Conhecemos
seis irmãs que moravam juntas e que, durante muitos anos, todas as manhãs
encontravam suas roupas espalhadas, rasgadas e cortadas em pedaços, por mais
que tomassem a precaução de guardá-las à chave. A muitas pessoas tem acontecido
que, estando deitadas, mas completamente acordadas, lhes sacudam os cortinados
da cama, tirem com violência ascobertas, levantem os travesseiros e mesmo as
joguem fora do leito. Fatos destes são muito mais freqüentes do que se pensa;
porém, as mais das vezes, os que deles são vítimas nada ousam dizer, de medo do
ridículo. Somos sabedores de que, por causa desses fatos, se tem pretendido
curar, como atacados de alucinações, alguns indivíduos, submetendo-as ao
tratamento a que se sujeitam os alienados, o que os torna realmente loucos.
A Medicina
não pode compreender estas coisas, por não admitir, entre as causas que as
determinam, senão o elemento material; donde, erros freqüentemente funestos. A
história descreverá um dia certos tratamentos em uso no século dezenove, como
se narram hoje certos processos de cura da Idade Média.
Perguntado
aos Espíritos o motivo que acontecia isso. Eles responderam: "A
Língua". Essas Irmãs costumavam falar muito mal das outras pessoas,
fazendo "Fofocas" de mau gosto...
Admitimos
perfeitamente que alguns casos são obra da malícia ou da malvadez. Porém, se
tudo bem averiguado, provado ficar que não resultam da ação do homem,
dever-se-á convir em que são obra, ou do diabo, como dirão uns, ou dos
Espíritos, como dizemos nós. Mas de que Espíritos?
São
provocados os fenômenos de que acabamos de falar.
Sucede,
porém, às vezes, produzirem-se espontaneamente, sem intervenção da vontade, até
mesmo contra a vontade, pois que frequentemente se tornam muito importunos.
Além disso, para excluir a suposição de que possam ser efeito de imaginação
sobre-excitada pelas ideias Espíritas, há a circunstância de que se produzem
entre pessoas que nunca ouviram falar disso e exatamente quando menos por
semelhante coisa esperavam.
Tais
fenômenos, a que se poderia dar o nome de Espiritismo prático natural, são
muito importantes, por não permitirem a suspeita de conivência.
Por isso
mesmo, recomendamos às pessoas que se ocupam com os fatos Espíritas que
registrem todos os desse gênero, que lhes cheguem ao conhecimento, mas,
sobretudo, que lhes verifiquem cuidadosamente a realidade, mediante
pormenorizado estudo das circunstâncias, a fim de adquirirem a certeza de que
não são joguetes de uma ilusão ou de uma mistificação.
De todas as
manifestações espíritas, as mais simples e mais frequentes são os ruídos e as
pancadas. Neste caso, principalmente, é que se deve temer a ilusão, porquanto
uma infinidade de causas naturais pode produzi-los: o vento que sibila ou que
agita um objeto, um corpo que se move por si mesmo sem que ninguém perceba, um
efeito acústico, um animal escondido, um inseto etc., até mesmo a malícia dos
brincalhões de
mau gosto.
Aliás, os
ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e timbre
muito variados, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam
confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo ou com o
tique-taque monótono do relógio.
São pancadas
secas, ora surdas, fracas e leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes,
que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica.
De todos os
meios de verificação, o mais eficaz, o que não pode deixar dúvida quanto à
origem do fenômeno é a obediência deste à vontade de quem o observa. Se as
pancadas se fizerem ouvir num lugar determinado, se responderem, pelo seu
número, ou pela sua intensidade, ao pensamento, não se lhes pode deixar de
reconhecer uma causa inteligente.
Todavia, a
falta de obediência nem sempre constitui prova em contrário.
Admitamos
agora que, por uma comprovação minuciosa, se adquira a certeza de que os
ruídos, ou outros efeitos quaisquer, são manifestações reais: será racional que
se lhes tenha medo? Não, decerto; porquanto, em caso algum, nenhum perigo
haverá nelas. Só os que se persuadem de que é o diabo que as produz podem ser
por elas abalados de modo deplorável, como o são as crianças a quem se mete
medo com o lobisomem ou o
papão.
Essas manifestações
tomam, às vezes, forçoso é convir, proporções e persistências desagradáveis,
causando aos que as experimentam o desejo muito natural de se verem livres
delas. A este propósito, uma explicação se faz necessária.
Dissemos
atrás que as manifestações físicas têm por fim chamar-nos a atenção para alguma
coisa e convencer-nos da presença de uma força superior ao homem. Também
dissemos que os Espíritos elevados não se ocupam com esta ordem de
manifestações; que se servem dos Espíritos inferiores para produzi-las, como
nos utilizamos dos nossos serviçais para os trabalhos pesados, e isso com o fim
que vamos indicar.
Alcançado
esse fim, cessa a manifestação material, por desnecessária.
Um ou dois
exemplos farão melhor compreender a coisa.
89. Tais
fatos assumem, não raro, o caráter de verdadeiras perseguições. O Livro dos
Médiuns » Segunda parte - Das manifestações espíritas » Capítulo V - Das
manifestações físicas espontâneas » Ruídos, barulhos e perturbações »
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