Dr. Fritz, outra vez
Paulo Germano é um dos mais renomados jornalistas de Porto
Alegre. Em sua coluna de fim de semana de Zero Hora (11 e 12 de junho), ele
relata impressionante caso de presumível cura obtida por seu amigo Fabian
Chelkanoff, professor de jornalismo, mediante “cirurgia espiritual” feita pelo
médium gaúcho, Mauro Vieira, que estaria “incorporando” o espírito Doutor
Fritz.
O fenômeno Dr. Fritz é bastante conhecido no Brasil e no
mundo, desde que, lá pela década de 50/60 do século passado, a entidade, que
teria sido um médico alemão, passou a operar através do médium Zé Arigó, com
métodos nada convencionais. Os relatos, registrados em livros, documentários e
reportagens, em diversos países, mostram o médium enfiando tesouras e facas,
sem qualquer assepsia, no nariz, na boca ou no estômago de pacientes, não
sentindo estes dor alguma e sem que disso resultasse qualquer infecção. Dessa
forma, eram retirados tumores e tecidos doentes, registrando-se curas, tidas
como “milagrosas”. Depois de Zé Arigó, vários médiuns, utilizando idênticos
métodos, afirmaram atuar sob a influência do Dr. Fritz.
A razão
A coluna “A razão e o Doutor Fritz”, que pode ser lida em
zhora.co/pg_1106 , relata com minudência
a intervenção a que se submeteu o amigo de Paulo Germano, com o mais recente
médium que afirma operar sob a intervenção do Dr. Fritz. O paciente havia
sofrido três AVCs e uma isquemia cerebral, com sequelas muito graves. Mas estas
sumiram, como por encanto, após nada mais dos dois minutos em que Mauro, um
servente de obras de Rosário do Sul, manteve enfiada uma tesoura na narina do
professor universitário.
Ao se reportar ao episódio, Germano confessa que uma de suas
maiores inquietações se refere à existência ou não de Deus e de qualquer
“fenômeno sobrenatural”. Mas que, diante de episódios assim, uma coisa ele
aprendeu: “a ciência não dá conta de tudo” e “a razão, muito menos”.
O humano e o divino
Escrevi a ZH -
http://wp.clicrbs.com.br/doleitor/?topo=13,1,1,,,13 – sugerindo ao colunista
que, para tentar administrar suas dúvidas, começasse por tirar Deus dessa
história. Não precisamos, para conferir razoabilidade a episódios dessa
natureza, recorrer à velha fórmula de que existem: a) uma razão divina,
inacessível à compreensão dos homens, onde se situam os “milagres”; e b) uma
razão humana, à qual a ciência e a lógica terrenas estão submetidas. Essa
dicotomia entre o sagrado e o profano, o sobrenatural e o natural, é uma
criação arbitrária das religiões. O princípio filosófico da sobrevivência da
consciência – ou do espírito -, defendida por pensadores de todos os tempos,
inclusive do nosso, desvinculados da religião, por si só, confere razoabilidade
a fenômenos dessa ordem.
Simples: se sobrevivemos, é natural que guardemos valores
humanos como amor e ódio, egoísmo e solidariedade, disposição e/ou aptidão, -
ou não - para agirmos em favor ou em prejuízo dos que aqui ainda estão.
Mediunidade é coisa muito humana.
Inteligência e causa
E Deus? Bem, se guardarmos dele a ideia defendida pelas
religiões, de uma entidade pessoal todo poderosa, mas arbitrária, voluntarista,
que a uns concede graças e a outros as nega, que a uns castiga e a outros
premia, por critérios somente seus, descomprometidos da razão, fica, realmente,
difícil aceitá-lo.
Retirando Deus da sobre naturalidade e inserindo-o no âmbito
das leis naturais, como propôs Kardec, a coisa começa a mudar.
A filosofia espírita nunca teve a pretensão de explicar Deus,
nem lhe cabe provar sua existência. O objeto de estudo do espiritismo é o
espírito, sua sobrevivência e sua relação com o mundo material. Mas, o conceito
de Deus exarado na questão número 1 de O Livro dos Espíritos – “inteligência
suprema e causa primeira de todas as coisas” – além de afastá-lo do
antropomorfismo em que o prenderam as religiões, insere-o num universo racional
e inteligente, por onde tudo transita, inclusive o espírito humano.
(Coluna publicada nas edições de julho dos jornais OPINIÃO,
do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, e ABERTURA, do Instituto Cultural
Kardecista de Santos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário