O assunto
não foi, evidentemente, tratado por Kardec, mas o Dr. Jorge Andréa, no seu
livro Psicologia Espírita, págs. 42 e 43, examinando o tema, assevera que não
há nenhuma dúvida de que, nas condições atuais da vida em que nos encontramos,
os transplantes devem ser utilizados.
“A conquista
da ciência é força cósmica positiva que não deve ser relegada a posição
secundária por pieguismos religiosos. Por isso, chegará o dia em que poderemos
avaliar até que ponto as influências espirituais se encontram nesses
mecanismos, a fim de que as intervenções sejam coroadas de êxito e pleno
entendimento”.
Perguntaram
a Chico Xavier se os Espíritos consideram os transplantes de órgãos prática
contrária às leis naturais.
Chico
respondeu: “Não. Eles dizem que assim como nós aproveitamos uma peça de roupa
que não tem utilidade para determinado amigo, e esse amigo, considerando a
nossa penúria material, nos cede essa peça de roupa, é muito natural, aos nos
desvencilharmos do corpo físico, venhamos a doar os órgãos prestantes a
companheiros necessitados deles, que possam utilizá-los com segurança e
proveito”.
Todos
podemos doar nossos órgãos ou há casos em que isso não se recomenda?
É claro que
todos podemos.
A extração
de um órgão não produz reflexos traumatizantes no perispírito do doador.
O que lesa o
perispírito, que é nosso corpo espiritual, são as atitudes incorretas
perpetradas pelo indivíduo, e não o que é feito a ele ou ao seu corpo por
outras pessoas.
Além disso,
o doador desencarnado é, muitas vezes, beneficiado pelas preces e pelas
vibrações de gratidão e carinho por parte do receptor e de sua família.
A
integridade, pois, do perispírito está intimamente relacionada com a vida que
levamos e não com o tipo de morte que sofremos ou com a destinação de nossos
despojos.
Há casos, no
entanto, que a doação ou a extração de órgãos não se recomenda.
No dia 6 de
fevereiro de 1996, atendemos um Espírito em sofrimento, que recebera o coração
de um jovem morto num acidente, o qual, sem haver compreendido que
desencarnara, o atormentava no plano espiritual, reclamando o coração de volta.
Curiosamente,
o Espírito que recebera o órgão sabia estar desencarnado e lembrava até de
haver doado as córneas a outra pessoa.
Indagaram a
Chico Xavier: “Chico, você acha que o espírita deve doar as suas córneas? Não
haveria nesse caso repercussões para o lado do perispírito, uma vez que elas
devem ser retiradas momentos após a desencarnação do indivíduo?”.
Respondeu o
bondoso médium mineiro (“Folha Espírita”, nov/82, apud “Chico, de Francisco”,
pág. 84):
“Sempre que
a pessoa cultive desinteresse absoluto em tudo aquilo que ela cede para alguém,
sem perguntar ao beneficiado o que fez da dádiva recebida, sem desejar qualquer
remuneração, nem mesmo aquela que a pessoa humana habitualmente espera com o
nome de compreensão, sem aguardar gratidão alguma, isto é, se a pessoa chegou a
um ponto de evolução em que a noção de posse não mais a preocupa, esta criatura
está em condições de dar, porque não vai afetar o perispírito em coisa alguma.
No caso
contrário, se a pessoa se sente prejudicada por isso ou por aquilo no curso da
vida, ou tenha receio de perder utilidades que julga pertencer-lhe, esta
criatura traz a mente vinculada ao apego a determinadas vantagens da existência
e com certeza, após a morte do corpo, se inclinará para reclamações descabidas,
gerando perturbação em seu próprio campo íntimo. Se a pessoa tiver qualquer
apego à posse, inclusive dos objetos, das propriedades, dos afetos, ela não
deve dar, porque ela se perturbará”.
Anos depois
dessa resposta, registrou-se o caso Wladimir, o jovem suicida que foi aliviado
em seus sofrimentos post-mortem graças às preces decorrentes da doação de
córneas por ele feita, mostrando que, mesmo em mortes traumáticas como essa, a
caridade da doação, quando praticada pelo próprio desencarnante, é largamente
compensada pelas leis de Deus.
(O caso
Wladimir é narrado no livro “Quem tem medo da morte?”, de Richard Simonetti.)
Do site “O
Consolador” - Estudos Espíritas
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