
Segundo o
modo de ver terreno, a máxima: Buscai e achareis, é semelhante a esta outra:
Ajuda-te e o céu te ajudará. É o princípio da lei do trabalho, e por
conseguinte, da lei do progresso. Porque o progresso é o produto do trabalho,
desde que é este que põe em ação as forças da inteligência.
Na infância
da Humanidade, o homem só aplica a sua inteligência na procura de alimentos,
dos meios de se preservar das intempéries e de se defender dos inimigos. Mas
Deus lhe deu, a mais do que ao animal, o desejo constante de melhorar, ou seja,
essa aspiração do melhor, que o impele à pesquisa dos meios de melhorar a sua
situação, levando-o às descobertas, às invenções, ao aperfeiçoamento da
ciência, pois é a ciência que lhe proporciona o que lhe falta. Graças às suas
pesquisas, sua inteligência se desenvolve, sua moral se depura. Às necessidades
do corpo sucedem as necessidades do espírito: após o alimento material, ele
necessita do alimento espiritual. É assim que o homem passa da selvageria à
civilização.
Mas o
progresso que cada homem realiza individualmente, durante a vida terrena, é
coisa insignificante, e num grande número deles, até mesmo imperceptível. Como,
então, a Humanidade poderia progredir, sem a preexistência e a reexistência da
alma? Se as almas deixassem a Terra todos os dias, para não mais voltar, a
Humanidade se renovaria sem cessar com as entidades primitivas, que teriam tudo
a fazer e tudo a aprender. Não haveria razão, portanto, para que o homem de
hoje fosse mais adiantado que o dos primeiros tempos do mundo, pois que, para
cada nascimento, o trabalho intelectual teria de recomeçar. A alma voltando, ao
contrário, com o seu progresso já realizado, e adquirindo de cada vez alguma
experiência a mais, vai assim passando gradualmente da barbárie à civilização
material, e desta à civilização moral. (Ver cap. IV, nº 17).
Se Deus
tivesse liberado o homem do trabalho físico, seus membros seriam atrofiados; se
o livrasse do trabalho intelectual, seu espírito permaneceria na infância, nas
condições instintivas do animal. Eis porque ele fez do trabalho uma
necessidade, e lhe disse: Busca e acharás; trabalha e produzirás; e dessa
maneira serás filho das tuas obras, terás o mérito da sua realização, e serás
recompensado segundo o que tiveres feito.
É em virtude
da aplicação desse princípio que os Espíritos não vêm poupar ao homem o seu
trabalho de pesquisar, trazendo-lhe descobertas e invenções já feitas e prontas
para a utilização, de maneira a só ter que tomá-las nas mãos, sem sequer o
incômodo de um pequeno esforço, nem mesmo de pensar. Se assim fosse, o mais
preguiçoso poderia enriquecer-se, e o mais ignorante tornar-se sábio, ambos sem
nenhum esforço, e atribuindo-se o mérito do que não haviam feito. Não, os
Espíritos não vêm livrar o homem da lei do trabalho, mas mostrar-lhe o alvo que
deve atingir e a rota que leva a ele,
dizendo: Marcha e o atingirás! Encontrarás pedras nos teus passos; mantém-te
vigilante, e afasta-as por ti mesmo! Nós te daremos a força necessária, se
quiseres empregá-la. (Ver Livro dos Médiuns, cap. XXVI, nº 291 e segs.).
Segundo a
compreensão moral, essas palavras de Jesus significam o seguinte: Pedi à luz
que deve clarear o vosso caminho, e ela vos será dada; pedi a força de resistir
ao mal, e a tereis; pedi a assistência dos Bons Espíritos, e eles virão
ajudar-vos, e como o anjo de Tobias, vos servirão de guias; pedi bons
conselhos, e jamais vos serão recusados; batei à nossa porta, e ela vos será
aberta; mas pedi sinceramente, com fé, fervor e confiança; apresentai-vos com
humildade e não com arrogância, sem o que sereis abandonados às vossas próprias
forças, e as próprias quedas que sofrerdes constituirão a punição do vosso
orgulho.
É esse o
sentindo dessas palavras do Cristo: Buscai e achareis, batei e abrir-se-
vos-á
O EVANGELHO
SEGUNDO O ESPIRITISMO.