Para melhor
se compreender as relações conflitivas entre pais e filhos, deve-se levar em
conta, também, a pluralidade das existências. Vivemos atualmente uma educação
libertadora, onde muitos pais usam o diálogo amoroso e negociam com seus
filhos, comportamentos éticos mínimos necessários para viverem em sociedade
como cidadãos íntegros e conscientes da finalidade da vida.
No entanto,
muitos se confundem, sendo partidários da liberdade absoluta, chegando ao
anarquismo, deixando aos filhos a decisão e consecução dos seus mais estranhos
desejos, favorecendo a geração de conflitos inimagináveis entre eles, tais como
o parricídio e filicídio. É lamentável que tal aconteça entre almas que saíram
do torvelinho da escuridão espiritual pelo retorno à matéria, com a promessa de
se perdoarem e iniciarem a jornada ascensional em direção à luz.
Foi o
Codificador quem melhor esclareceu, do ponto de vista da reencarnação, as
causas anteriores dos conflitos familiares. Escreveu ele: “Quantos pais são
infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram as más tendências desde o
princípio! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem
os germens do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a secura do
coração; depois, mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se
afligem da falta de respeito e a sua ingratidão.”
Permita-me o
leitor relembrar que tendência é uma energia que incita alguém a seguir um
determinado caminho ou agir de certa forma. É uma predisposição natural,
inclinação, vocação. Pode ser boa ou má. Não é instinto, pois não se origina de
uma necessidade biológica, não devendo ser com ela confundido. O Espiritismo
define a tendência como uma força espiritual que adormece no Inconsciente
Profundo de todos nós e que se debate para despertar no Consciente e se
manifestar nos atos, palavras, sentimentos e pensamentos.
São elas
manifestações do Espírito velho reencarnado, que as crianças já demonstram a
partir dos primeiros meses de vida material, as quais devem ser levadas em alta
conta pelos pais. Lembra André Luiz: “Se o Espírito reencarnado estima as
tendências inferiores, desenvolvê-las-á, ao reencontrá-las dentro do novo
quadro da experiência humana, perdendo um tempo precioso e menosprezando o
sublime ensejo de elevação” . Daí a necessidade de levar em consideração o
poder da influência do meio e dos exemplos dados pelos pais aos seus filhos.
Nem sempre
os pais admitem a manifestação das inclinações inferiores em seus filhos, já
que alimentam a ideia de que são inocentes e que tudo não passa de
infantilidade, sem observar que nem todas as crianças sentem prazer em destruir
brinquedos e outros objetos, maltratar animais domésticos, agredir colegas da
creche e da escola de forma sistemática.
Crianças que
chutam, xingam e gritam violentamente, não respeitando os pais nem aqueles que
são responsáveis por elas, merecem atenção especial, para se buscar as razões
de tais procedimentos, que não são unicamente do estado de infância. Joanna de
Ângelis ensina que “Essas inclinações más ou tendências para atitudes
primitivas, rebeldes, perturbadoras do equilíbrio emocional e moral, são
heranças e atavismo insculpidos no Self, em razão da larga trajetória
evolutiva, em cujo curso experienciou o primarismo das formas ancestrais [...]
.
Sem dúvida,
não é somente a mãe a responsável pela formação moral do filho. O pai também
responde pelas suas negligências ou fracasso da missão que recebeu para
cooperar com a esposa nesse mister. No entanto é universalmente comprovada a
força influenciadora da mãe sobre seus filhos, que lhes exerce um efeito
psíquico alimentador. E é por essa razão que o Mentor Emmanuel ensina que “A
mãe terrestre deve compreender, antes de tudo, que seus filhos, primeiramente,
são filhos de Deus. Desde a infância, deve prepará-los para o trabalho e para a
luta que os esperam. Desde os primeiros anos, deve ensinar a criança a fugir do
abismo da liberdade, controlando-lhe as atitudes e concertando-lhe as posições
mentais, pois que essa é a ocasião mais propícia à edificação das bases de uma
vida.”
Quando o
Codificador perguntou aos Espíritos (LE - questão 890) se o amor materno era
uma virtude ou um sentimento instintivo, comum aos homens e aos animais, eles
responderam que seria “uma e outra coisa”. Seria virtude, que não é uma graça
obtida, mas um hábito adquirido; e seria instinto, que no animal se limita a
prover as necessidades primárias das crias. Sabendo o professor Rivail que nem
todas as mães possuem esse sentimento tão nobre de que falam as entidades do
Além-túmulo, redarguiu: - “como é que há mães que odeiam os filhos e, não raro,
desde a infância destes?” E a resposta foi a de que, em muitos casos, pode ser
uma prova ou expiação que o filho escolheu para enfrentar uma mãe má. Fica,
portanto, implícito que o Espírito ao reencarnar na condição de mãe nem sempre
terá o amor pelo futuro filho. (LE - questão 891)
Não obstante
encontrarmos valiosos esclarecimentos para as relações conflitivas entre pais e
filhos; na verdade da reencarnação e na Lei de causa e efeito, não devemos ser
reducionistas na apreciação dessa modalidade de conflito. “Sem dúvida, muitos
pais,
despreparados
para o ministério que defrontam em relação à prole, cometem erros graves, que
influem consideravelmente no comportamento dos filhos, que, a seu turno, logo
podem se rebelar contra estes, crucificando-os nas traves ásperas da
ingratidão, da rebeldia e da agressividade contínua, culminando, não raro, em
cenas de pugilato e vergonha.”
Em verdade,
quase todos nascemos despreparados para sermos pais, amar e educar os filhos na
forma ideal, conforme os estudiosos do assunto e os Espíritos Superiores.
Diante disso, teremos que buscar ajuda nas ciências que tratam do
relacionamento interpessoal, com enfoque na família. Não há dúvida que as
técnicas psicológicas e a metodologia da educação favorecem profundamente o
êxito desse empreendimento. O diálogo aberto e sincero, a solidariedade, a
indulgência, a energia moral e o amor dilatado em todos os sentidos são
instrumentos de que os pais podem adotar para merecerem o respeito e a
confiança dos filhos. Imprescindível acompanhar o desenvolvimento
bio-psico-social deles, na tentativa de compreender-lhes o comportamento,
levando em conta a idade, capacidade intelectual, estágio espiritual e o
contexto social em que estão inseridos.
Aos pais
lhes é dada pelo Criador a árdua e compensadora missão de conduzir os filhos,
preparando o adolescente e o homem do futuro; moldando-os com cinzel das
admoestações amorosas; alimentando suas mentes com as conversações
dignificantes; oferecendo-lhes exemplos de caráter saudável, carinho e amizade.
Esses
procedimentos promovem a desintegração dos quistos conflitantes na família, com
etiologia em vidas pregressas, evitando que novos desajustes se iniciem na vida
atual. A família de cada um de nós é estruturada com base na lei da causa e
efeito; pais e filhos se reencontram porque necessitam uns dos outros,
almejando a reconciliação. Vital é que a tolerância, a indulgência e o perdão
se façam presentes nos momentos difíceis, para que o recomeço, bênção divina,
se transforme em ventura espiritual.
Fonte:
Waldehir Bezerra de Almeida
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