"APARIÇÕES DE ESPÍRITOS! COMO ISTO ACONTECE?
De
todas as manifestações espíritas, as mais interessantes são sem
dúvidas aquelas pelas quais os Espíritos podem se tornar mais
visíveis. Pela explicação desse fenômeno veremos que ele, como os
outros, nada tem de sobrenatural. Damos inicialmente as respostas dos
Espíritos a respeito do assunto.
Os Espíritos podem se
tornar visíveis?
— Sim, sobretudo durante o sono.
Entretanto, certas pessoas os vêem também no estado de vigília,
mas isso é mais raro.
Como podemos ver os Espíritos em
estado de vigília?
— Isso depende do organismo, da
facilidade maior ou menor do fluido do vidente de se combinar como o
do Espírito. Assim, não basta o espírito querer mostrar-se; é
também necessário que a pessoa a quem se quer mostrar tenha a
aptidão para vê-lo.
Essa faculdade pode desenvolver-se pelo
exercício?
— Pode, como todas as outras faculdades. Mas é
daquelas cujo desenvolvimento natural é melhor do que o provocado,
quando corremos o risco de superexcitar a imaginação. A visão
geral e permanente dos espíritos é excepcional e não pertence às
condições normais do homem.
Os que vêem os Espíritos o
fazem com os olhos?
— Eles pensam que sim, mas na realidade
é a alma que vê. A prova é que podem vê-los de olhos
fechados.
Todos são aptos a ver os Espíritos?
—
Durante o sono, todos. Mas não quando estão acordados. No sono, a
alma vê diretamente; quando estais acordados ela sofre em maior ou
menor grau a influência dos órgãos. Eis porque as condições não
são as mesmas nos dois casos.
A visão dos Espíritos ocorre
no estado normal ou somente durante o êxtase?
— Pode
ocorrer em condições perfeitamente normais; entretanto, as pessoas
que os vêem estão quase sempre num estado especial, próximo do
êxtase que lhes dá uma espécie de dupla vista. (Ver O Livro dos
Espíritos, nº 447)
Como o Espírito pode tornar-se
visível?
— O princípio é o mesmo de todas as
manifestações e está nas propriedades do perispírito, que pode
sofrer diversas modificações, à vontade do Espírito.
O
Espírito propriamente dito pode fazer-se visível ou só o faz com a
ajuda do perispírito?
— Na vossa situação material o
Espírito só pode manifestar-se com a ajuda do seu invólucro
semimaterial. É este o intermediário pelo qual eles agem sobre os
vossos sentidos. Graças a esse invólucro é que eles aparecem
algumas vezes com a forma humana ou outra qualquer, seja nos sonhos
ou no estado de vigília, assim a plena luz como na
obscuridade.
Poderíamos dizer que é pela condensação do
fluido do perispírito que o Espírito se torna visível?
—
Condensação não é o termo. Trata-se apenas de uma comparação
que pode ajudar a compreender o fenômeno, pois não há realmente
uma condensação. Pela combinação dos fluidos produz-se no
perispírito uma disposição especial, sem possibilidade de analogia
para vós, e que o torna perceptível.
Pode-se provocar a
aparição dos espíritos?
— Pode-se algumas vezes, mas
muito raramente. Ela é quase sempre espontânea. Para provocá-la é
necessário que se possua uma faculdade especial.
Os Espíritos
que se manifestam pela visão pertencem a uma determinada
categoria?
— Não; podem pertencer a todas as categorias,
das mais elevadas às mais inferiores.
É permitido a todos os
Espíritos manifestarem-se visivelmente?
— Todos o podem,
mas nem sempre tem a permissão nem o desejo de fazê-lo.
Com
que fim os Espíritos se manifestam visivelmente?
— Isso
depende; segundo sua natureza, o fim pode ser bom ou mau.
Como
pode ser permitido, quando o fim é mau?
— É então para
por à prova aqueles que os vêem. A intenção do Espírito pode ser
má, mas o resultado pode ser bom.
Qual o objetivo dos
Espíritos que se fazem ver com má intenção?
— Assustar e
muitas vezes vingar-se.
Qual o objetivo dos Espíritos que
aparecem com boa intenção?
— Consolar os que lamentam a
sua partida; provar-lhes que continuam a existir e estão perto
deles; dar conselhos e algumas vezes pedir assistência para si
mesmos.
Que inconveniente haveria em ser permanente e geral a
possibilidade de ver os Espíritos? Não seria essa uma forma de
tirar a dúvida aos mais incrédulos?
— Estando o homem
constantemente cercado de Espíritos, o fato de vê-los sem cessar o
perturbaria, constrangendo-o nas suas atividades, e lhe tiraria a
iniciativa na maioria dos casos, enquanto, julgando-se só, pode agir
com mais liberdade. Quanto aos incrédulos, dispõem de muitos meios
para se convencerem, caso queiram aproveitá-los e se não estiverem
cegos pelo orgulho. Sabes de pessoas que viram e nem por isso
acreditam, pois dizem que se trata de ilusões. Não te inquietes por
essa gente, de que Deus se encarrega.
Nota de Kardec: Haveria
tanto inconveniente de estarmos sempre na presença dos Espíritos,
como em vermos o ar que nos cerca ou as miríades de animais,
microscópicos que pulam ao nosso redor. Do que devemos concluir que
o que Deus faz é bem feito e que Ele sabe melhor do que nós o que
nos convém.
