Em 2014, Jennifer Christie publicou
um testemunho dilacerante: estuprada durante uma viagem a trabalho, ela
engravidou do estuprador, viveu uma tormenta emocional brutal e, em todos os
momentos, contou com um apoio decidido e magnânimo: o do marido, Jeff, que a
incentivou a dar à luz o bebê inocente que aquele ato de violência tinha
gerado.
O arrepiante testemunho de Jennifer
deixa uma mensagem de esperança e coragem para as mulheres que passaram pela
tragédia do estupro e que, em decorrência dele, sofrem a dramática tentação do
aborto. Jennifer e tantas outras vítimas que sobreviveram a essa violência
terrível são um depoimento vivo de que o trauma do estupro não precisa ser
ampliado pelo trauma do aborto. Ao contrário: a chegada de um bebê inocente
pode ser o caminho da cura e a virada de página para uma vida nova da mente, da
alma e também do corpo.
Mas Jennifer não é a única a dar um
testemunho arrepiante (não deixe de ler o relato dela aqui).
O marido dela, Jeff Christie, também
fez questão de dar um depoimento extraordinário – e de grande importância
diante da espúria campanha ideológica focada em negar aos homens o direito de
opinarem e participarem da solução desses quadros, falsamente rotulados pelo ativismo
abortista como “assunto exclusivo da mulher”.
Este é o depoimento de Jeff:
Eu não fiquei grávido por estupro.
Mas a minha esposa sim. E eu tenho a minha opinião sobre isso.
Entendo perfeitamente as mulheres
quando elas dizem que os homens não têm que dizer nada nos casos de gravidez
por estupro. Existe, às vezes, um pouco de verdade nesta afirmação. Mas quando
isso aconteceu com a minha esposa, a mulher com quem estou casado há 22 anos,
quando ela foi brutalmente violentada e agredida, eu entendo que aquilo afetou
profundamente e de maneira muito íntima também a mim.
O nosso precioso filho de 3 anos foi
concebido naquele horrível ato de maldade. E ele foi um presente felicíssimo
para nós dois, que nos ajudou a superar aquela violência dia após dia.
Eu já li muitos comentários e já ouvi
várias opiniões. Concordo que não podemos pensar nem sentir o que aconteceu
numa situação dessas sem tê-la sofrido na própria carne. É uma realidade
terrível e cruel com a qual eu vivo. Sou consciente de que não posso eliminar o
trauma que a minha esposa sofreu, apesar do tanto que eu tento. Reconheço que
não posso nem nunca vou ser capaz de entender a profundidade do sofrimento
dela.
E ela também não vai compreender o
meu. Considera-se que eu sou o protetor dela. Eu sou o homem que, diante das
nossas famílias e dos nossos amigos, declarei: “Prometo, na alegria e na
tristeza…”. Eu prometi, no meu coração, proteger a segurança do seu corpo e do
seu coração. E onde é que eu estava na hora em que ela mais precisou de mim? Eu
vivo com esse peso constante e não cesso de me perguntar: “O que é que teria
acontecido se…?”… “Por que eu não…?”… Esses pensamentos me acompanham sempre.
Antes que qualquer outra pessoa
notasse, eu sabia que aquela mulher que eu conhecia desde os 14 anos e que era
uma moça jovial, extrovertida, com aquelas tiradas que faziam todo mundo rir,
nunca mais ia ser a mesma pessoa. Eu também compreendi que aquele pequeno, o
nosso filho, não tinha tido culpa nenhuma do horror que a mãe dele tinha
passado.
Eu sabia que a minha esposa nunca
mais iria esquecer a atrocidade que padeceu, tivesse ou não tivesse nascido
aquele bebê inocente. É de uma ignorância arrogante defender comentários do
tipo “Se tiver o filho, a vítima do estupro vai ter que viver a vida inteira
com a lembrança do monstro que fez aquilo”. Ela não precisa de nenhum lembrete.
O estupro vai ficar impresso para sempre na memória dela, com ou sem o bebê.
E o que são essas crianças concebidas
numa violação terrível se não “lembretes”? Eu posso responder pela minha
experiência própria.
Esses bebês são chances de redenção.
São o caminho da cura e uma resposta ao pesadelo da crueldade e do sem-sentido.
Isaías 61,3 diz que Ele confortará os que lamentam e lhes concederá “uma coroa
em vez de cinzas, azeite de alegria em vez de luto, traje de festa em vez de
espírito desalentado”.
A minha esposa adora dizer que o
nosso filho lhe deu esperança, lhe deu um propósito na vida. Essa chama de amor
brilhava no coração dela. Eu sabia que, sem aquele menino, nascido com
violência, sem aquela alma pura a quem proteger e alimentar, ela ia se sentir
sempre sozinha no seu vitimismo. Durante a vida inteira ela se perguntaria por
que teve que acontecer aquilo com ela, uma criatura amada por Deus. Aquele
estuprador perverso não deixou só uma, e sim duas vítimas do seu crime: a
mulher ultrajada e a vida concebida naquela ação hedionda.
Eu tenho que fazer uma confissão
definitiva: eu também comecei a me curar com a notícia da concepção do nosso
filho. E digo “nosso filho” porque a minha querida esposa e eu somos uma só
alma. Se ela está grávida, então NÓS estamos esperando um bebê.
