A chamada
lei da atração é sem dúvida um dos maiores fenômenos do universo holístico e
espiritual dos últimos tempos. Há um sem-número de cursos, workshops,
palestras, treinamentos e orientações sobre como se usar devidamente a lei da atração
e como fazer o universo nos dar aquilo que desejamos. Não vamos perder tempo
explicando o que é a lei da atração pois é algo que a maioria das pessoas já
têm conhecimento. Nessa oportunidade vamos explicar alguns pontos relacionados
à lei da atração e demonstrar como essa técnica tem sido usada de modo
materialista e contrário a nossa evolução.
O primeiro
ponto da teoria sobre a lei da atração é, como já mencionamos, seu caráter
materialista e mundano. Aqueles que observarem atentamente os cursos e treinamentos
ministrados nessa área poderão facilmente perceber toda a ênfase dada à
conquista de coisas materiais do mundo e a realização pessoal por meio de
ganhos mundanos. O objetivo da lei da atração nesse enfoque não é a paz, a
felicidade, a alegria, a harmonia, o respeito, a reciprocidade, a liberdade, a
equanimidade, etc. Os defensores da teoria da lei da atração sempre nos dizem
que com ela podemos conquistar cada vez mais e mais coisas no mundo. A meta é
conquistar o emprego dos sonhos, é ganhar dinheiro, é adquirir uma casa, é
comprar o carro do ano, é conquistar estabilidade financeira, enfim, a
finalidade da lei da atração é a aquisição de todos os benefícios que o mundo
pode nos proporcionar, nos gerando prazer, conforto e riquezas materiais. Desse
ponto de vista, a chamada lei da atração não é uma doutrina espiritualista, mas
sim materialista. Ela ensina uma pessoa a aquisição de bens mundanos, a
aprender a ganhar, a ter, a conquistar, a acumular, a juntar dinheiro, a
aproveitar a vida e seus prazeres. Se formos comparar esses objetivos com os
objetivos de pessoas abertamente materialistas, veremos que não há muita
diferença.
O segundo
ponto é que a lei da atração não exige apenas se criar mentalmente uma coisa,
ou se querer, ou desejar, ou sintonizar com algo, mas é preciso que muito
trabalho seja empreendido antes que a realização nos chegue. Nada nesse mundo
cai do céu. Tudo o que existe vem através do esforço. Se uma pessoa quer uma
casa, ela deve trabalhar para conseguir a sua casa. Não adianta acreditar que
sem nenhum dinheiro no bolso a casa dos nossos sonhos vai aparecer
milagrosamente. Sim, é verdade que para se receber algo é importante se criar
mentalmente e vibrar naquela mesma frequência, pois assim atraímos aquilo que
guarde correspondência com nossa vibração. Mas o trabalho, o esforço, o suor, a
superação de limites, também fazem parte dessa criação. Não basta apenas criar
no nível mental. É preciso também criar no nível emocional e material. Dessa
forma, uma boa dose de prática é essencial para a concretização de algo.
Outro ponto
é que alguns dos defensores da lei da atração não possuem tudo o que desejam em
sua vida. Alguns não têm sequer o básico. Muitos estão desempregados e passando
por dificuldades. Muitos ainda são pessoas deprimidas, insatisfeitas e que não
tem paz. Já vi vários casos como esse. Conheci recentemente um palestrante da
lei da atração que estava vivendo muitas dificuldades em sua vida, inclusive
materiais e estava com depressão e tomando medicamentos. Se a lei da atração
funcionasse mesmo da forma infalível como ele prega, não haveria qualquer
contratempo em sua vida; bastaria apenas criar mentalmente seu desejo para que
logo após ele se realizasse. Todos os problemas do mundo estariam resolvidos,
mas obviamente não é assim que funciona.
Muitas
pessoas que praticam a lei da atração não obtém sucesso. Os defensores da lei
da atração explicam que nesse caso a pessoa não está realizando as técnicas
corretamente, mas isso não é verdade em todos os casos. A verdade é que, na
maioria das vezes, nem sempre aquilo que queremos e desejamos é o melhor para
nós. Um bom exemplo é a criança que deseja um doce. O doce é algo positivo para
a criança? Do ponto de vista da criança que ainda não compreende sobre as
toxinas dos alimentos, o doce é algo maravilhoso e é a melhor coisa que ela
poderia receber naquele momento. No entanto, a ingestão de açúcar pode criar
uma série de problemas futuros para ela, como diabetes e outras doenças. Por
isso, nem sempre aquilo que desejamos é o melhor para nós. Na maioria das vezes
aquilo que desejamos pode nos prejudicar muito futuramente.
O ser humano
deseja sempre aquilo que lhe gera prazer, conforto e estabilidade. Ele confunde
o bom com o bem. Nem sempre o que ele julga bom, é o que lhe faz bem
verdadeiramente. Já dissemos isso em outras oportunidades, mas nunca é demais
repetir. Perder pode ser mais proveitoso para o seu crescimento pessoal do que
ganhar. Sentir dor pode ensina-o muito mais do que ter prazer. A derrota pode
muitas vezes nos ensinar virtudes de extremo valor, como a humildade, que em
ocasiões futuras salvam nossas vidas. Por isso, o que queremos, o que o ser
humano deseja não é necessariamente aquilo que ele precisa. Quando oramos a
Deus é preciso pedir o que precisamos e não o que desejamos. Da mesma forma que
os pais prejudicam uma criança quando a mimam e fazem todas as suas vontades,
transformando-a num adulto imaturo e dependente, Deus estaria nos prejudicando
caso sempre nos concedesse aquilo que desejamos. Isso é muito simples de se
verificar. Muitos dos melhores seres humanos foram aqueles que enfrentaram
grandes provações na vida e as venceram. É preciso questionar: é melhor viver
uma vida de luxo exterior ou uma vida de dificuldades com o consequente
despertar das virtudes interiores? Para o nosso espírito, as provas difíceis
trazem muito mais frutos para nossa felicidade do que as facilidades e
comodidades desse mundo.
É importante
mencionar também que nosso espírito possui um arquivo imenso e profundo de uma
história multimilenar. Ninguém que vive nesse planeta atualmente começou agora
a sua evolução. Todos os espíritos encarnados possuem dezenas de milhares de
anos de história em sua alma. Ao longo dos milênios acumulamos uma intensa
carga de emoções e atitudes. Quando uma pessoa criar em sua mente um desejo,
ela faz isso num espaço extremamente curto de tempo. O que conta para a
realização do seu desejo é uma criação mental de alguns dias, ou a imensa
trajetória de sua alma ao longo dos milênios? Obviamente nosso karma milenar
vai influenciar muito mais os acontecimentos atuais do que tão somente nosso
pensamento focado e nossa sintonia por alguns dias. Imagine que uma pessoa
ficou vibrando numa faixa y durante centenas de anos. Num dado momento, ela
passa a vibrar na faixa z. O que terá mais influência em seu futuro? A faixa y
ou a faixa z? Nada se modifica de um dia pro outro. Não existe mágica em nossa
trajetória. É preciso caminhar passo a passo para chegar ao nosso objetivo. Se
a pessoa está andando devagar há 5 horas e percebe que está atrasada, o fato de
andar o dobro da velocidade só compensará às 5 horas perdidas após 2 horas e
meia de caminhada. Não adianta querer que tudo seja diferente de uma hora para
outra em nossa vida se estamos há anos, séculos ou milênios pensando, sentindo
e fazendo coisas iguais. A semente não se torna árvore em 1 dia, assim como a
criança não se torna adulta em 1 ano. Da mesma forma, tudo precisa de tempo,
esforço e uma longa caminhada para frutificar. E quando digo isso não estou me referindo
apenas a ganhos no mundo, mas sim ao nosso crescimento interior.
Os
defensores da lei da atração sempre enfatizam que nós podemos criar com nosso
pensamento todas as nossas realizações. No entanto, é preciso esclarecer que
aquele que cria não é o ser humano preso e limitado a este mundo. Aquele que
cria não é outro senão o espírito. Esse ponto é importante. Primeiro, o
espírito cria a vida humana e todos os seus acontecimentos antes de vir ao
mundo. Ele programa sua existência de acordo com seu karma individual. O
espírito escolhe as provas que são necessárias para seu adiantamento e sua
elevação. O ser humano nesse mundo nada mais é do que um epifenômeno do
espírito. Ele é apenas uma sombra, um conjunto de supostas verdades e memórias,
um efeito de experiências passageiras. Sua personalidade é limitada. Por isso,
essa persona cheia de limites não poderia escolher seu próprio destino. Tanto é
assim que a maioria das coisas que ocorrem em nossas vidas não está sob o nosso
controle. Controlamos muito pouco o que nos vai acontecer. Aqueles que
desejarem mais informações sobre isso podem se reportar ao texto “O que
controlamos nessa vida” no blog de Hugo Lapa.
