Infertilidade
e Fertilização Assistida (Uma Visão Espírita)
Por
Edson G. Tristão
Em
25 de julho de 1978, nascia em Bristol, na Inglaterra Louise Brown, o
primeiro bebê de proveta do mundo. O método, idealizado pelo
pesquisador britânico Robert Geoffrey Edwards, consiste em
fertilizar o óvulo pelo espermatozoide em laboratório, e depois
introduzi-lo no útero, para que o embrião se desenvolva. A técnica
passou a se chamar FIV (Fertilização In Vitro).
Esse
fato assombrou a Humanidade e, ao mesmo tempo, trouxe esperança para
milhares de casais que não podiam procriar, e não são poucos. A
Organização Mundial da Saúde relata que de cada cem casais, vinte
têm dificuldades para ter filhos.
A
Sociedade Europeia de Reprodução Humana e de Embriologia (ESHRE)
calcula que já existam, nos dias de hoje, mais de cinco milhões de
pessoas que nasceram por essa técnica. Informa também que devem
nascer, anualmente, mais de trezentas e cinquenta mil crianças,
concebidas pelas diversas técnicas de fertilização assistida.
Enquanto
os casais inférteis regozijavam com a possibilidade da procriação,
elevaram-se vozes no mundo inteiro chamando atenção quanto às
consequências que esses métodos poderiam trazer. A fabricação de
embriões não iria favorecer o comércio ilegal desse novo produto?
Essa era apenas a primeira de muitas dúvidas que viriam, à medida
em que as técnicas fossem se multiplicando. Os questionamentos
éticos, culturais, biológicos, psicológicos e religiosos
apareceram de todos os lados, chegando inclusive na área jurídica.
A multiplicação das técnicas de fertilização assistida teve
vários desdobramentos e hoje, em muitos países, é utilizada a
doação de material genético, criopreservação de embriões,
diagnóstico genético antes da implantação, doação temporária
de útero, além das pesquisas em embriões. A norma ética para ser
cumprida em todas essas atividades é respeitar a autonomia e o
direito reprodutivo dos casais (beneficência), não desrespeitar o
embrião, e preocupar-se com os interesses da criança
(não-maleficência).
Todos
esses mecanismos reprodutivos passam por um questionamento básico:
em que momento começa a vida? Karl Ernst Van Baer, biólogo,
geólogo, médico e o fundador da embriologia, que viveu na Estônia
(Império Russo) entre 1792-1876, afirmava: A vida começa com a
fecundação.
O
Dr. Keith L. Moore(1), autor de renomados compêndios de embriologia,
usados na maioria das universidades ensina: O ovo ou zigoto é uma
célula resultante da fertilização de um ovócito por um
espermatozoide, e é o início de um ser humano.
A
Dra. Magdalena Zernicka-Goetz(2), do departamento de neurociências
da universidade de Cambridge, publicou na revista Biology, uma das
mais conceituadas do mundo, uma Revisão Molecular Celular,
concluindo que A vida é um continuum!!! A primeira divisão do
zigoto não se dá por acaso mas já define o nosso destino e todas
as características que vamos desenvolver. Esta afirmação é
importante para a comunidade espírita, pois já nos faz entender a
presença do períspirito coordenando esta divisão e multiplicação
celular. A matéria não poderia se diferenciar em células
especializadas, partindo de uma única célula primitiva, para
constituir os vários tecidos e órgãos do corpo físico caso não
tivesse uma matriz. Ela é que exerce essa função e foi chamada por
Kardec de períspirito. Esse termo tem registrado seu primeiro uso em
O Livro dos Espíritos(3):
O
laço ou perispírito que une o corpo e o Espírito, é uma espécie
de envoltório semimaterial. A morte é a destruição do envoltório
mais grosseiro. O Espírito conserva o segundo que constitui para ele
um corpo etéreo, invisível para nós no estado normal, mas que pode
se tornar acidentalmente visível e mesmo tangível, como sucede nas
aparições.
Qual
seria o entendimento do Espiritismo para definir em que momento
começa a vida?
Na
questão 344, de O Livro dos Espíritos, a resposta é bastante
clara: A união começa na concepção (…) Desde o momento da
concepção, o Espírito designado para habitar tal corpo a ele se
liga por um laço fluídico que vai se apertando cada vez mais, até
que a criança nasça.(…)
Estão
aí, doutrina espírita e ciência, lado a lado, com a mesma
concepção do início da vida humana. Qualquer afirmação, fora
desse contexto, deve ser entendida como especulação ou opinião
pessoal.
Nesse
caso, o embrião passa a ter os mesmos direitos que uma pessoa. É
merecedor de todo respeito e deve ser protegido contra qualquer
agressão à sua saúde. Uma das maiores dúvidas a respeito da
Fertilização In Vitro é a questão do embrião ser produzido em
laboratório, podendo ser transferidos para outra pessoa que não a
mãe, os cuidados com ele. Ficaria vulnerável, podendo ser
descartado, congelado ou utilizado em pesquisas.
Outro
dilema é referente ao congelamento dos embriões. Aproximadamente um
terço das pacientes produz excesso deles, que acabarão congelados.
Isso é feito para possibilitar seleções e transferências no caso
de novas gestações. Este ato vai de encontro à dignidade do
embrião, pois muitos acabam não sobrevivendo ao processo de
congelamento e descongelamento. Eles podem ficar congelados por
muitos anos. Há relatos de nascimentos após dez anos de
congelamento. A dúvida que muitos têm: Existem espíritos nos
embriões congelados?
