Apesar de
não gostarmos de admitir isso, o homem é um ser de visão bastante estreita em
se tratando de assuntos como a vida, a doença e a morte; apesar disso, quando
fazemos algum avanço, nos arvoramos em detentores da verdade, tentamos reduzir
o universo em uma casca de noz forçando a natureza a caber em nossos parcos
conhecimentos. Este movimento egoísta e pretensioso é típico do ser humano,
principalmente daqueles que tem um conhecimento técnico maior e mais amplo que
a maioria de nós, mas que tem uma visão monocromática da vida e da natureza
humana.
Esta
arrogância já foi experimentada diversas vezes, e a história da humanidade nos
conta estes tristes episódios que, infelizmente, aconteceram em abundância.
Apesar disso, podemos notar que não aprendemos quase nada com isso tudo, já que
mantemos hoje um holocausto velado, que não se faz mais nos campos de
concentração insalubres e pútridos, mas nas ricas e bem decoradas clínicas onde
se propala uma “medicina fetal” cuja arma “terapêutica” mais utilizada é a
morte, chamada cinicamente de “subtração”.
Sob o falso
argumento de proteger a mãe e seus direitos, muitas mulheres são induzidas à
“subtração” de seus fetos diante de diagnósticos de mal formação ou de
síndromes genéticas. Diante da impotência da medicina e de seus praticantes em
dar uma solução a determinadas doenças ou malformações, a saída é eliminá-las,
evitando que o “fracasso” e a “incompetência” anunciada se materialize.
De início as
malformações graves, depois os sindrômicos, em seguida aqueles com genes que
trarão doenças graves no futuro ou então, para garantir que “nada de ruim”
possa acontecer com aquela família; depois poderemos escolher a altura, a cor
dos olhos ou dos cabelos, o grau de inteligência, quem sabe? Na Holanda já
estão matando os fetos com espinha bífida (malformação da coluna vertebral).
Tudo isso
tem um nome, eugenia, o homem escolhendo, segundo seus interesses ou convicções
quem merece viver e quem merece morrer. Depois de tanto tempo, tantas
experiências dolorosas, continuamos a incidir no mesmo erro, já que o poder
sobre a vida de nossos semelhantes exorta nosso egoísmo, e passamos a uma
prática de lógica imediatista que gera dor e sofrimento e cuja origem é
bastante óbvia: os interesses de uma pessoa ou de um grupo se impondo aos
demais.
Argumentos
imediatistas, utilitaristas, escondem a crueldade daqueles que não conseguem
colocar o valor da vida humana em seu devido lugar, mas não podemos nos deixar
enganar por esta falácia que prioriza razões materiais e políticas e ignora as
razões espirituais.
Ofereça a um
destes médicos, que estão julgando em suas ricas clínicas quem merece viver e
quem merece morrer, a possibilidade de diagnosticar uma criança que terá uma
doença chamada esclerose lateral amiotrófica, uma doença que provoca uma
destruição gradual das células do cérebro e da medula espinhal que controlam os
músculos do corpo, levando a uma paralisia que impede o seu portador de se
mover, de se comunicar, tornando-o prisioneiro de seu próprio corpo, capaz de
pensar mas incapaz de se expressar, até que a doença atinja seus músculos
respiratórios levando à morte em no máximo 3 anos. Certamente ele lhe dirá que
é melhor “subtrair” este feto, afinal de contas, quem gostaria de ter um filho
assim?
Facilmente,
este nosso hipotético médico convenceria a família, posso até imaginar os
argumentos:
- Vocês
podem tentar novamente, não há necessidade de passar por tudo isso, em alguns
minutos tudo estará bem e vocês poderão ir para casa e seguir suas vidas.
Entretanto,
vamos oferecer a este mesmo médico um outro caso, onde seria possível prever
que uma criança se tornaria um grande cientista, provavelmente um dos maiores
físicos do mundo, professor em Cambridge na mesma cadeira que pertenceu a Isaac
Newton, escritor de livros incríveis que iriam popularizar a física e os
conhecimentos de nossa era às pessoas comuns; o que este médico diria aos pais?
- Vocês
terão um gênio, seu filho trará grande contribuição à humanidade, meus
parabéns, vamos cuidar para que a gestação corra sem problemas e a criança
nasça bem.
Pois bem, os
dois casos são um só, trata-se da mesma pessoa, Dr. Stephen Hawking, que teve
diagnosticada sua doença aos 21 anos de idade, antes de se tornar um doutor,
antes de formular suas teorias sobre os buracos negros, antes de escrever seus
livros, antes de se casar, de ter filhos, de assombrar a todos vivendo por mais
de 42 anos com uma doença que deveria mata-lo aos 24 anos de idade.
A ciência
está muito próxima de fazer prognósticos como o do primeiro caso, mas nunca
será capaz de fazer prognósticos como o do segundo caso, sendo assim, Dr.
Hawking não teria chance alguma de nascer.
A morte
nunca é uma saída.
Décio
Iandoli Júnior (Santos/SP)
Prof. Dr.
Décio Iandoli Jr. – Com doutorado em medicina pela UNIFESP-EPM, é professor
titular da cadeira de Fisiologia nos cursos de Fisioterapia, Farmácia e
Biologia da Universidade Santa Cecília (UNISANTA), responsável pela disciplina
de Envelhecimento e Espiritualidade do curso de Gerontologia da UNISANTA, atual
vice-presidente da Associação Médico-Espírita de Santos (AME-Santos), e autor
dos livros “Fisiologia Transdimensional”, “Ser Médico e Ser Humano” e “A
Reencarnação Como Lei Biológica” editados pela FE. Apresenta o programa
“Ciência e Espiritualidade” pela TV Mundo Maior. E-mail:
decio@movimentoespirita.org
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