É importante
compreender que o ser humano é um efeito e não a causa de tudo. O ser humano é
como o quadro pintado pelo pintor. O pintor é o espírito, o quadro é o ser
humano. Pode o quadro pintar a si mesmo? Não, apenas o pintor pode criar uma
bela obra. Assim, por debaixo da camada mais superficial de nossa
personalidade, há camadas mais profundas do nosso ser que, essas sim, estão
mais próximas da causa de tudo o que nos ocorre. Um bom exemplo é o
inconsciente humano. O ser humano na maioria das vezes age sob o impulso dos
seus conteúdos inconscientes. O inconsciente, seus desejos reprimidos, suas culpas,
suas mágoas, seus traumas, e todo o material inconsciente acumulado define suas
ações e reações muito mais do que ele imagina. Terá mesmo a personalidade todo
esse protagonismo que lhe é atribuído pelos defensores da lei da atração? Há
profundidades em nosso ser que nossa mente desconhece e que sequer pode ter o
mínimo fragmento de consciência. É essa instância mais profunda do ser que cria
o cenário de nossa existência, muito mais do que nossa personalidade fútil e
superficial. A personalidade morre ao final de cada existência, mas o espírito
sobrevive. Quem cria então, a personalidade ou o espírito? Todos devem
compreender que quem cria é o espírito… e se alguém conseguiu criar e realizar
algo, isso não tem como objetivo satisfazer nossos vãos desejos, mas realização
tem como finalidade ajudar de alguma forma em nosso adiantamento espiritual.
Por isso que se diz que quem cria de verdade é nosso ser mais profundo, e não
nossa personalidade passageira, pois a persona nada mais é do que uma máscara,
um reflexo, uma imagem, que nada mais é do que uma criação desse ser essencial
chamado de espírito.
A maior
parte das doutrinas espirituais se baseia nos ensinamentos originais dos
mestres, como Jesus, Buda, Krishna, Lao Tsé e outros. É certo que nenhum desses
mestres ensinou a humanidade a possuir, mas sim, pelo contrário, ensinou a
despossuir, a soltar nossos apegos às coisas e às pessoas e a viver num estado
de consciência de liberdade, paz e felicidade. Jesus, por exemplo, disse: “Não
ajunteis tesouros na terra”. Disse também que não podemos servir a Deus e ao
dinheiro, mas que devemos escolher um dos dois, pois ou se serve um ou o outro.
Deixou claro ao jovem rico que ele precisava vender tudo o que tinha e dar todo
o dinheiro aos pobres, pois somente assim ele poderia encontrar o reino dos
céus. Jesus também afirmou que “qualquer de vós, que não renuncia a tudo quanto
tem, não pode ser meu discípulo”. Em várias passagens Jesus ensinou claramente
sobre o despossuir, sobre o valor do desapego para se chegar ao Reino de Deus.
Nas clássicas tentações de Jesus, o diabo o ofereceu todos os reinos do mundo
caso Jesus passasse a adorar o Senhor das Trevas. Jesus recusou e viveu sua
vida sem nada possuir. Ou será que Jesus tinha um casa? Tinha um palácio? Tinha
ouro, pedras preciosas? Tinha carruagens, cavalos e muitas terras? Não… ele
nada possuía. Muitos não sabem, mas Buda era um príncipe que abandonou todas as
riquezas de seu palácio para viver uma vida de renúncia, e assim pôde atingir a
iluminação espiritual. Krishna também ensinou em vários momentos a sabedoria do
desapego e da renúncia. O que ocorre hoje em muitos movimentos religiosos,
esotéricos e espiritualistas é uma inversão desses princípios ensinados pelos
mestres. Isso se torna mais claro e patente ainda na lei da atração, na
teologia da prosperidade das igrejas evangélicas, na riqueza e opulência que
vive o Vaticano, e em outras manifestações religiosas e espirituais que pregam
o valor das posses para se atingir a felicidade. Jesus não disse “Vamos acumular
bens terrenos”. Ele disse: “Não acumuleis bens terrenos”. Para mais informações
sobre esse ponto, todos podem buscar o texto “Mestres espirituais e bens
materiais” no blog de Hugo Lapa.
O que o
espiritualismo ensina não é a felicidade que vem com o possuir, com o ter, com
o conquistar, mas sim a felicidade mesmo sem nada possuir. É importante ser
feliz mesmo tendo pouco ou nada. Aquele que consegue viver em paz mesmo sem ter
coisa alguma é alguém que encontrou a verdadeira paz. Para entender melhor esse
ponto, todos podem se reportar ao texto “Felicidade e paz” no blog de Hugo
Lapa.
(Hugo Lapa)
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