
Atanagildo: - De fato é assim, visto que a força mental
acumulada inteligentemente é que promove o êxito na volição. Como poderá se
transportar a longas distâncias, por meio da força de vontade, criadora do
poder mental, aquele que na matéria ainda não possuía força de vontade
suficiente nem para abandonar pequenos vícios?
Pergunta: - Então, só os espíritos superiores é que
conseguem volitar?
Atanagildo: - Como disse, a volição é conquista dos que
desenvolvem o seu poder mental; assim, é óbvio que, quem o possuir, mesmo
quando desviado do Bem, pode volitar depois de desencarnado. No entanto, uma
coisa é poder volitar e outra coisa ter permissão para volitar, pois aqueles
que se aviltam no mundo, embora possuam força mental desenvolvida e
inteligência bastante, terão que se situar em zonas densas e de baixas
condições vibratórias. Em consequência, mesmo que sejam capazes de volitar, a
Lei os conservará presos ao solo ou, então, mal poderão ensaiar alguns
arremedos de voo a distância, porque as suas condições vibratórias não
permitirão que passem daí. Não podeis comparar os voos curtos das aves
domésticas, presas ao solo, com o vôo incomparável dos pássaros que cortam o
espaço!
Pergunta: - Podeis nos dar uma ideia mais clara de como se
processa o fenômeno da volição?
Atanagildo: - A volição se baseia principalmente na ação dinâmica
da vontade atuando sobre a energia mental, que então serve de sustentação para
que o perispírito possa se conduzir através do Espaço. Servindo-me de minha
vontade coesa e disciplinada, que me permite governar a mente para conservar-me
em vôo seguro, posso alcançar os objetivos e pontos desejados, como se fora
possuído da leveza do pássaro a voar sob um céu de arminho irisado. É certo que
o faço na conformidade do meu tipo espiritual e, por isso, não posso me afastar
do círculo traçado pelas minhas condições vibratórias siderais.
Pergunta: - Não podemos deixar de nos emocionar ante a
constatação dessa possibilidade de o espírito voar liberto das peias do solo
físico!
Atanagildo: - Sei que isso vos entusiasma; noto-vos a
sensação eufórica e a respiração excitada, ante este quadro atrativo que vos
apresento. Como ser-vos-á delicioso volitar no Espaço, após a vossa
desencarnação, livres das preocupações com duplicatas, dentistas, armazéns,
aluguel de casa ou impostos! Que júbilo ouvir a música das esferas, sentir o
perfume embriagador das flores paradisíacas e apreciar a policromia de
paisagens encantadoras!São revelações que vos arrebatam a estados celestiais,
de repouso e contemplatividade; sonhos que realmente vivem no subjetivismo de
vossa memória etérica e repontam emotivamente, embora ainda permaneçais
reclusos na carne terrena! O espírito encarnado é um viajante que deixou a sua
pátria celestial e, mesmo quando ignora essa circunstância, costuma rever
fugazmente alguns fragmentos do panorama sublime que o aguarda no futuro, assim
como conserva no íntimo a recordação do seu verdadeiro lar celestial.
E essas recordações se avivam quando alguém vos associa
mentalmente às paisagens cerúleas dos planos superiores, como agora acontece
convosco. O que importa, porém, não é conhecerdes a natureza dos cenários
edênicos, com suas sublimidades, mas tudo fazerdes para habitá-los, o que só se
consegue através de uma vida digna e liberta das paixões tumultuosas, que
intoxicam o perispírito e o impedem de desferir seu alto voo ardentemente
sonhado. Que vale sonhar com os ciprestes do Líbano, os lagos da Itália ou a
majestade dos Andes, se nada fazemos para conhecê-los pessoalmente?
Pergunta: - O desenvolvimento da vontade, para o êxito da
volição, no Espaço, deve começar quando ainda estamos encarnados?
Atanagildo: - As sequências naturais e milenárias da vida-
humana, no plano físico, sempre terminam desatando na alma as energias mentais
adormecidas pela ociosidade espiritual. A existência planetária é uma perfeita
e incessante "iniciação", em que o discípulo é submetido a uma
multiplicidade de provas e práticas que o experimentam e melhoram a sua
graduação. Entretanto, se a alma for preguiçosa, carecerá de milhões de anos
para chegar a um estado de perfeição que lhe permita gozar da união com Deus.
Existem seres (por exemplo, os iogas) que, pela auto realização, abreviam de
alguns séculos certas experimentações que lhes exigiriam longo tempo sob a
letargia passiva da Lei do Carma.
Eles dinamizam a sua vontade, purificam o coração e
extinguem a atribulação pela vida ilusória da matéria, até conseguirem
ingressar na "corrente cósmica", que então os aproveita como novos
condutores de almas e prepostos criadores no seio da vida sideral.
É óbvio, pois, que, se a vontade for desenvolvida por meio
de algum salutar treinamento disciplinado, que desperte as forças internas e
vos permita melhor domínio sobre o meio ilusório, a volição, no
Além, ser-vos-á uma conquista indescritível pelos vocábulos
humanos. No entanto, assim como o balão não ascensiona se estiver preso pelas
amarras ao solo, também não podereis lograr êxito, de início, na volição, se
partirdes do mundo terreno algemados às forças tirânicas das paixões e das
sensações inferiores.
Ana Maria Teodoro Massuci
Fonte - A Sobrevivência do Espírito, psicografia Hercílio
Maes, espírito Ramatís e Atanagildo