Se a visão dos Espíritos tem inconvenientes,
porque é permitida em alguns casos?
— Para dar uma prova de
que nem tudo morre com o corpo e de que a alma conserva a sua
individualidade após a morte. Essa visão passageira é suficiente
para dar a prova e atestar a presença dos amigos ao vosso lado, não
tendo os inconvenientes da visão incessante.
Nos mundos mais
adiantados que o nosso a visão dos Espíritos é mais frequente?
—
Quanto mais os homens se aproximam da natureza espiritual, mais
facilmente entra em relação com os Espíritos. É a grosseria do
vosso corpo que torna mais difícil e mais rara a percepção dos
seres etéreos.
É racional assustar-se com a aparição de um
Espírito?
— Aquele que refletir a respeito há de
compreender que um Espírito, seja qual for, é menos perigoso que um
vivo. Os Espíritos, aliás, estão por toda parte e não tens a
necessidade de vê-los para saber que podem estar ao teu lado. O
Espírito que desejar prejudicar alguém pode fazê-lo sem ser visto,
e até com mais segurança. Ele não é perigoso por ser Espírito,
mas pela influência que pode exercer no pensamento do homem,
desviando-o do bem e impelindo-o ao mal.
Nota de Kardec: As
pessoas que tem medo da solidão e do escuro, raramente compreendem a
causa do seu pavor. Elas não saberiam dizer do que tem medo, mas
certamente deviam recear-se mais de encontrar homens do que
Espíritos, porque um malfeitor é mais perigoso em vida do que após
a morte. Uma senhora de nosso conhecimento teve uma noite, em seu
quarto, uma aparição tão bem definida que acreditou estar na
presença de alguém e sua primeira sensação foi de pavor.
Certificando-se de que ali não havia nenhuma pessoa, disse a si
mesma: 'Parece que se trata apenas de um Espírito; posso dormir
tranquila'.
Aquele que vê um Espírito poderia conversar com
ele?
— Perfeitamente. E é justamente o que se deve fazer
nesse caso, perguntando quem é o Espírito, o que deseja e o que se
pode fazer por ele. Se o espírito for infeliz e sofredor, o
testemunho de comiseração o aliviará. Se for um Espírito
benévolo, pode acontecer que tenha a intenção de dar bons
conselhos.
Como o Espírito poderia responder?
— Às
vezes falando, como uma pessoa viva; a maioria das vezes por uma
transmissão de pensamentos.
Os Espíritos que aparecem com
asas realmente as têm, ou essas asas são apenas uma aparência
simbólica?
— Os Espíritos não tem asas. Não precisam
delas, pois podem transportar-se por toda parte como Espíritos.
Aparecem dessa forma porque querem impressionar a pessoa a que se
mostram. Uns aparecerão com suas roupas habituais, outros envolvidos
em panos, alguns com asas, como atributo da categoria espiritual que
representam.
Os Espíritos zombadores não poderiam tomar a
aparência das pessoas que nos são caras e nos iludirem?
—
Tomam aparências fantasiosas para se divertirem a vossa custa, mas
há coisas com as quais não lhes é permitido brincar.
Os
Espíritos podem fazer-se visíveis com outra aparência, além da
humana?
— A forma humana é a sua forma normal. O Espírito
pode variá-la na aparência, mas conservando sempre o tipo
humano.
Os Espíritos poderiam se apresentar com a forma de
animais?
— Isto pode acontecer, mas são sempre Espírito
inferiores os que tomam essas aparências. Mas seriam sempre, em
todos os casos, aparências passageiras, pois seria absurdo acreditar
que um animal pudesse ser a encarnação de um Espírito. Os animais
são sempre animais e nada mais do que isso.
Por que certas
visões são mais frequentes nas doenças?
— Elas ocorrem
igualmente no estado de perfeita saúde, mas na doença os laços
materiais se afrouxam e a fraqueza do corpo deixa mais livre o
Espírito, que entra mais facilmente em comunicação com outros
Espíritos.
Por que as aparições se verificam mais à
noite?
— Pela mesma razão que vês as estrelas à noite e
não em pleno dia. A claridade intensa pode ofuscar uma aparição
delicada. Mas é errôneo supor que a noite tenha algo de especial
para isso. Interpela todos os que as viram, e constatarás que a
maioria ocorre de dia.
Nota de Kardec: Os fenômenos de
aparição são muito mais frequentes e gerais do que se pensa, mas
muitas pessoas não os revelam por medo do ridículo e outras os
atribuem à ilusão. Se parecem mais abundantes em certos povos é
porque esses conversam mais cuidadosamente as tradições verdadeiras
ou falsas, quase ampliadas pelo fascínio do maravilhoso, a que se o
aspecto das localidades se presta mais ou menos. A credulidade faz
ver, então, efeitos sobrenaturais aos fenômenos mais vulgares; o
silêncio da solidão, o escapamento dos caminhos, o rumorejar das
florestas, o estrépito das tempestades, o eco das montanhas, a forma
fantástica das nuvens, as sombras, as miragens, tudo enfim se presta
à ilusão das imaginações simples e ingênuas, que propagam de boa
fé aquilo que viram ou que acreditam ter visto. Mas ao lado da
ficção há o real, que o estudo sério do Espiritismo consegue
livrar dos acessórios ridículos da superstição.
Fonte: Livro
dos Médiuns – Allan Kardec
(Cap 6 – Manifestações Visuais)
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