O médium baiano Divaldo Pereira
Franco, conta uma emocionante história em uma de suas palestras. Certo dia, um
casal o procurou para contar um triste episódio de suas vidas. Contou-lhe a
esposa:
"Éramos felizes com nossos seis
filhos. Entre eles nossa garotinha de cinco anos que chamava-se Margarete. Até
que um dia, uma terceira personagem apareceu em nossas vidas. Meu marido, homem
sempre bom, atencioso, excelente pai, não reagiu às circunstâncias e,
lentamente, trocou o nosso lar por outro. Começou a visitar essa criatura, a
diminuir a constância para conosco, enquanto aumentava a sua presença junto a
ela. Deixou de vir à casa. Passou a estar conosco apenas periodicamente. Nossa
Margarete, a quem ele tanto amava, passou a murchar como uma flor de estufa que
perdesse a vitalidade. Um ano se passou terrível. Iniciamos o processo de
desquite para o futuro divórcio. Eu tentava contornar o assunto. Mas Margarete
chorava e não dizia nada. Quando ele chegava, tomava-lhe as mãos pequeninas e
dizia-lhe:
"Meu bem, quando você crescer,
quando compreender o mundo e souber de todas as coisas duras da vida, se não
puder perdoar alguma coisa má, ao menos desculpe, sim? Você me promete?"
Margarete respondia dizendo:
"Prometo, papai."
Ela não cansava de implorar que ele
voltasse a dormir em casa. No tormento em que se debatia nos conflitos de
consciência, meu esposo iniciou o retorno. Vinha aos sábados e ia-se aos
domingos à tarde. Depois já aparecia no meio da semana. Passou a dormir e a
fazer as refeições em casa. Fez a viagem de volta, o retorno ao lar. Até que me
pediu perdão e permissão para voltar. Eu aceitei. Quando tudo parecia voltar ao
normal, nossa Margarete, sumiu na saída da escola. Nenhuma notícia. Percorremos
a cidade enlouquecidos. Pronto-socorro, hospitais, necrotérios, rodoviária,
nada . . . Dias após, crianças encontraram o corpo de nossa filhinha Margarete
em matagal. Despedaçado, em putrefação. A polícia instaurou inquérito. Quem
poderia ser? De suspeita em suspeita chegou-se à antiga companheira de meu
marido. Levada a interrogatório severo, confessou:
"Matei! Mataria outra vez, mil
vezes, porque ela me desgraçou. Tomou de mim o homem a quem eu amava. Para
vingar-me, raptei-a e matei-a, para ela nunca mais fazer isso com
ninguém."
Enlouquecido e desesperado, meu
marido queria ir ao cárcere decepar as mãos da criminosa e matar-se depois . .
. Foi neste estado de ódio, que ouvimos falar de um homem bom como a água
refrescante da fonte: Francisco Cândido Xavier. Fomos procurá-lo, e quando ele
passou perto de nós gritei:
"Chico, mataram minha
filha!"
Ele passou a mão na minha cabeça e
disse:
"Meu bem, ninguém mata ninguém.
Sua filhinha vive. Nossa Margarete está aqui. Foi trazida pela avozinha.
Acalme-se. Você não confia em Deus?"
Sentei-me. Na madrugada de sábado,
chamaram pelo meu nome e pelo do meu marido. Era uma mensagem de nossa filha
Margarete. Não sei até hoje o que senti. A mensagem dizia:
"Mãezinha, meu querido papai!
Vim, para dizer-lhes que estou viva! Se alguém pensou em me magoar, não
conseguiu, papai. Não sei explicar a vocês como tudo aconteceu. Eu me recordo
que saía do Jardim de Infância, quando uma pessoa me chamou. Segurou-me, fez-me
entrar no carro. Eu não sei o que me aconteceu, mas ninguém me magoou. Não
fique triste, papai. Não senti nada. Só saudade. Eu dormi. Se cortaram o meu
corpo, não vi. Soube depois. Se ficou todo quebradinho, também não vi. Dormi e
quando acordei vovó Felicidade me acarinhava, pedindo que eu acordasse. Eu
perguntei o que fazia ali, e perguntei por vocês. Ela me explicou que não
poderia vê-los por enquanto, porque eu estava num hospital recebendo
tratamento. Chorei muito com saudade de vocês (e citou o nome dos irmãos).
Naquele momento, entrou uma moça
bonita, bem vestida, parecendo professora que se apresentou dizendo ser a tia
Lídia, sua irmã mamãe, dizendo estar ali para substitui-la. Foi então que ela
me contou que estava morta e eu também. Depois pediu que eu dormisse. Voltei a
dormir. Quando acordei, titia e vovó me disseram que vocês estavam sofrendo
muito. Eu pedi para vê-los, para abraçá-los e vi você com ódio, papai.
Paizinho, você se lembra do que me dizia? - 'Se não puder perdoar, pelo menos
desculpe'. Paizinho, desculpe! Ninguém nos fez nenhum mal. Eu tinha que voltar
para cá e voltei. Mas nunca, nunca mais nos separaremos. Vovó está dizendo que
devemos perdoar, e se não pudermos, temos o dever de desculpar. Voltarei outro
dia, papai. Eu vim pedir-lhes que desculpem. Paizinho, até já! Mamãe querida,
você que é mãe, me compreende melhor, portanto, perdoe! Beija-os a sempre sua,
Margarete." O senhor pode imaginar o que sentimos . . . Demo-nos as mãos.
Voltamos para casa. É ainda difícil perdoar, mas pelo menos, a gente está
tentando desculpar
Disse Jesus: " Se perdoardes aos
homens as faltas que cometerem contra vós, também vosso Pai celestial vos
perdoará os pecados; mas, se não perdoardes aos homens quando vos tenham
ofendido, vosso Pai celestial também não vos perdoará os pecados."
(Mateus, VI - 14-15)
Fonte: GRUPO DE ESTUDO ALLAN KARDEC
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