— Esta é a
situação daquelas pessoas que não se definiram no mundo pelo bem divino,
colocando-se numa posição neutra, o que já representa um mal em si.
Misturam-se
com a multidão de seres e confundem-se com os quiumbas, arrastando-se por entre
a turba de marginais do astral. Não assumiram uma posição clara e resoluta
durante suas vidas; assim, do lado de lá do véu que separa as duas realidades,
são arrastadas como num vendaval, sem encontrar forças para se subtraírem às
influências daninhas dos espíritos delinquentes.
Seu
sofrimento representa a angústia de quem sabe não estar bem, mas julga não
possuir recursos próprios para se libertar. A imagem que observamos neste
momento nos lembra uma águia, que, podendo singrar os céus, permanece com os
pés enlameados, presa a perigoso pântano.
Estes seres
desencarnam aos milhares pelo mundo afora, principalmente nos países onde a
vida espiritual não é cogitada, nem ao menos pressentida. Os ensinamentos
ministrados ao povo em suas religiões, quando é o caso, muitas vezes se atem ao
aspecto materialista e imediatista. Permanecem completamente ignorantes de uma
vida espiritual ou espiritualizada. Ao cruzarem o rio da vida, suas mentes
automaticamente os conduzem a essa situação desoladora, de acordo com a lei das
afinidades.
O pântano e
as sensações que experimentam são apenas criações mentais, que foram se
materializando em torno de si desde quando encarnados; agora, como habitantes
dessas zonas purgatórias, ressentem-se intensamente de sua ação daninha.
Essa classe
de espíritos compõe a imensa legião dos chamados encostos, que se aproximam dos
encarnados para se sentirem aliviados. Advêm desse contingente os chamados sofredores-,
muitas vezes percebidos pelos médiuns, que captam suas vibrações doentias e
entram também num processo de adoecimento.
Os marginais
os utilizem da mesma forma como eles próprios são manipulados por espíritos
perversos, sem que o saibam. Por exemplo: imagine a hipótese de um elemento da
malta de marginais ou quiumbas ser contratado por algum espírito mais especializado
e inteligente, a fim de provocar um processo de enfermidade em alguém. Como
procederá? O tal marginal levará cativo em suas vibrações alguns desses
sofredores, e, havendo sintonia mental e emocional com o encarnado, ambos os
espíritos se acoplam à aura do infeliz.
Nessa
circunstância, o sofredor absorve certos fluidos animalizados, sentindo-se
aparentemente mais revigorado, enquanto a vítima do processo obsessivo padece
das dores e dos incômodos daquele ser, que aos poucos são transferidos para
seus corpos etérico e físico.
A mente da
criatura desequilibrada, que não se preparou para a vivência ou o conhecimento
da espiritualidade, encontra-se nublada, embotada e, por conseguinte, incapaz
de realizar observações com maior grau de lucidez.
Esse estado
de dormência dos sentidos espirituais faz com que as entidades em sofrimento
sejam os objetos prediletos de magos e feiticeiros, quando querem realizar uma
transferência energética mórbida para o corpo humano.
Funcionam
como depósito de morbo fluido, que ao longo do tempo se acumulou em seu
perispírito. A mente adoecida cria continuamente clichês de sofrimento, além da
matéria astral contaminada. Tais elementos ficam condensados na delicada
tessitura de seus corpos espirituais patogênicos. Exalam uma espécie de matéria
mental densa, pegajosa e de alto poder corrosivo. Por tudo isso, magos e
feiticeiros frequentemente aproveitam essa turba de espíritos infelizes na
consecução de seus planos destruidores.
— O que se
pode fazer para libertar algum desses seres reduzidos a ferramentas de
processos obsessivos?
— No âmbito
umbandista, são conhecidas e utilizadas certas ervas, que, simplificando, são
dotadas de altíssimo poder absorvente. Bem utilizados, esses recursos da
natureza sugam o fluido mórbido tanto do chamado encosto ou sofredor, quanto do
encarnado, que é a vítima.
