existência. Importante, igualmente, o comentário de A.K., na Q.738,
dizendo que "venha por um flagelo a morte, ou por uma causa comum, ninguém
deixa por isso de morrer, desde que haja soado a hora da partida". Na Q.
859, os espíritos dizem a A.K. que a fatalidade, verdadeiramente, só existe
quanto ao momento em que devemos aparecer e desaparecer deste mundo. Na Q. 872,
A.K. enfatiza: "no que concerne à morte é que o homem se acha submetido,
em absoluto, à inexorável lei da fatalidade, por isso que não pode escapar à
sentença que lhe marca o termo da existência, nem ao gênero de morte que haja
de cortar a esta o fio".
Devemos
destacar que somente os acontecimentos importantes e capazes de influir na
nossa evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à nossa
purificação e à nossa instrução ("O LE", Q. 859a). Entretanto,
"o amor que cobre multidão de erros", em sintonia com a Lei de Ação e
Reação e com o livre-arbítrio, pode evitar acontecimentos que deveriam
realizar-se, como igualmente permitir outros que não estavam previstos
("OLE", Q.860).
Portanto, o
acaso não tem participação nas determinações divinas. O Pai nos ama
incondicionalmente e nos proporciona a oportunidade da redenção espiritual,
dando-nos a chance bendita de resgatarmos as infrações do passado contrárias às
Suas Leis, de várias formas, inclusive coletivamente. As expiações coletivas,
segundo "O Livro dos Espíritos", questão 737, oferecem o ensejo de
progredirmos mais depressa no rumo evolutivo, realizando-se em alguns anos o
que necessitaria de muitos séculos.
Como se
processa a convocação dos encarnados para o evento da desencarnação coletiva?
Qual a explicação espiritual para o fato de muitas pessoas saírem ilesas das
catástrofes, algumas até mesmo perdendo o embarque do meio de transporte a ser
acidentado? As respostas são baseadas nas premissas de que o acaso não pode reger
fenômenos inteligentes e na certeza da infalibilidade da Lei Divina, agindo por
conta de espíritos prepostos, sob a subordinação das entidades superioras.
Na Q. 459 de
"OLE", A.K., perguntando se os espíritos influem em nossos
pensamentos e em nossos atos, obteve a seguinte resposta: "Muito mais do
que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos
dirigem". Portanto, há influência marcante, embora oculta, dos espíritos
em nossos atos, sugerindo pensamentos, "dando a impressão de que alguém
nos fala" (Q.461). Recebemos uma sugestão mental, funcionando a nossa
mente como um aparelho emissor-receptor, de acordo com a nossa sintonia. As
questões 526, 527 e 528 de "OLE" são importantíssimas para esse
entendimento, desde que ao espíritos, na execução dos desígnios divinos, atuam
sobre a matéria para cumprimento das Leis da Providência, nunca as derrogando.
Na produção
de fatos voluntários, as entidades valem-se das circunstâncias naturais para
gerar os acontecimentos. Se soar o momento de alguém desencarnar e "era
destino dele perecer por conta de um acidente", pode a espiritualidade lhe
inspirar para subir em uma escada podre que não resista ao seu peso. A escada
não foi quebrada pelos espíritos.
Em outro
exemplo, "um homem tem que morrer eletrocutado por um raio". Os
espíritos lhe inspiraram a ideia de se abrigar debaixo de uma árvore sobre a
qual cairia a descarga elétrica. As entidades não provocaram a produção do
raio, mas sabiam qual a árvore a ser atingida.
Em outro
ensinamento bem prático, "se alguém não tem que perecer" e uma pessoa
mal intencionada dispara sobre ele um projétil de fogo, os espíritos não atuam
desviando a trajetória da bala, já que o projétil tem que seguir o seu curso de
acordo com as leis da matéria; entretanto, a espiritualidade lhe sugere a ideia
de se desviar ou atrapalhar a quem está empunhando a arma. Importante esse
ensinamento, desde que muitas pessoas moram e circulam em locais bem perigosos,
principalmente nas grandes cidades brasileiras, e somente perecerão por balas
perdidas se estiverem subordinadas a essa programação.
É muito
importante o ensinamento de que o mal não é programado, isto é, ninguém nasce
para ser agente de cumprimento de prova ou expiação, como é descrito na Q. 470
de "OLE": "a nenhum espírito é dada a missão de praticar o mal.
Aquele que o faz fá-lo por conta própria, sujeitando-se, portanto, às
consequências'.
Muitas
pessoas que possuem habilidades no campo da precognição ou premonição conseguem
prever tragédias futuras. Citamos o irlandês Zak Martin, descrevendo um avião
colidindo num arranha-céu e explodindo em chamas. Seis dias após, dois aviões
comerciais foram lançados contra as torres gêmeas, em Nova York. O terrível
naufrágio do Titanic foi pressentido por algumas pessoas como o empresário
inglês Middleton que sonhou durante duas noites seguidas com um navio de quilha
para o ar, cercado de pessoas e bagagem boiando. Resolveu, então, cancelar sua
viagem e a de seus familiares. Um marinheiro recusou a função de subchefe de
máquinas por causa de uma premonição de desastre. A sensitiva americana Sylvia
Browne, em outubro de 2004, disse em pleno programa de TV que os turistas
deveriam evitar viajar para a Índia. Dois meses depois parte do país mencionado
foi atingido pelo tsunami.
Na literatura
subsidiária espírita temos algumas fontes de consulta a respeito do assunto em
tela: 1- Em 17 de dezembro de 1961, em Niterói (RJ), aconteceu a trágica
tragédia num circo, relacionado, segundo o espírito Humberto de Campos, como
expiação coletiva, envolvendo romanos que assassinaram dezenas de cristãos, em
um circo armado em Lião, no ano de 177 ("Cartas e Crônicas, cap. 6,FEB);
2- O incêndio do Edifício Joelma, em São Paulo, com muitas vítimas, foi
explicado como dívidas reportadas ao tempo das guerras da Cruzadas ("
Diálogo dos Vivos", cap. 26); 3- Emmanuel, através da psicografia de Chico
Xavier, na questão 250 do livro "O Consolador", esclarece-nos:
"na provação coletiva verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados,
participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O
mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona então espontaneamente,
através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas na dívida do
pretérito para os resgates em comum, razão por que, muitas vezes, intitulais -
doloroso acaso - às circunstâncias que reúnem as corpo físico ou as mais
variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais" e André
Luiz, no capítulo 18, do livro "Ação e Reação", psicografado por
Chico Xavier, descreve as palavras do benfeitor espiritual Druso, a respeito de
um acidente ocorrido com uma aeronave, na qual pereceram 14 pessoas.
Ressaltamos a informação de que "milhares de delinquentes que praticaram
crimes hediondos em rebeldia contra a Lei Divina encontram-se, ainda, sem terem
os débitos acertados."
Que tenhamos
a certeza de que o amor de Deus é incomensurável e existe uma razão espiritual
para as tragédias que deixam aterrorizadas as criaturas terrenas. Tudo tem uma
finalidade, a casualidade não existe. O Pai nos proporciona a todos nós, seus
filhos, herdeiros e viajores do Cosmos, a sua Eterna Misericórdia.
Fonte:
Américo Domingos Nunes Filho
Correio
Espírita
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