Essa é uma dúvida muito comum. Quase
todas as pessoas que acreditam em Deus podem se perguntar: Mas por que Deus,
que é soberanamente justo, bom e misericordioso, nos coloca diante da prova do
afastamento das pessoas que amamos, principalmente com a morte?
Algumas pessoas podem responder que
Deus não nos afasta de ninguém, mas sim as circunstâncias da vida ou o livre
arbítrio humano é que criam essas situações. Quem duvida que Deus seja o autor
desse afastamento, pode se reportar ao texto “Deus e Perfeição”, no blog de
Hugo Lapa, onde essa ideia é explicada em detalhes.
Mas então qual seria o propósito
desse afastamento? Alguns dirão que Deus nos afasta do outro para que possamos
começar a valorizar mais a outra pessoa. Essa valorização ocorre de fato, pois
o ser humano sempre dá mais valor aquilo que perde ou aquilo que não pode ter.
Mas esse ainda não é o propósito maior do afastamento. Outros dirão que o
propósito é nossa evolução e aprendizado. Sim, isso está correto, mas não
explica as nuances do tema, pois todas as provas da vida humana tem como
finalidade última o progresso incessante do nosso espírito. Assim, pode-se
perguntar: evolução visando o que? Quando um espírito evolui, ela passa de um
estado inferior a um estado superior. Qual seria, nesse caso, o estado ou o
propósito mais elevado criado pelo afastamento daqueles que amamos?
Para responder essa pergunta, vamos
analisar quais são os dois maiores mandamentos de Deus segundo Jesus.
Encontramos essa resposta no Evangelho de Marcos, capítulo 12:
Aproximou-se dele um dos escribas que
os tinha ouvido disputar, e sabendo que lhes tinha respondido bem,
perguntou-lhe: Qual é o primeiro de todos os mandamentos?
E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de
todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de
todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de
todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento.
E o segundo, semelhante a este, é:
Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que
estes. (Marcos 12:28-31)
Jesus deixa claro que o maior
mandamento da lei é “Amar a Deus sobre todas as coisas” e o segundo mandamento
é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Esse é, segundo Jesus, o maior
mandamento e também, obviamente, o objetivo máximo do ser humano na Terra, ou
da alma encarnada neste mundo. Observe que Jesus não disse: “Ama tua mãe”; “Ama
teu pai”; “Ama teu filho”; “Ama teu irmão de sangue”; “Ama este ou aquele”.
Não, Jesus não faz referência a isso. Jesus apenas diz para amarmos a Deus
acima de tudo e amarmos o nosso próximo como amamos a nós mesmos.
Em outra passagem, quando alguém
avisou a Jesus que sua mãe e seus irmãos estavam o esperando do lado de fora,
ele disse: “Quem é minha mãe e quem são meus irmãos?” Jesus olhou a sua volta e
disse: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Porquanto, qualquer que fizer a
vontade de Deus, esse é meu irmão, e minha irmã, e minha mãe” (Marcos 3:34,35).
Nessa passagem Jesus deixa clara uma nova ideia de fraternidade. Jesus
compreendia sua verdadeira família não como aquela constituída pelos laços
consanguíneos, mas sim como uma irmandade universal, que todos poderiam fazer
parte, e que o sentido dessa família maior seria a realização da vontade
divina. Assim, Jesus expande nosso conceito de família para além dos laços
biológicos e afetivos. Jesus não disse para amarmos uma ou outra pessoa. Ele
deixou claro que devemos amar a todas as pessoas, de forma plena e
incondicional. Isso está muito claro nos ensinamentos cristãos, assim como na
doutrina de outras religiões. A fraternidade entre os seres não deve se
limitar, não deve ser circunscrita; ser enquadrada apenas em nossos afetos
biológicos ou nos relacionamentos amorosos. A família autêntica, verdadeira, natural
e real deve abranger a todos; deve ser universal, romper fronteiras e englobar
todos os seres viventes.
Dessa forma, qual o sentido do
afastamento das pessoas que nos são caras? Como já dissemos em outra ocasião, o
significado é simples: Deus nos afasta daqueles que amamos para que possamos
amar todas as pessoas. Deus não quer que amemos apenas uma pessoa, duas
pessoas, três pessoas, dez pessoas. Ele quer que amemos todas as pessoas, todos
os seres humanos, e que sejamos uma grande irmandade, uma fraternidade
universal e espiritual, que não conhece barreiras, nem condições, nem qualquer
tipo de restrição, forma ou requisito. O ser humano quase sempre ama de forma
egoísta, limitada, cheio de posse e com várias condicionalidades. Eu amo ele,
mas não amo você. Eu amo minha mãe, mas não amo a mãe dele. Eu quero que meu
filho seja doutor, o filho do outro pode ser lixeiro que não tem importância.
Eu amo meu namorado e o protejo antes do namorado da outra.
Esse típico comportamento humano não
é aceitável nos planos mais elevados do espírito. Para a alma, não há pais,
filhos, irmãos, marido, esposa etc. Há apenas almas que foram criadas por Deus
e que perseguem juntas o mesmo desígnio: o progresso espiritual e sua
aproximação com Deus. Todos devem amar a todos, respeitar uns aos outros, um
proteger a todos e todos protegerem um. As pessoas precisam compreender uma
coisa muito importante: o amor limitado sempre nos conduzirá ao sofrimento,
posto que, se eu amo uma pessoa e a perco, eu sofro. No entanto, se eu amar
todas as pessoas, ou todos os seres da criação, como eu poderia perder algo?
Quem ama apenas um, dois ou três, sofre… pois há sempre a possibilidade da
perda, a saudade, a decepção, a traição, o ciúme etc. Mas quem ama o todo, não
pode jamais sofrer, pois quem pode perder o todo, o cosmos, ou a fraternidade
universal dos seres? Quando amamos a todos, não há perda… mas quando nosso amor
é egoísta e abrange apenas um ou outro, sempre… sempre haverá sofrimento, seja
pela distância, seja pela morte, seja pela traição, seja pela decepção, ou por
qualquer outro motivo.
Dessa forma, para Deus não faz
sentido eu amar um e não
amar o outro; não faz sentido
proteger um e não proteger o outro; não faz sentido eu desejar o bem de um e
estar indiferente ao bem do outro; não faz sentido eu tentar soerguer um e
passar direto diante do outro que está quedado no chão. Vamos lembrar que Deus
não conhece limites, fronteiras, condições, categorias, esferas, classes,
posições etc. É certo que o plano divino não conhece limites, pois tudo no
cosmos é infinito e eterno. Da mesma forma, o amor divino tampouco contém
qualquer tipo de controle, redução, ressalva, condição etc. O amor de Deus
abrange a todos, sem exceção. E para que possamos nos aproximar do amor divino,
é preciso que nosso amor seja cada vez mais universal, impessoal, incondicional
e ilimitado. Todos devem trabalhar pelo bem de todos… mas o ser humano ocupa-se
apenas com o bem dos que lhe são caros, daqueles que ele tem algum afeto.
Jamais haverá evolução enquanto uma pessoa cuidar apenas de quem gosta e deixar
de lado todas as outras pessoas. O amor não conhece limites… o amor é
universal, caso contrário, é apenas egoísmo, apego ou limites passionais e
emocionais que continuarão mantendo o espírito preso e infeliz na noite sombria
do sofrimento.
(Hugo Lapa)
Fonte: Portal do Espritualismo
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