A "bala
perdida" está atormentando a vida do carioca, sem que haja, das
autoridades competentes, iniciativas eficazes, saneadoras ou preventivas, a
esse ato de violência em nossa cidade. As próprias religiões tradicionais
também não vêm a público trazer uma palavra de alento, muito menos de
esclarecimento do porquê da "bala perdida". Restringem-se a medidas
paliativas, ou seja, aquelas atuantes nos eleitos, não nas causas.
Malgrado
toda cultura acumulada, o homem, apesar de já ter enfrentado tantos desafios -
ir à Lua, daqui a pouco vai a Marte, além de outros feitos notáveis nos vários
setores da vida -, não consegue explicação para porfia bem menor, ocorrências
comezinhas, se encaradas dentro de um entendimento espírita.
A dor e o
sofrimento das pessoas envolvidas em tais eventos são mais do que respeitáveis,
são importantes para nós, tocam-nos profundamente a sensibilidade, porque a dor
do próximo já não é só dele, é do espírita também. Dói muito vermos pessoas,
irmãs queridas em humanidade, sofrerem tanto por ignorância espiritual. Resulta
daí sabermos, pelo fato de buscarmos a verdade, que todo desespero é resultado
da falta de conhecimento, da ausência de uma estruturação religiosa capacitada
a trazer conforto, consolação e resignação nessas horas, principalmente. Esses
assuntos, como suas explicações lógicas, acham-se na Doutrina Espírita, só
nela, e são oferecidas aos seus profitentes. Quanto a serem compreendidas e
praticadas, é outra coisa.
Para o homem
sem melhor conhecimento espiritual, a "bala perdida" decorre da
atuação de forças cegas como o acaso, o azar, a má sorte ou então "coisas
da fatalidade". Falta a essas pessoas uma concepção firme e racional de
suas próprias condições de vida, apesar de alimentarem, muitas vezes, convicções
espiritualistas e crença na imortalidade.
Elas não
sabem por que vivem, qual o objetivo, o sentido da vida, como se deve viver,
que tipo de fé alimentar em Deus, e o que Dele aguardar.
Fosse a vida
uma só, entre o berço e o túmulo, e sendo a Justiça Divina perfeita e
iniludível, a "bala perdida" ficaria incompreendida, seria ilógica,
porque existe um vazio muito grande em se desejando conciliar "uma só
existência" e a "Justiça de Deus" lacuna perfeitamente
preenchida pelo Espiritismo e a reencarnação, esta, base fundamental de suas
estruturas postulares.
Explicações
para fatos como "bala perdida", sem respaldo na Justiça Divina, é
cair naquilo que disse Jesus: "...cego guiando cego, ambos cairão no
fosso". Não há como desvincular a Justiça Divina de todos os acontecimentos
aqui na Terra, como em toda a vida universal. Deus não desconhece o que se
passou, passa-se e passará com suas criaturas no transcurso de suas
existências, aqui ou lá. Assim sendo, o infrator da Lei de Amor experienciará
sempre o resultado de suas ações, hoje ou amanhã, nesta vida ou noutra, pelos
canais reencarnatórios.
O que para
os olhos e juízo do homem da Terra são terríveis coincidências, ainda mais
quando o fato o atinge dolorosamente, na realidade vemos aí a dinâmica da
Justiça Divina, cobrando o que se lhe é devido. Sem essa compreensão os
atributos de Deus seriam um engodo... e não são.
Colocasse o
homem as vistas na vida espiritual, soubesse racionalmente da sua condição de
espírito. imortal em processo de aperfeiçoamento moral, e cuja meta finalista é
a perfeição, fatos como os da "bala perdida" não causariam tantos
males nas pessoas envolvidas com ela, não provocariam tantas emoções em tantas
pessoas.
Perguntado
aos espíritos superiores sobre a síndrome da bala perdida obtivemos a seguinte
resposta:
P- E no caso
das armas disparadas a esmo, cujo projétil acaba acertando alguém?
R- Essa
energia que nos envolve é a expansão do nosso perispírito que, além de formar
um campo protetor natural, amplia a sensibilidade do espírito encarnado, o que
lhe permite, através do sensório, detectar o perigo com antecedência. No caso
em questão, o subconsciente informado do perigo iminente automaticamente leva o
encarnado a se mover naquele instante, evitando ser atingido. Caso a morte
nessas condições se constitua em necessidade expiatória, e é chegada a hora de
cumpri-la, acontece o oposto: mesmo se estiver fora de alcance do perigo, ao
mover-se, é mortalmente atingido.
Não
olvidemos onde se encontra o verdadeiro mal. Para a maioria absoluta, no fato
em si, quando na verdade se encontra nas consequências. Se estas forem boas, o
fato, apesar de toda aparência má, será bom. O inverso também é verdadeiro. O
fato bom oferece, muitas vezes, consequências dolorosas, trágicas. Toda a
aparência boa dele era enganosa. Quem não conhece casamentos suntuosos, por
exemplo, com toda aparência de felicidade, que acabaram em tragédias
lamentáveis? Jesus precisa ser muito estudado em suas anunciações. Duas delas,
que se encaixam perfeitamente no evento "bala-perdida", são as
seguintes: "Há necessidade do escândalo, mas ai do homem por quem o
escândalo venha". (Mateus 5:29/ 30) e "Quem tem ouvidos para ouvir,
ouça" (Mateus 11:15). Quem compreende tais citações, correlacioná-las,
compreenderá esta síndrome do carioca.
Se Deus, que
é todo previdência, providência e presciência além de todo poderoso em graus
infinitos. permite que tais acontecimentos prevaleçam, é porque eles são
necessários, visam o nosso progresso, o ajuste do faltoso com a Lei, e,
consequentemente, a nossa felicidade, afirma-nos a lógica.
André Luiz,
no livro "O Espírito da Verdade", edição FEB, diz-nos que,
"Antes de sermos bons ou maus para com os outros, somos bons ou maus para
nós mesmos"; os Espíritos Nobres nos asseveram que. "colheremos de
conformidade com o nosso plantio"; a voz popular fala na "lei do
retorno" e também "aqui se faz aqui se paga"; Jesus assinalou,
em Mateus 16:27 "(...) dará a cada um segundo as suas obras".
Raciocinemos; não deterão essas afirmações uma verdade?
Resumindo: a
dor que fizemos, deliberadamente, o outro sofrer, é a dor que vamos suportar,
na mesma intensidade, sem necessariamente ser dentro das mesmas circunstâncias.
Nesta reencarnação ou noutra, não há como fugir, esquivar-se deste mecanismo da
Lei de Ação e Reação, sempre acionada por Deus, e só Ele.
Ter fé,
acreditar, efetivamente, é uma carência nossa, entretanto, mais imprescindível
é Saber. Nesses acontecimentos, pois, de "bala perdida", de perdidas
elas não têm nada. Vão ao endereço certo, "nunca batem na porta errada".
Se isto acontecesse, ter-se-ia a negação dos atributos divinos, Deus não seria
o que é, "Inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas Quando o
homem aprender essas verdades, será feliz, porque deixar-se-á conduzir pela Lei
de Amor e Perdão vivenciada por Jesus.
Revista
Espírita Allan Kardec, nº 39.
Fonte:
Portal do Espírito, por Adésio Alves Machado
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