Francisca, humilde moradora dos
Alagados na cidade de Salvador, BA e frequentadora da Mansão do Caminho.
Certa ocasião Divaldo fora chamado
com urgência para atender Francisca que estava à beira da desencarnação. Lá
chegando sentou-se ao lado de Francisca que reunindo suas últimas forças
contou-lhe detalhes de sua vida pessoal.
Narrou que era mãe solteira pois que
fora abandonada pelo venal companheiro ao tomar conhecimento da gravidez e
expulsa do lar pelos pais. Essas injunções não tiveram o poder de diminuir o
seu amor pelo filho, e para assisti-lo extenuava-se no trabalho de lavadeira e
de vendedora de acarajé o que lhe permitiu custear todos os estudos e
necessidades do filho que graças a toda a dedicação materna logrou ser aprovado
no vestibular da Faculdade de Medicina, exigindo de Francisca a ampliação de
seus esforços.
Sua dedicação era tanta que logrou
obter – junto a um médico e habitual freguês de seu acarajé – emprego para seu
filho sem identificar, contudo, que era sua mãe.
Chegara, finalmente, a data de
formatura e Francisca preparara-se com esmero para aquela ocasião à qual tanto
lutara e se sacrificara. Sentia que atingira o objetivo maior de sua vida.
Antecipava no coração a alegria que proporcionaria ao filho ao lhe dar – na
cerimônia de colação de grau – o anel de formatura.
Horas antes de seguir para o local da
cerimônia seu filho a procurara no barraco e pediu à mãe que não comparecesse
ao evento. Aproveitaria a ocasião para marcar o casamento com a noiva – filha
única do diretor e proprietário da Clínica onde ele trabalhava – que
desconhecia a existência de Francisca, informação propositalmente omitida pelo
filho à futura esposa.
Francisca dissimulou o impacto
emocional da ingratidão do filho e, entregando-lhe o estojo luxuoso com o anel
de formatura, beijou-lhe a face dele se despedindo.
“Deveis sempre ajudar os fracos,
embora saibais de antemão que os a quem fizerdes o bem não vo-lo agradecerão.
Ficai certos de que, se aquele a quem prestais um serviço o esquece, Deus o
levará mais em conta do que se com a sua gratidão o beneficiado vo-lo houvesse
pago. Se Deus permite por vezes sejais pagos com a ingratidão, é para
experimentar a vossa perseverança em praticar o bem”.
Não saiba a vossa mão esquerda o que
dê a vossa mão direita.
Francisca - respirando com extrema
dificuldade pela iminência da desencarnação - reuniu suas derradeiras forças e
segurando as mãos de Divaldo fez-lhe o derradeiro pedido. Caso o filho viesse
procurá-lo, Divaldo devia dizer-lhe que ela não tinha pelo filho nenhuma mágoa
ou ressentimento pelo simples fato de o amar incondicionalmente. Feito o pedido,
desencarnou.
Semanas mais tarde - como previra
Francisca – o filho buscara informações sobre a mãe e foi aconselhado a buscar
Divaldo Franco que acompanhara as derradeiras palavras da mãe.
Com o coração em frangalhos
destroçado pela culpa, o filho recebeu a notícia que veio arrefecer-lhe a
angústia: A mãezinha não lhe guardava mágoa e naquele momento – nimbada de
mirífica luz - apresentava-se à visão psíquica de Divaldo acariciando o seu
menino a quem amava tanto.
Em pranto copioso e sentido de catarse,
o filho de Francisca pediu uma oportunidade para assistir aos irmãos desvalidos
trabalhando na Mansão do Caminho como médico voluntário. Tornou-se – afirma
Divaldo concluindo a narrativa de Francisca, a vendedora de acarajés que a
todos emocionaram – modelo de dedicação e amor ao próximo atendendo a pobreza e
os desvalidos do bairro onde a mãezinha vivera.
“Ah! Meus amigos, se conhecêsseis
todos os laços que prendem a vossa vida atual às vossas existências anteriores;
se pudésseis apanhar num golpe de vista a imensidade das relações que ligam uns
aos outros os seres, para o efeito de um progresso mútuo, admiraríeis muito
mais a sabedoria e a bondade do Criador, que vos concede reviver para chegardes
a Ele”. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XIII Não saiba a vossa mão
esquerda o que dê a vossa mão direita, Item 19 Benefícios pagos com a
ingratidão.
Divaldo Pereira Franco
Fonte: Mensagem Espírita
Nenhum comentário:
Postar um comentário