É claro que
somente o expediente fitoterápico, mesmo empregado com propriedade, não será
suficiente. É necessário proceder ao esclarecimento do ser subjugado, quando se
trata do sofredor, o que se alcança através da conversa com o espírito,
incorporado num médium. Essa etapa pode ser cumprida num trabalho de mesa, no
centro espírita, ou de terreiro, na tenda de umbanda bem orientada.
A eficácia
da limpeza energética com os elementáis é inquestionável. Quando é realizado
esse tipo de limpeza nas auras dos seres envolvidos em assimilação energética
de fundo mórbido, o desencarnado é imediatamente liberado da carga tóxica e
então estará apto para a conversa fraterna, que muitos espíritas chamam de
doutrinação.
Como esses
espíritos em sofrimento não possuem, quase em sua totalidade, o conhecimento da
vida espiritual, precisam de um tempo para meditar, fazer algumas reflexões; a
seguir, devem ser conduzidos, em breve espaço de tempo, à reencarnação.
Durante a
próxima vida, em novo corpo físico, entrarão em contato natural com o
sofrimento e a marginalidade, mas se verão também envoltos em algum
conhecimento espiritual elementar. Reclamarão um tipo de alimento espiritual
básico, sem complexidade nem sofisticação, para que possam começar a ter noções
de algo além do mundo material.
Precisamente
por essa razão é que vemos no mundo a atuação cada vez mais intensa das
chamadas igrejas pentecostais e neopentecostais, bem como do movimento católico
carismático, os quais abordam a questão espiritual de maneira bem distinta
daquela que o espiritismo apresenta.
Esses nossos
irmãos, com sua fé radical e grande poder de persuasão, têm prestado imenso
benefício, pois retiram esses espíritos, já reencarnados, de dependências
químicas e antros de perdição, como dizem. Conduzem-nos à vivência de algum
princípio moral, que desperte neles conceitos elementares, a fim de elevá-los
em relação à vida puramente material.
Mas será
válida a forma como trabalham com esse público? Em suas pregações, valem-se de
imagens como o inferno, a perdição eterna e o diabo, arrebatando fiéis para
suas igrejas através do medo.
— Que outra
linguagem tais irmãos entenderiam?
Emergem de
uma situação no plano astral na qual conviveram com imenso sofrimento; eram
fantoches nas mãos de espíritos marginais. Sobretudo, seu despreparo espiritual
é tamanho que não compreenderiam jamais a linguagem detalhada e explícita da
doutrina espírita. Reencarnam, então, em meio à marginalidade, conforme dita a
própria sintonia de seus espíritos, integrando gangues ou agindo sozinhos, de conformidade
com as impressões e lembranças firmemente gravadas na memória espiritual.
Habituaram-se
de tal maneira às imagens mentais de sofrimento e dor do plano onde estagiaram
que, uma vez na Terra, só estão aptos a dar ouvido aos apelos das pregações fortes
e recheadas de elementos familiares a seu universo. O inferno do qual querem
escapar, ou o diabo, por quem alimentam tanto pavor, são os obsessores e magos
negros que deles se serviam antes da reencarnação atual. Decorrem desse fato o
conteúdo de medo e as imagens mentais fortes que muitos ministros pentecostais
e carismáticos empregam.
"Tudo
tem uma finalidade útil. Muitos dos atuais pregadores que se dedicam a
trabalhar nos guetos, nas favelas e nos lugares de peso vibratório são
espíritos de guardiões, que já desempenhavam esse papel nas regiões do mundo
oculto, antes de reencarnar. Especializaram-se no resgate dessas almas; ao
reencarnarem, em seu ministério, contam com a linguagem mais adequada a coibir
os abusos que esses espíritos trazem como marca de sua conduta. Somente esse
tipo de linguagem e vocabulário poderá ser capaz de conter seus instintos
primitivos."
Retirado do
livro Legião - Um olhar sobre o reino das sombras de Ângelo Inácio e Robson
Pinheiro
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