Não sou dos
espíritas que consideram O Livro dos Espíritos como Verdade única e absoluta.
Nossas verdades são relativas ao nosso grau de entendimento. Mas, nesta questão
853 a resposta é tão enfática que, mesmo analisada em conjunto ou por
comparação a outras questões do mesmo e de outros livros da codificação, não
deixa muita margem a dúvidas:
853. Algumas
pessoas só escapam de um perigo mortal para cair em outro. Parece que não
podiam escapar da morte. Não há nisso fatalidade?
“Fatal, no
verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte o é. Chegado esse
momento, de uma forma ou doutra, a ele não podeis furtar-vos.”
a) — Assim,
qualquer que seja o perigo que nos ameace, se a hora da morte ainda não chegou,
não morreremos?
“Não; não
perecerás e tens disso milhares de exemplos. Quando, porém, soe a hora da tua
partida, nada poderá impedir que partas. Deus sabe de antemão de que gênero
será a morte do homem e muitas vezes seu Espírito também o sabe, por lhe ter
sido isso revelado, quando escolheu tal ou qual existência.”
Esse
posicionamento é reforçado na questão 738, ao afirmar que “venha por um flagelo
a morte, ou por uma causa comum, ninguém deixa por isso de morrer, desde que
haja soado a hora da partida.”
Ao
reencarnarmos, temos, devido a fatores genéticos e energéticos, uma expectativa
de vida. Podemos alterar esta expectativa para mais ou para menos, conforme os
cuidados com o corpo físico e com as energias e emoções. André Luiz, um exemplo
clássico, foi considerado, até certo ponto, suicida, pois encurtou a sua
passagem pela matéria pelo descuido. Os principais eventos de nossa existência
estão, de certo modo, previstos pelas características de nossas vidas:
258. Quando
na erraticidade, antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito
consciência e previsão do que lhe sucederá no curso da vida terrena?
“Ele próprio
escolhe o gênero de provas por que há de passar e nisso consiste o seu
livre-arbítrio.”
Quanto a
acidentes, tragédias, homicídios, não posso acreditar em acaso puro e simples.
Tudo e todos estão interligados. Temos que considerar que a soma de tudo o que
pensamos, falamos e fizemos até hoje, em todas as nossas reencarnações e nos
intervalos entre elas, forma o que nós somos hoje. Cada um de nós tem um campo
energético único de atração ou repulsão que atrai ou repele pensamentos,
imagens, palavras, intenções e ações. A lei de atração e repulsão, que Allan
Kardec, utilizando-se de um vocabulário científico de meados do século XIX,
chamava de Lei de assimilação e repulsão dos fluidos, age invariavelmente. Nós
exteriorizamos, invariável e continuamente o reflexo de nós mesmos, nos
contatos de pensamento a pensamento, sem necessidade de palavras para as
atrações ou repulsões essenciais.
É claro que
temos que considerar os atentados contra o livre-arbítrio, como o aborto, mas,
mesmo aí, a hipótese de ele se concretizar já existia antes da concepção.
Reencarnamos com um conjunto de possibilidades a desenvolver. As condições em
que reencarnamos – tempo, lugar, meio, pessoas – somadas às nossas
características, já deixa quase estabelecido o que pode ou não pode acontecer.
Onde há livre-arbítrio não há certeza. Ninguém nasce pra ser
assassino ou assassinado, mas a tendência que o espírito tem de tirar a vida
alheia, somada ao meio e às influências que há de sofrer, faz dele um assassino
em potencial; do mesmo modo que há grande probabilidade de alguém com histórico
semelhante ao do assassino, mas em estágio de arrependimento e regeneração, ser
assassinado. Em seu subconsciente há a culpa, e o sentimento de culpa atrai
para si irresistivelmente o alvo da culpa que nutre. Isso sem contar a
influência direta dos espíritos, que, conforme nos indicam as questões 459 e
461, é muito maior do que costumamos
imaginar. “Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem”.
Influenciamos e somos influenciados continuamente, e muitos dos pensamentos e
ideias que passam por nossas cabeças são sugeridos pelos espíritos, “dando a
impressão de que alguém nos fala”.
Tratei, no
meu site, há pouco mais de um ano, da tragédia de Santa Maria, em que muitos
jovens morreram em decorrência de um acidente.
Para mim é
evidente, dadas as características que envolveram o fato, que se trata de um
resgate coletivo. Nem precisamos imaginar que haja um planejamento para que
isso aconteça. Sabemos que os semelhantes se atraem e que isso se dá, antes de
mais nada, pelo pensamento. As condições que uniam estes espíritos os reuniram
automaticamente, assim como dentre milhões de espermatozoides, um é atraído
para o óvulo. O que determina a seleção do espermatozoide é a natureza do
espírito, um determinado espermatozoide, o mais adequado, sintoniza com ele.
Entre os
jovens vitimados provavelmente havia espíritos que não pertenciam ao mesmo
“carma”, que foram vitimados pela fatalidade de outros; mas, ainda assim, algo
em seu passado, algum traço de sua natureza os impeliu para este episódio.
Não posso
acreditar em acaso. Não creio que tudo que se relacione à morte esteja escrito,
pois há o livre-arbítrio, mas há forças muito maiores que a nossa pequena
consciência. A maior parte de nossos pensamentos, palavras e ações são
comandadas pelo nosso subconsciente. Agimos com consciência plena uma mínima
parte de nossas vidas. Tente concentrar-se numa palavra qualquer deste texto
por um minuto. Um minuto apenas…
Você não
consegue, porque não tem o domínio dos seus pensamentos. É o seu subconsciente
que faz quase tudo por você. O controle sobre as nossas vidas pela nossa
consciência é muito menor do que queremos aceitar. Não somos apenas o que
aparentamos ser; temos outros níveis de consciência sobre os quais o nosso
controle é muito menor ou nulo. Uma evidência disso são os sonhos em que, mesmo
com algum grau de lucidez, agimos de forma bem diferente do que agiríamos em
estado de vigília.
Morel Felipe
Wilkon
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