Passei as primeiras semanas depois do
estupro sendo o arrimo e a fortaleza que a minha esposa precisava, machucando
as minhas mãos quando esmurrava com raiva as paredes do lavabo. Em duas décadas
de matrimônio eu nunca tinha questionado o meu papel de esposo protetor. Mas,
naquele momento, eu me senti angustiado; não podia suportar a ideia de me ver
responsável pelo acontecido, de não ter podido protegê-la justo naquela hora.
É claro que eu nem tento comparar a
minha experiência com o tormento dela. Mas considero meu dever falar em nome
dos homens que, de algum modo, se viram atingidos pelo ataque sexual sofrido
pela mulher a quem eles amam. Nós também estamos feridos. O dano colateral é
imenso.
Mas o bebê…
Ele cura, ele ensina e ele nos dá
coragem. Ele nos força a olhar para além de nós mesmos. É uma oportunidade
impressionante que ele dá para nós, os pais, de trazer outra alma cheia de amor
e de compaixão a este mundo. Não é o nosso único filho: é o caçula de cinco.
Assim como os outros, ele chegou à nossa vida pela vontade de Deus, que nos
confiou o seu cuidado.
Assim como foi com os outros filhos,
o nosso amor por ele começou desde o momento em que soubemos da sua existência.
Nós o recebemos no nosso lar com a mesma devoção e reverência com que recebemos
os irmãos e a irmã dele. Todos o amam e o sentem como irmão, sem considerá-lo
diferente. Eles sabem como ele foi concebido, mas nunca levam isso em conta
quando olham para ele ou brincam com ele. Essa aceptação incondicional do
irmãozinho nos fortalece, a mim e à minha esposa, em nosso trabalho de pais.
Agora me dirijo às mulheres que
abortaram depois de um estupro e lhes digo que não pretendemos julgá-las. Nós
entendemos, mais que ninguém, que a decisão que uma mulher enfrenta nos
primeiros meses depois do trauma de um estupro, quando ainda se tenta achar
sentido no que aconteceu, é esmagadora. Perceber que você sente animosidade
pela criança que foi gerada naquela violência é terrível.
Nós também vivemos isso. Nós sabemos
que o futuro pode parecer tão escuro que só se quer reduzir a pressão do jeito
que for. No nosso caso, realmente não houve decisão. Sem discussão, nós
sabíamos que honraríamos a Deus e as nossas convicções e protegeríamos essa
pequena alma do dano do aborto. É possível que outras mulheres não tenham
contado com esse apoio. O que nós podemos garantir a elas é que Deus perdoa e
nos permite aprender de todos os nossos erros.
Parte da grandeza da vida humana é
que nós sempre temos a possibilidade de mudar o rumo, retificando as coisas ao
longo da nossa vida. Deus pode nos mudar. Só temos que deixar. E querer de
verdade.
A todas as mulheres que foram
ultrajadas e que carregam uma vida no ventre, nós oferecemos ajuda e
compreensão. Amor e oração. Peçam a nossa ajuda. Nós sabemos que vocês não vão
esquecer aquele dia, mas, com o tempo, sabemos que podem se sentir sanadas,
curadas.
A minha esposa gosta de lembrar que
“não existe volta atrás, mas sempre existe um caminho para frente”. Existe a
possibilidade de aceitar essa nova realidade e aprender a vivê-la dia a dia. Eu
reforço que a pessoa que cresce dentro de vocês é única, irrepetível. Vocês não
estão sozinhas. Sim, a vida de vocês mudou drasticamente, mas essa anormalidade
foi culpa do malfeitor que violentou vocês, não da criança que cresce no seu
ventre. Ela também é vítima.
Nestes quatro anos, o corpo da minha
esposa não ficou totalmente sanado daquele ataque brutal. Vocês também podem
ficar com sequelas emocionais e físicas duradouras. O corpo de uma mulher nunca
deveria sofrer ultraje algum, mas, quando vocês pensarem com calma, vão ver,
também, que esse corpo foi milagrosamente desenhado para proteger e fazer
crescer a vida.
O que acontece depois do nascimento
depende de vocês. Sempre há opções. Sempre há pessoas dispostas a ajudar.
Termino com um tributo à minha
formidável esposa e às mulheres incríveis que ela foi encontrando desde o
momento em que compartilhou esse episódio da nossa vida. Verdadeiras heroínas.
Ler as histórias delas, cheias de inspiração, de determinação e de coragem, me
deixa sempre sem palavras.
Eu tenho que mexer a cabeça toda vez que
vejo alguém afirmar que nem todas as mulheres são fortes o suficiente para
manter a gravidez em circunstâncias dessas ou depois de um trauma desses. Não
estou de acordo. Eu vi a minha mulher dar à luz cinco vezes. Eu vi a minha
mulher se manter serena e firme em situações que fariam tremer muitos homens de
aço. A fortaleza de uma mulher não deveria nunca ser subestimada.
Eu sei que eu não fiquei grávido
depois do estupro, mas a minha mulher sim. A minha vida também mudou naquele
dia para sempre. Não me digam que a minha opinião não conta. Não me digam que
eu não posso ter voz na defesa da vida no ventre materno. E, por favor, não me
digam que eu não tenho a menor ideia do que uma mulher tem que enfrentar numa
situação terrível como esta.
Eu tenho. E eu sei o que se sente.
ALETEIA
Fonte: Chico de Minas Xavier
Nenhum comentário:
Postar um comentário