O processo
envelhecer demanda uma atenção especial em virtude das modificações biológicas,
psicológicas e sociais, sendo necessária uma maior atenção por parte da
sociedade e formulação e efetivação de políticas públicas voltadas para o
idoso. Em muitas tradições e civilizações, principalmente as orientais, o idoso
é visto com respeito e veneração, representando uma fonte de experiência, do
valioso saber acumulado ao longo dos anos, da prudência e da reflexão, enquanto
em outras culturas o idoso representa “o velho”, “o ultrapassado” e “a falência
múltipla do potencial do ser humano” – é lamentável!
Quanto mede
o respeito e veneração pelo idoso? Toda a paciência e dedicação do mundo. A
amostra disso é o exemplo da jovem Huang Li Hua, de 24 anos, que se dedica a
carregar literalmente nas próprias costas a sua avó Wan Zongsiu, de 88 anos,
todos os dias para o seu restaurante, livrando-a da solidão. O caminho é
percorrido diariamente no sudoeste de Chongqing, município da China. Huang é
proprietária de um fast food, com tudo fluindo bem. Ela não se esquece da avó,
que na sua infância muitas vezes a acolheu. Huang lembra que, quando era
criança, a avó cuidava dela enquanto os seus pais trabalhavam na lavoura, e
agora é a vez da neta mostrar seus cuidados com a senhora Wan, sua avozinha. [1]
Admirável o comportamento da jovem Huang, sem dúvida.
Refletindo
sobre a questão da velhice, propriamente dita, cremos que deveria ser encarada
como ditosa pelo que contém de gratificante, mormente por causa das longas
refregas das buscas e das realizações. Envelhecer é uma arte e uma ciência, se
buscarmos rejuvenescer nossa alma. Há idosos que conquistaram a longevidade de
forma sadia e feliz, contudo muitos estão largados nos asilos da vida,
amargando suas enfermidades no isolamento. Há os que aceitam sua decrepitude
sem rezingar e sem exigir nada dos outros; todavia igualmente indiferentes não
oferecem nada a ninguém. Dizem que a idade avançada é a noite da Vida,
entretanto, a noite pode ser bela, clara, toda ornamentada de estrelas e
constelações, luar e claridade a se esparzirem de uma longa vida cheia de
virtude, bondade e honra! O entendimento espírita vê a idade avançada como o
outono no tempo, fase normal, necessária, imprescindível na sucessão harmônica
dos objetivos e funções da encarnação, envolta, igual a todas as outras, nos
dons da Natureza, nas bênçãos de Deus.
O tempo é
implacável e excelso transformador de destinos. Muitas vezes não compreendemos
os segredos do tempo que se esvanece ligeiro na vida material. Há aqueles que
envelhecem e pouco realizam nas instâncias do bem ao próximo. Há, contudo,
aqueles que consolidam em si a possante fé cristã, praticando inteiramente o
amor ao próximo. Abraham Lincoln dizia que não são os anos em sua vida que
importam, mas a vida em seus anos. O pensador Alexis Carrel proferia frase
semelhante, dizendo que o importante não é acrescentar anos à sua vida, mas
vida aos seus anos. O médico alemão Harry Benjamin endossou as ideias de
Lincoln e Carrel pronunciando: “não queira acrescentar dias à sua vida, mas vida
aos seus dias.”. Os anos não passaram em vão na vida de David Livingstone,
escritor de inesquecíveis contos literários que o projetaram no Século XIX ao
lado de deuses da literatura mundial, a exemplo de Victor Hugo. David entoou os
doces cânticos da Mensagem de Jesus para os nativos sul-africanos. Renunciou
aos apelos da fama, abandonou a Escócia, sua terra natal, e juntou-se àquelas
almas sofredoras, nascidas na mais dura dificuldade material na África.
Bela foi a
velhice de Florence Nightingale, a ilustre “Dama da Lâmpada”; ela que vestiu a
túnica da abnegação, afastando-se do convívio do esplendor inglês, a fim de
adotar, voluntariamente, a penosa empreitada de socorrer as vítimas da Guerra
da Criméia, no século XIX. Os anos não passaram em vão nos projetos de vida de
Jean Henrique Dunant, que inspirado nas virtudes da fundadora da primeira
escola de enfermagem da Terra, escreveu o livro “Un Souvenir de Solferino”,
publicado em 1862, em que sugeria a criação de grupos nacionais de ajuda para
apoiar os feridos em situações de guerra, e propôs a criação de uma organização
internacional que permitisse melhorar as condições de vida e prestar auxílio às
vítimas da guerra. Em 1863, Dunant fundou a Cruz Vermelha Internacional,
reconhecida, no ano seguinte, pela Convenção de Genebra.
Uma das dez
mulheres mais importantes dos Estados Unidos, no século XX, Hellen Keller
envelheceu c om coragem e determinação robusta para vencer suas limitações
físicas, pois era surda, muda e cega de nascença. Contudo, um dia Keller conseguiu
falar e soltou o verbo como ninguém. O vigor moral fez dela uma singular
mulher, com grande projeção no cenário do mundo. Na decrepitude o seu verbo
infundia ao Homem a necessária reflexão sobre o quanto somos potencialmente
ilimitados quando amamos o próximo. Caminhos idênticos palmilhados por Eartha
Mary Magdalene White. Por onde andava, os famintos, os aflitos e os
desamparados, de todas as idades, sentiam a sua presença compassiva e
animadora.”. Fundou uma Instituição de amparo ao negro e foi uma verdadeira
lenda no norte da Flórida, Estados Unidos. Os anos não passaram em vão em sua
vida, pois desencarnou em 1974, com 95 anos de idade, deixando um segredo
inscrito numa frase para vivermos a grande mensagem: – “Façam todo o bem que
puderem, de todos os modos, em todos os lugares, para todas as pessoas,
enquanto puderem.”
Antes de
encerrar, formulemos a seguinte reflexão: A idade corporal nem sempre
corresponde à idade espiritual, e vice-versa. Neste instante um Espírito muito
antigo está habitando um corpo novo, da mesma forma um Espírito jovem está
animando um corpo envelhecido. Isso não significa dizer, porém, que a juventude
ou a velhice do Espírito insinuem, decisivamente, a falta de saber ou o atraso
de um e a sabedoria e a evolução de outro até porque “Deus criou [os Espíritos]
simples e ignorantes e a todos concedeu as mesmas oportunidades, não obstante
as diferenças das missões individuais, a fim de alcançarem a perfeição pelo
conhecimento da verdade.”[2] Daí decorre que, “perante Deus existe a mais
absoluta igualdade natural [entre os Espíritos]”[3], e que o desenvolvimento
moral de cada um é encargo de sua competência exclusiva (velhos e jovens), uma
vez que o plano do Criador não admite exceções, imunidades ou primazias para
qualquer criatura.
Jorge Hessen
Referências
bibliográficas:
1 Disponível
em
http://www.hypeness.com.br/2014/07/jovem-se-dedica-a-avo-carregando-a-todos-os-dias-para-o-trabalho-para-que-nao-que-sozinha/
acesso 05/11/2014
2 Kardec
Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro: Ed. FEB 20d00, perg.115
3 Idem perg.
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