Os maus
Espíritos pululam ao redor da Terra, como consequência da inferioridade moral
de seus habitantes. Sua ação malfazeja faz parte dos flagelos com os quais a
humanidade se vê a braços aqui embaixo. A obsessão, que é um dos efeitos dessa
ação, como as moléstias e todas as tribulações da vida, devem, pois, ser consideradas
como uma prova ou uma expiação, e aceitas como tais.
A obsessão é
a ação persistente que um mau Espírito exerce sobre um indivíduo. Apresenta
caracteres muito diferentes, desde a simples influência moral sem sinais
exteriores sensíveis, até à perturbação completa do organismo e das faculdades
mentais. Oblitera todas as faculdades mediúnicas; na mediunidade auditiva e
psicográfica, ela se traduz pela obstinação de um Espírito a se manifestar com
exclusão de todos os outros.
Assim como
as moléstias são o resultado das imperfeições físicas que tornam o corpo
acessível às influências perniciosas exteriores, a obsessão é sempre a
decorrência de uma imperfeição moral, que dá entrada a um mau Espírito. A uma
causa física, opõe-se uma causa física; a uma causa moral, será preciso
contrapor uma causa moral. Para se preservar das moléstias, fortifica-se o
corpo; para garantir-se contra a obsessão, será preciso fortificar a alma; daí
resulta, para o obsedado, a necessidade de trabalhar para sua própria melhoria,
o que geralmente basta, na maior parte dos casos, para o desembaraçar do
obsessor, sem o auxílio de pessoas estranhas. Tal socorro torna-se necessário
quando a obsessão degenera em subjugação e em possessão, pois então o paciente
perde por vezes a sua vontade e o seu livre-arbítrio.
A obsessão é
quase sempre o fato de uma vingança exercida por um Espírito, e que mais
frequentemente tem sua origem nas relações que o obsedado teve com ele, em uma
existência precedente.
No caso de
obsessão grave, o obsedado está como que envolvido e impregnado de um fluido
pernicioso que neutraliza a ação dos fluidos salutares, e os repele. É do
fluido que será preciso desembaraçar-se; ora, um mau fluido não pode ser
repelido por um mau. Por uma ação idêntica à do médium curador no caso de
moléstia, será preciso expulsar o fluido mau com o auxílio de um fluido melhor.
Esta é a
ação mecânica, porém que nem sempre basta; será preciso, também, e acima de
tudo, agir sobre o ser inteligente ao qual é preciso ter o direito de falar com
autoridade, e esta autoridade não é dada senão à superioridade moral; quanto
maior é esta, maior a autoridade.
Mas nem tudo
se resume nisso: para assegurar o livramento, será necessário levar o Espírito
perverso a renunciar a seus maus desígnios; é preciso fazer nascer nele o
arrependimento e o desejo do bem, com o auxílio de instruções habilmente
dirigidas, em evocações particulares feitas com a finalidade de sua educação
moral; então pode-se ter a doce satisfação de livrar um encarnado e de converter
um Espírito imperfeito.
A tarefa se
torna mais fácil quando o obsedado, compreendendo a situação, traz seu auxílio
de vontade e de oração; não é assim quando o doente, subjugado pelo Espírito
enganador, se ilude a respeito das qualidades de seu dominador, e se compraz no
erro em que este o mergulhou; pois, então, longe de auxiliar, ele repele toda
assistência. É o caso da fascinação, sempre infinitamente mais rebelde que a
subjugação mais violenta. (O Livro dos Médiuns, cap. XXIII).
Em todos os
casos de obsessão, a oração é o mais poderoso auxiliar para agir contra o
Espírito obsessor.
Na obsessão,
o Espírito atua exteriormente por meio de seu perispírito, que ele identifica
com o do encarnado; este último se encontra então enlaçado como numa teia e
constrangido a agir contra sua vontade.
Na
possessão, em lugar de agir exteriormente, o Espírito livre se substitui, por
assim dizer, ao Espírito encarnado; faz domicílio em seu corpo, sem que todavia
este o deixe definitivamente, o que só pode ter lugar na morte. A possessão é
assim sempre temporária e intermitente, pois um Espírito desencarnado não pode
tomar definitivamente o lugar de um encarnado, dado que a união molecular do
perispírito e do corpo não pode se operar senão no momento da concepção (Cap.
XI, nº 18).
O Espírito,
em possessão momentânea do corpo, dele se serve como o faria com o seu próprio;
fala por sua boca, enxerga pelos seus olhos, age com seus braços, como o teria
feito se fosse vivo. Já não é mais como na mediunidade falante, na qual o Espírito
encarnado fala transmitindo o pensamento de um Espírito desencarnado; é este
último, mesmo, que fala e que se agita, e se o conhecemos quando vivo,
reconheceríamos sua linguagem, sua voz, seus gestos e até a expressão de sua
fisionomia.
A obsessão é
sempre o resultado da ação de um Espírito malfeitor. A possessão pode ser o
feito de um bom Espírito que quer falar e, para fazer mais impressão sobre seus
ouvintes, toma emprestado o corpo de um encarnado, que este lhe cede
voluntariamente tal como se empresta uma roupa. Isso se faz sem nenhuma
perturbação ou incômodo, e durante esse tempo o Espírito se encontra em
liberdade como no estado de emancipação, e com mais frequência se conserva ao
lado de seu substituto para o ouvir.
Quando o
Espírito possessor é mau, as coisas se passam por outro modo; ele não toma
emprestado o corpo; ele se apodera dele, se o titular não tem força moral para
resisti-lo. Ele o faz por maldade dirigida contra o possesso, a quem tortura e
martiriza por todas as maneiras até pretender fazê-lo perecer, seja por
estrangulamento, seja empurrando-o ao fogo ou outros lugares perigosos.
Servindo-se dos membros e dos órgãos do infeliz paciente, ele blasfema, injuria
e maltrata os que o rodeiam; entrega-se a excentricidades e atos que têm todos
os caracteres da loucura furiosa.
Os fatos
desse gênero, em diversos graus de intensidade, são muito numerosos, e muitos
casos de loucura não têm outra causa senão essa. Muitas vezes, dão-se ao mesmo
tempo desordens patológicas, as quais não são senão consequências, e contra as
quais os tratamentos médicos são impotentes, enquanto subsistir a causa
inicial. O Espiritismo, fazendo conhecer esta fonte de uma parte das misérias
humanas, indica o meio de as remediar: este meio é agir sobre o autor do mal, que,
sendo um ser inteligente, deve ser tratado pela inteligência. (1)
A obsessão e
a possessão são mais frequentemente individuais, mas por vezes são epidêmicas.
Quando uma nuvem de maus Espíritos se abate sobre uma localidade, é como quando
uma tropa de inimigos vem invadi-la. Neste caso, o número de indivíduos
atingidos pode ser considerável.
A GÊNESE de
ALLANKARDEC