A nossa
indiferença para com as manifestações espíritas não nos privaria
somente do
conhecimento do futuro de além-túmulo, pois nos desviaria
também da
possibilidade de agir sobre os Espíritos infelizes, de amenizar lhes a sorte,
tornando-lhes mais fácil a reparação de suas faltas.
Os Espíritos
atrasados, tendo mais afinidade com os homens do que com os Espíritos puros, em
virtude de sua constituição fluídica ainda grosseira, são, por isso mesmo, mais
acessíveis à nossa influência. Entrando em comunicação com eles, podemos
preencher uma generosa missão, instrui-los, moralizá-los e, ao mesmo tempo,
melhorarmos, (1) sanearmos o meio fluídico em que todos vivemos.
Os Espíritos
sofredores ouvem o nosso apelo e as nossas evocações. Os
nossos
pensamentos, simpáticos, envolvendo-os como uma corrente elétrica e atraindo-os
a nós, permitem que conversemos com eles por meio dos médiuns.
O mesmo
dá-se com as almas que deixam este mundo. As nossas evocações despertam a
atenção dos Espíritos e facultam-lhe o desapego corpóreo; as nossas preces
ardentes são como um jato luminoso que os esclarece e vivifica.
É-lhes
agradável perceber que não estão abandonados a si próprios na
Imensidade,
que há ainda na Terra seres que se interessam pela sua sorte e
desejam a
sua felicidade. E, quando mesmo esta não possa ser alcançada por preces,
contudo elas não deixam de ser salutares, arrancando-os ao
desespero,
dando-lhes as forças fluídicas necessárias para lutarem contra as
influências
perniciosas e ajudando-os a subirem mais alto.
Não devemos,
entretanto, esquecer que as relações com os Espíritos
inferiores
exigem uma certa segurança de vistas, de tato e de energia; daí os
bons efeitos
que se podem esperar. É preciso uma verdadeira superioridade
moral para
dominar tais Espíritos, para reprimir os seus desmandos e dirigi-los ao caminho
reto; e essa superioridade não se adquire senão por uma vida isenta de paixões
materiais, pois, em tal caso, os fluídos depurados do evocador atuam
eficazmente sobre os fluídos dos Espíritos atrasados.
Além disso,
é necessário um conhecimento prático do mundo invisível para nos podermos guiar
com segurança no meio das contradições e dos erros que pululam nas comunicações
dos Espíritos levianos.
Em consequência
da sua natureza imperfeita, eles só possuem conhecimentos muito restritos; veem
e julgam as coisas diferentemente; muitos conservam as opiniões e os
preconceitos da vida terrena.
O critério e
a clarividência tornam-se, portanto, indispensáveis a quem se dirigir nesse
dédalo.
O estudo dos
fenômenos espíritas e as relações com o mundo Invisível
apresentam
muitas dificuldades e, mesmo, perigos ao homem Ignorante e
frívolo, que
pouco se tenha preocupado com o lado moral da questão.
Aquele que,
descuidando-se de estudar a ciência e a filosofia dos Espíritos, penetra
bruscamente no domínio do Invisível, entregando-se, sem reserva, às suas
manifestações, desde logo se acha em contato com milhares de seres cujos atos e
palavras ele não tem meio algum de aferir. Sua ignorância entregá-lo-á
desarmado à Influência deles, pois a sua vontade vacilante, Indecisa, não
poderá resistir às sugestões de que se fez alvo.
Fraco,
apaixonado, sua imperfeição faz com que atraia Espíritos Iguais a si, que o
assediam sem o menor escrúpulo de enganar. Nada sabendo sobre as leis morais,
insulado no seio de um mundo onde a alucinação e a realidade confundem-se, terá
tudo a temer: a mentira, a Ironia, a obsessão.
A princípio,
foi considerável a parte que os Espíritos inferiores tomaram nas
manifestações,
e isso tinha sua razão de ser. Em um meio material como o
nosso, só as
manifestações ruidosas, os fenômenos de ordem física poderiam impressionar os
homens e arrancá-los à Indiferença por tudo que não diga respeito aos seus
interesses imediatos.
É isso que
justifica o predomínio das mesas giratórias, das pancadas, das pedradas, etc.
Esses
fenômenos vulgares, produzidos por Espíritos submetidos à Influência da
matéria, eram apropriados às exigências da causa e ao estado mental daqueles de
quem se queria despertar a atenção.
Não se os
deverá atribuir aos Espíritos superiores, pois estes só se manifestaram
ulteriormente e por processos menos grosseiros, sobretudo com o auxílio de
médiuns escreventes, auditivos e sonambúlicos.
Depois dos
fatos materiais, que se dirigiam aos sentidos, os Espíritos têm
falado à
inteligência, aos sentimentos e à razão. Esse aperfeiçoamento gradual dos meios
de comunicação mostra-nos os grandes recursos de que dispõem os poderes
invisíveis, as combinações profundas e variadas que sabem pôr em jogo para
estimular o homem no caminho do progresso e no conhecimento dos seus destinos.
Do Livro -
Depois da Morte de Léon Denis
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