Todo ano, a cena se repete. Chega a época dos feriados católicos da chamada "Semana Santa" e surgem as questões:
Como o Espiritismo encara a Páscoa;
Sexta-feira Santa"?;
Qual o procedimento do espírita no chamado "Sábado de aleluia" e "Domingo de Páscoa"?;
Como fica a questão do "Senhor Morto"?
Sabe
que chego a surpreender-me com as perguntas. Não quando surgem de
novatos na Doutrina, mas quando surgem de velhos espíritas,
condicionados ao hábito católico, que aliás, respeitamos muito.
É
importante destacar isso: o respeito que devemos às práticas católicas
nesta época, desde à chamada época, por nossos irmãos denominada de
quaresma, até às lembranças históricas, na maioria das cidades
revividas, do sacrifício e ressurgimento de Jesus. Só que embora o
respeito devido, nada temos com isso no sentido das práticas
relacionadas com a data.
São
práticas religiosas merecedoras de apreço e respeito, mas distantes da
prática espírita. É claro que há todo o contexto histórico da questão,
os hábitos milenares enraizados na mente popular, o condicionamento com
datas e lembranças e a obrigação católica de adesão a tais práticas.
Para
a Doutrina Espírita, não há a chamada "Semana Santa", nem tão pouco o
"Sábado de aleluia" ou o "Domingo de Páscoa" (embora nossas crianças não
consigam ficar sem o chocolate, pela forte influência da mídia no
consumismo aproveitador da data) ou o "Senhor Morto". Trata-se de
feriado e prática católica e portanto, não existem razões para adesão de
qualquer tipo ou argumento a tais práticas.
É
absolutamente incoerente com a prática espírita o desejar de "Feliz
Páscoa!", a comemoração de Páscoa em Centros Espíritas ou mesmo
alteração da programação espírita nos Centros, em virtude de tais
feriados católicos. E vejo a preocupação de expositores ou articulistas
em abordar a questão, por força da data... Não há porque fazer-se
programas de rádio específicos sobre o assunto, palestras sobre o tema
ou publicar artigos em jornais só porque estamos na referida data. É
óbvio que ao longo do ano, vez por outra, abordaremos a questão para
esclarecimento ou estudo, mas sem prender-se à pressão e força da data.
Há
uma influência católica muito intensa sobre a mente popular, com
hábitos enraizados, a ponto de termos somente feriados católicos no
Brasil, advindos de uma época de dominação católica sobre o país,
realidade bem diferente da que se vive hoje. E os espíritas, afinados
com outra proposta, a do Cristo Vivo, não têm porque apegar-se ou
preocupar-se com tais questões.
Respeitemos
nossos irmãos católicos, mas deixemo-los agir como queiram, sem o
stress de esgotar explicações. Nossa Doutrina é livre e deve ser
praticada livremente, sem qualquer tipo de vinculação com outras
práticas. Com isso, ninguém está a desrespeitar o sacrifício do Mestre
em prol da Humanidade. Preferimos sim ficar com seus exemplos, inclusive
o da imortalidade, do que ficar a reviver a tragédia a que foi levado
pela precipitação humana.
Inclusive
temos o dever de transmitir às novas gerações a violência da malhação
do Judas, prática destoante do perdão recomendado pelo Mestre,
verdadeiro absurdo mantido por mera tradição, também incoerente com a
prática espírita.
A
mesma situação ocorre quando na chamada quaresma de nossos irmãos
católicos, espíritas ficam preocupados em comer ou não comer carne, ou
preocupados se isto pode ou não. Ora, ou somos espíritas ou não somos!
Compara-se isso a indagar se no Carnaval os Centros devem ou não abrir
as portas, em virtude do pesado clima que se forma???!!!... A Doutrina
Espírita nada tem a ver com isso. São práticas de outras religiões, que
repetimos, respeitamos muito, mas não adotamos, sendo absolutamente
incoerente com o espírita e prática dos Centros Espíritas, qualquer
influência que modifique sua programação ou proposta de vida.
Esta
abordagem está direcionada aos espíritas. Se algum irmão católico nos
ler, esperamos nos compreenda o objetivo de argumentação da questão,
internamente, para os próprios espíritas. Nada a opor ou qualquer
atitude de crítica a práticas que julgamos extremamente importantes no
entendimento católico e para as quais direcionamos nosso maior respeito e
apreço.
Vemos
com ternura a dedicação e a profunda fé católica que se mostram com
toda sua força durante os feriados da chamada Semana Santa e é claro,
nas demais atividades brasileiras que o Catolicismo desenvolve.
O
objetivo da abordagem é direcionado aos espíritas que ainda guardam
dúvidas sobre as três questões apresentadas no início do artigo. O
Espiritismo encara a chamada Sexta-feira Santa como uma Sexta-feira
normal, como todas as outras, embora reconhecendo a importância dela
para os católicos. Também indica que não há procedimento algum para os
dias desses feriados. E não há porque preocupar-se com o Senhor Morto,
pois que Jesus vive e trabalha em prol da Humanidade.
E
aqui, transcrevemos trecho do capítulo VIII de O Evangelho Segundo o
Espiritismo, no subtítulo VERDADEIRA PUREZA, MÃOS NÃO LAVADAS (página
117 - 107ª edição IDE): "O objetivo da religião é conduzir o homem a
Deus; ora, o homem não chega a Deus senão quando está perfeito;
portanto, toda religião que não torna o homem melhor, não atinge seu
objetivo; (...) A crença na eficácia dos sinais exteriores é nula se não
impede que se cometam homicídios, adultérios, espoliações, calúnias e
de fazer mal ao próximo em que quer que seja. Ela faz supersticiosos,
hipócritas e fanáticos, mas não faz homens de bem. Não basta, pois, ter
as aparências da pureza, é preciso antes de tudo ter a pureza de
coração".
Não
pensem os leitores que extraímos o trecho pensando nas práticas
católicas em questão. Não! Pensamos em nós mesmos, os espíritas, que
tantas vezes nos perdemos em ilusões, acreditando cegamente na
assistência dos espíritos benfeitores, mas agindo com hipocrisia,
fanatismo e pasmem, superstição .... quando não conhecemos devidamente
os objetivos da Doutrina Espírita, que são, em última análise, a melhora
moral do homem.
Orson Peter Carrara
(Publicado no Boletim GEAE Número 390 de 02 de maio de 2000)
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