O
períspirito funciona como um modelo organizador biológico e ele
deverá estar presente no embrião, para coordenar a diferenciação
celular. Caso contrário, a matéria se tornaria um amontoado, sem
forma. A situação de cada um, no entanto, pode variar, de acordo
com a necessidade ou a evolução.
Para
Eurípedes Kuhl(4), poderia haver várias possibilidades: a) Espírito
voluntário que se ofereceu para o progresso da ciência; b)
Semimorto. Padecem de sono pesado, como descrito no livro Nosso
Lar(5); c) Ovoide. Espírito que passou pela segunda morte como
relatado no livro Libertação(6); d) em alguns casos, pelo maior
desenvolvimento espiritual, o Espírito que está renascendo pode ter
graus maiores de liberdade. Dessa forma, ele pode realizar atividades
no plano espiritual, enquanto seu corpo estiver congelado. Existe
ainda a possibilidade de crianças natimortas, às quais não foram
destinadas a encarnação de um Espírito (questão 356 de O livro
dos Espíritos). Conclui-se, portanto, que os embriões congelados
estão ligados a um Espírito, que pode estar sofrendo pelo uso
indevido do seu corpo.
As
crianças nascidas por fertilização assistida teriam o mesmo
comportamento psicológico daquelas que não nascessem por essa
técnica? Existem alguns trabalhos na literatura, dentre eles um
realizado na França(7) com 422 crianças nascidas por FIV e a idade
variando entre 6 a 13 anos. Observou-se rendimento escolar acima da
média; 2,2% eram superdotados. Outro foi realizado na China(8).
Foram avaliados 250 jovens nascidos de embriões congelados, e eles
apresentaram mais sociabilidade, maior independência e melhores
condições de comunicação. A provável explicação para esses
fatos seria o maior grau de atenção e carinho que essas crianças
receberam dos pais, além do bom nível socioeconômico desses
genitores.
A
fertilização assistida também veio contribuir para que os casais
homossexuais, através da gestação de substituição (barrigas de
aluguel) possam ter seus próprios filhos. Muitas vezes as discussões
sobre esses novos modelos familiares geram dúvidas. Não é possível
encontrarmos respostas para todas elas. Nesses casos, deve-se lembrar
que o amor supera qualquer tipo de reação ou incompreensão.
Em
todas essas situações de gravidez, pela via natural ou fertilização
assistida, está envolvido ainda o fator psicológico. Ele se
transforma em tensão e evolui para depressão quando as coisas não
caminham como era esperado. O casal pode enfrentar esse tipo de
situação, prestando, por exemplo, trabalhos voluntários em
hospitais infantis, creches, orfanatos, evangelização,
apadrinhamento de crianças carentes. Atividades como essas favorecem
o desbloqueio de centros genésicos, muitas vezes alterados por
condutas anteriores desequilibradas, contribuindo para a gravidez.
E
quando os filhos não vêm? A convivência sem eles vai testar mais
profundamente a maturidade espiritual e psicológica do casal. A
decisão também de enfrentar as várias possibilidades da
fertilização assistida pode ir de encontro às crenças de cada um,
à cultura familiar e meio social.
A
família não é somente aqueles que têm laços de sangue. Algumas
vezes, o reencontro entre os que estão na Terra e os familiares do
plano espiritual pode ocorrer por vias indiretas. O orgulho e
egoísmo, ainda presentes em nossos corações, dificultam
identificar a situação que pode estar à nossa frente. A adoção
sempre poderá ser uma possibilidade, desde que o casal esteja
preparado para esse desafio.
É
necessário que cada um possa fazer a si próprio uma pergunta: Qual
a função dos filhos? Qual o significado da família?
Os
filhos são Espíritos, sintonizados conosco nesta ou em outra
existência e que agora se aproximam para convivência, de várias
formas, a fim de aprimorar seus conhecimentos, emoções e
sentimentos. Com toda certeza essa responsabilidade nos será cobrada
um dia.
Como
ficará o futuro? É possível que se possa nascer através do útero
artificial. Ranieri relata uma afirmação do saudoso Chico Xavier: A
ciência vai desenvolver o ser humano no laboratório. Os cientistas
vão fabricar um enorme útero e dentro dele vão gerar o ser. Pode
demorar 200 a 400 anos, mas isso vai acontecer. Libertarão
finalmente a mulher do parto.
A
doutrina espírita é a favor das novas descobertas. Cobra, no
entanto, a ética com os embriões, defende suas vidas e condena o
aborto. Esclarece os cientistas sobre a imortalidade, renascimento e
o início da vida humana. É a religião e a ciência caminhando
juntos.
Fonte: www.espiritbook.com.br/
Referências:
- MOORE, Keith L. Embriologia Clínica. Elsevier Brasil, 8ª. ed., 2008.
2. ZERNICKA-GOETZ, M. Nature, Review Molecular Cell. Biology, v. 6 (12), 919-928, 2005.
3. Kardec, Allan. O livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 2012. Introdução, item VI.
4. Khul, Eurípedes. Genética além da Biologia. Belo Horizonte: Fonte Viva, 2003.
5. Xavier, Francisco Cândido. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. Brasília: FEB, 2009. cap. 27.
6. ______Libertação. Pelo Espírito André Luiz. Rio de Janeiro: FEB, 1971. cap. 6.
7. Folha de São Paulo, 10/02/1996.
8. Lan Feng Xing. Universidade de Ahejiang, 2014.
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