O senhor J. F. Young comunica o incidente que segue e que
lhe é pessoal: “New Road, Lanelly, 13 de novembro de 1904. Possuo um cão
fox-terrier de cinco anos e que eu mesmo vi crescer. Sempre gostei muito dos
animais, principalmente dos cães. Este de quem falo retribui enormemente meu
afeto, tanto que não posso ir a lugar nenhum, nem sequer deixar meu quarto, sem
que ele me siga constantemente. É um tremendo caçador de ratos; como a despensa
é às vezes frequentada por esses roedores, coloquei ali uma caminha, bastante
confortável, para Fido. No mesmo cômodo havia uma fornalha, onde foi
incorporado um forno para assar pães, assim como uma caldeira para a roupa,
munida de um tubo que desemboca na chaminé. À noite, nunca deixei de acompanhar
o cachorro até sua cama antes de me deitar.
Eu já tinha me trocado e ia dormir, quando, de repente, fui
invadido pela inexplicável sensação de um perigo iminente. não podia pensar em
outra coisa que não fosse fogo, e a impressão foi tão forte que acabei por me
entregar a ela. Eu me vesti novamente, desci e me pus a vasculhar cada cômodo
do apartamento, a fim de me assegurar de que tudo estava bem e em ordem. Ao
chegar à cozinha, não vi Fido; supondo que ele poderia ter saído dali para ir
ao andar superior, eu o chamei em vão. Fui imediatamente à casa de minha
cunhada para saber se ela tinha alguma novidade; porém, ela não sabia de nada.
Comecei a me preocupar. Voltei imediatamente para a despensa
e chamei inúmeras vezes o cão, embora inutilmente como sempre. Não conseguia
imaginar o que podia ter acontecido. De repente, dei-me conta de que, se tinha
algo que faria o cão responder, era com certeza a frase “Vamos passear, Fido!”,
convite que o fazia vibrar de felicidade. Eu então a pronunciei e uma queixa
contida, como que atenuada pela distância, chegou dessa vez até meus ouvidos.
Eu recomecei e ouvi distintamente a queixa de um cão em apuros. Tive tempo para
me certificar de que o barulho vinha de dentro do tubo que ligava a caldeira à
chaminé. Não sabia como fazer para retirar o cão dali; os minutos eram
preciosos e sua vida estava em perigo. Peguei uma enxada e comecei a romper a
muralha naquele ponto. Finalmente consegui, com bastante dificuldade, tirar
Fido dali, meio sufocado, aturdido pelos esforços de vômito, com a língua e o
corpo completamente pretos de fuligem. Se tivesse demorado alguns minutos a
mais, meu querido cão estaria morto; e como utilizávamos raramente a caldeira,
provavelmente não teria conhecido o desfecho de sua história.
Minha cunhada foi atraída pelo barulho; juntos, descobrimos
um ninho de ratos dentro da fornalha, ao lado do tubo. Fido, logicamente, tinha
perseguido um rato dentro do tubo, de tal maneira que não pôde se virar e sair
de lá de dentro. Tudo isto se passou há alguns meses e foi, então, publicado na
imprensa local. Mas jamais teria pensado em comunicar o fato a esta Sociedade se
não tivesse se produzido, ente estes fatos, o caso do senhor Henry Rider
Haggard.” – J. F. Young
A senhorita E. Bennett, cunhada do signatário, confirmou o
relato de seu parente.
Para outras informações sobre este episódio, remeto o leitor
ao Journal of the S. P. R., vol. XI, pág. 323.
Este caso de telepatia por “impressão” difere sensivelmente
daqueles que o precedem e onde o traço característico essencial de impulso
telepático consistia na percepção exata de um chamado emanado de um animal em
apuros e da localização intuitiva do local onde o animal se encontrava. Aqui,
ao contrário, a impressão que acomete o receptor lhe sugere a idéia de um
perigo iminente relacionado ao fogo. Entretanto, a impressão é forte o bastante
para levá-lo a se vestir com toda pressa e ir inspecionar a casa; de modo que,
ao chegar à cozinha e perceber a ausência do cão, ele o chama, procura por ele
e o salva. Segue daí que, neste caso, a mensagem telepática se realiza de
maneira imperfeita, adquirindo uma forma simbólica – o que não diminui em nada
seu valor intrínseco, posto que esta circunstância não constitui de forma
alguma uma dificuldade teórica.
Sabe-se que as manifestações telepáticas, na sua passagem do
subconsciente para o consciente, seguem “a via de menor resistência”,
condicionada pelas idiossincrasias específicas do receptor. Elas consistem
principalmente no “tipo sensorial” do percipiente(visual, auditivo, motor,
etc.) e, em seguida, nas condições dos meios em que ele vive (hábitos,
repetição dos mesmos incidentes na vida cotidiana).
Resulta disso que, quando o impulso telepático não consegue
se realizar na forma mais direta, ele se transforma numa modalidade de
percepção indireta ou simbólica que traduz com maior ou menor fidelidade o
pensamento do agente telepatizante, mas permanecendo como sempre relacionado
com o pensamento do agente em questão. Assim sendo, deveríamos dizer que, no
caso que examinamos, o chamado ansioso do cão em apuros tinha certamente
conseguido impressionar o subconsciente do percipiente, mas, para atingir seu
consciente, ele deve ter perdido grande parte de sua nitidez, transformando-se
numa vaga impressão de perigo iminente relacionado com o fogo, o que
correspondia, mais uma vez à realidade, posto que o animal se encontrava
efetivamente preso e em risco de morte por asfixia no tubo da fornalha.
Fonte:
Journal of the S. P. R. (vol. XI, pág. 323).
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