Um novo
fenômeno social chama a atenção do Ministério Público: o crescente abandono de
bebês em locais públicos. Esse fenômeno é mais acentuado nas grandes cidades e
o motivo, segundo pesquisas, não é a pobreza da população, pois com o advento
dos programas sociais governamentais de distribuição de renda, praticamente
100% das mães consideradas pobres ficam e cuidam dos seus filhos. Os pais que
abandonam seus filhos, deixando-os em lixeiras, praças, terrenos baldios, em
boa parte estão envolvidos com transtornos mentais, alcoolismo e drogas.
Devemos
esclarecer os pais, e principalmente as mães, que muitas vezes ficam sozinhas
após a constatação da gravidez, que o abandono da criança pode acarretar para
os pais a perda da guarda da criança, além de outras implicações perante a lei,
por isso fazemos um apelo: seja qual for o motivo, você não puder cuidar do seu
filho recém-nascido, procure, ainda na gravidez, o juizado da infância para
formalizar o processo de encaminhamento à adoção dessa criança, que é uma alma
necessitada de carinho, proteção e educação.
Sobre o
assunto a espiritualidade manifestou-se em 1860, conforme mensagem assinada por
“Um Espírito Familiar”, e publicada por Allan Kardec no item 18 do capítulo 13
de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, sob o título “Os Órfãos”. É uma
mensagem que sensibiliza, que faz vibrar as cordas íntimas do nosso coração e
que, diante das notícias sobre o abandono de bebês, nos leva às lágrimas e ao
sentir profundo desse drama.
Realmente,
como deve ser triste ser só e abandonado na infância! Olhos pequeninos que
vagueiam pela imensidão, vazios de emoções e repletos de solidão, incertos do
futuro, desconhecendo a afetividade. Pobres almas que carregam a tortura do
desamor de seus pais e dos semelhantes, que as abandonam em abrigos. Como única
referência humanitária, as “tias” e “tios” que se dedicam a cuidá-las e
orientá-las.
E
exclamamos: por que Deus permite a orfandade do abandono materno/paterno? E
explica-nos o espírito que assina a mensagem: “Deus permite que haja órfãos,
para exortar-nos a servir-lhes de pais”. E completa o ensino com esta lapidar
imagem: “Que divina caridade amparar uma pobre criaturinha abandonada, evitar
que sofra fome e frio, dirigir-lhe a alma, a fim de que não desgarre para o
vício!”.
Se não
podemos, neste mundo ainda de provas e expiações, evitar o abandono de bebês,
podemos trabalhar a sensibilidade nos corações para a solidariedade da adoção.
Sim, porque “agrada a Deus quem estende a mão a uma criança abandonada”, afirma
o instrutor espiritual.
Imaginamos
quanta dor se esvai do coração da criança ao ser recolhida por braços amigos,
ou ser aconchegada por corações interessados em amá-la. Como o acaso não
existe, os pais adotivos podem estar, com esse gesto, corrigindo um ato de
desamor em alguma vida passada e, com certeza, permitindo, nesta existência,
que esse espírito, agora filho adotivo, possa crescer intelectual e moralmente
e, quem sabe, quando jovem ou adulto, reencontrar seus pais biológicos para o
exercício da compreensão e do perdão. É assim que a lei de Deus se faz plena e
compreendemos que basta uma ação de amor para que séculos de dores e aflições
desapareçam.
Nesse
entendimento encontramos na mensagem espiritual que nos serve de apoio o
seguinte comentário: “Ponderai também que muitas vezes a criança que socorreis
vos foi cara noutra encarnação, caso em que, se pudésseis lembrar-vos, já não
estaríeis praticando a caridade, mas cumprindo um dever”. Por isso bendizemos a
lei do esquecimento, para que possamos utilizar o livre arbítrio sem entraves,
recebendo de Deus o mérito de nossas boas ações.
Agora,
reconhecemos que a adoção e o amparo socioeducativo governamental à criança
abandonada não são soluções para o grave fenômeno social. Se existem crianças
abandonadas, existem pais que abandonam. Se existem crianças abandonadas,
existem homens e mulheres que, indiferentes, as deixam abandonadas pelas ruas
das cidades. Sim, exigimos das autoridades públicas providências justas e
necessárias, mas fazemos o que nos compete? Amamos as crianças como deveríamos
amar? Auxiliamos os pais que passam por dificuldades? Orientamos a juventude
para os compromissos da união afetiva? Participamos efetivamente do ser
coletivo que é a sociedade?
“Assim,
pois, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito a vossa caridade”.
São palavras do espírito que assina a mensagem, recordando o grande ensino do
Mestre Jesus: “amai-vos uns aos outros”. E devemos nos amar pela condição de
sermos filhos de Deus, e, portanto, sermos irmãos.
Somente o amor
pode corrigir o desvio social do abandono dos filhos, pois somente o amor tem o
poder de abrandar o egoísmo e sensibilizar o coração. Somente o amor tem o
poder de cicatrizar feridas pretéritas e germinar vida rica em alegrias.
Todos os
esforços devem ser feitos para o estudo, a compreensão e a prática do amor
entre os homens, e isso acontecerá quando colocarmos o amor como base de todos
os esforços educacionais do homem; quando o amor for a bandeira sinalizadora de
nossa caminhada; quando o amor for a meta a ser alcançada.
Amemo-nos e
não teremos a degradação dos vícios do álcool e das drogas. Amemo-nos e não
teremos os desvios dos transtornos mentais. Amemo-nos e não teremos crianças
abandonadas. Deus sabe que não faremos isso da noite para o dia, mas
confere-nos o sagrado tesouro do tempo… O tempo necessário para compreender o
amor e amar sem distinções… Por todo o sempre!
Marcus de
Mario
FONTE:
http://www.agendaespiritabrasil.com.br/2015/12/05/as-criancas-abandonadas/
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