Você
certamente já ouviu falar nas aparições de Nossa Senhora – ou Maria, a mãe de
Jesus. Aqui vai a minha opinião a respeito do assunto. Assista o vídeo ou, se
preferir, leia o artigo logo abaixo.
Uma das
dificuldades que um espírita tem quando estuda a Bíblia (na verdade o Novo
Testamento) é explicar o que é o espírito santo. Nos meus estudos sobre o
Evangelho de Lucas e o Evangelho de João, no Youtube, eu demonstrei que na
maior parte das vezes a melhor tradução é um espírito santo, e não o espírito
santo. Não vou discutir isso agora.
Nós não
sabemos exatamente qual era a visão que os evangelistas tinham do espírito
santo, o que eles queriam dizer com espírito santo. Muitas vezes parece se
referir a um espírito, como nós entendemos hoje, mas nem sempre.
A verdade é
que eles não tinham o conhecimento que nós temos hoje. Os seus conceitos não
eram bem estabelecidos, não eram bem definidos.
A Igreja
resolveu esse problema inventando a santíssima trindade: pai, filho e espírito
santo.
Mas o que
passa despercebido por quase todo mundo é que até nisso o machismo imperou. O
machismo vigente tanto entre os israelitas no tempo de Jesus quanto entre os
primeiros cristãos – e mantido até hoje – não deixou espaço para a mulher.
Tem o pai,
tem o filho, e tem o espírito santo. Mas cadê a mãe? Não tem mãe na divindade.
A divindade é masculina, a ideia de Deus que nos foi passada é masculina. Até
hoje, quase todos nós, que tivemos uma orientação religiosa tradicional na primeira
infância, inconscientemente formamos uma ideia antropomórfica de Deus,
imaginamos um velho barbudo com cara de brabo.
Os
israelitas viviam um regime patriarcal onde a mulher não tinha vez. Jesus
tentou mudar isso. Jesus tratou a mulher como igual, mas os seus discípulos não
souberam manter isso. Logo depois da morte de Jesus já houve disputa entre os
discípulos homens e Maria Madalena, que era muito próxima de Jesus. A prova de
que Maria Madalena era especial para Jesus é que mesmo nos quatro Evangelhos
aceitos tradicionalmente a primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado é Maria
Madalena.
Mas os
homens na época não podiam aceitar isso. O apóstolo Paulo chega a proibir a
mulher de falar na Igreja, porque era uma vergonha uma mulher falar em público
– se ela quisesse perguntar alguma coisa devia ficar quieta na Igreja e esperar
chegar em casa para perguntar para o seu marido.
Mais tarde,
quando a Igreja foi adotada por Roma, muitas antigas religiões pagãs foram
absorvidas pelo Cristianismo. Os povos pagãos foram sendo cristianizados, só
que eles tinham vários deuses e deusas, havia a crença na deusa mãe, na mãe
divina. O jeito de resolver essa questão foi dar um papel de destaque para a
mãe de Jesus.
Então
criaram uma figura feminina próxima de Deus – já que Jesus para eles também é
Deus. Mas nós não vemos esse protagonismo de Maria nos Evangelhos. Dizem que
Maria intercede por nós junto ao seu filho Jesus. Mas não há nada disso no
Evangelho. Maria aparece pouco no Evangelho e não é muito lisonjeada por Jesus.
Nada contra
a devoção a Maria – a figura de Maria se tornou um importante arquétipo, essa
figura resume em si importantes qualidades femininas, maternais. Quando uma
pessoa ora fervorosamente a Maria essa pessoa está sintonizando com essas
qualidades maternais, protetoras, que ela atribui a Maria.
A oração é,
antes de mais nada, uma concentração do pensamento.
Como orar e
ser atendido
Se
concentramos o nosso pensamento em Jesus, nós vamos sintonizar com as forças
que nós atribuímos a Jesus – por que cada um de nós vê Jesus de forma
ligeiramente diferente. Quanto mais alto for o nosso pensamento, quanto mais
elevado, quanto mais grandiosas forem as qualidades que nós atribuímos a um ser
(a Maria, por exemplo) mais nós nos elevamos – e nós colhemos das forças com
que nós sintonizamos.
Existem
muitos casos de aparições de Maria. Em várias partes do mundo. Em várias
épocas. Existem livros e escritos sobre isso, estudos foram feitos sobre isso.
Um dos casos
mais famosos da atualidade, aqui no Brasil, é o do advogado carioca Pedro
Siqueira, uma pessoa que transpira credibilidade. Ele afirma ver e se comunicar
com Maria desde que nasceu. Se analisamos os relatos dele, encontramos todas as
evidências de um fenômeno mediúnico. Particularmente não tenho a menor dúvida
em relação a isso.
É a própria
Maria mãe de Jesus que se comunica com ele? Particularmente, eu tenho convicção
que não.
Por que? Por
que ele não é o único a afirmar que se comunica com Maria. Tem outros no
Brasil, e se pesquisarmos, deve haver centenas de pessoas no mundo, atualmente,
que afirmam a mesma coisa. Maria é um espírito assim como nós, é uma
individualidade. Um espírito não pode se apresentar em mais de um lugar ao
mesmo tempo – e por mais dinâmico que seja um espírito, ele não terá condições de
se apresentar pessoalmente a tantas pessoas pelo mundo todo praticamente a toda
hora – somando todos os relatos, ela apareceria praticamente a toda hora.
Uma coisa
que eu não entendia na adolescência é como uma determinada entidade – se vê
muito isso na Umbanda – como um preto velho que se apresenta como Pai José, por
exemplo, pode se apresentar em vários centros de Umbanda ao mesmo tempo. Eu
pensava que podia ter alguma fraude ali.
Mais tarde
eu fui entender que os pretos velhos – só pra ficarmos nesse exemplo – são
ordens de trabalho. Existem algumas centenas ou milhares de espíritos que
atendem pelo nome de preto velho Pai José. São espíritos humildes, uns bastante
sábios, outros apenas bem intencionados, se esforçando para ajudar – espíritos
que trabalham em nome de uma causa, abnegadamente, anonimamente, não se
apresentam com o nome que usaram em alguma existência física.
Acontece
algo semelhante no caso de Maria. Possivelmente o próprio espírito que foi
Maria comande uma força de trabalho com o objetivo de ajudar os espíritos
encarnados e os desencarnados no seu processo de espiritualização. Mas isso não
quer dizer que seja ela mesma a se comunicar.
Temos que
compreender que as nossas crenças são limitadoras. No próprio meio espírita nós
temos uma série de crenças limitadoras.
E no caso de
quem é católico, que não conhece o Espiritismo, não conhece ou não acredita em
mediunidade – se um espírito se apresenta para ele, ele vai achar ou que está
louco ou que é o demônio. Por que ele não acredita na comunicação com os
espíritos. Quem pode se comunicar são os santos, a virgem Maria e os demônios.
O que eles não percebem é que mesmo isso são fenômenos mediúnicos.
Se um
espírita tem uma tarefa a realizar o seu mentor ou o seu guia se comunica com
ele . No caso de um católico esse espírito vai ter que assumir uma
personalidade conhecida, vai ter que congregar uma ordem de trabalho e se
apresentar, como é o caso que estamos tratando, como a virgem Maria.
É comum
casos de pessoas que têm uma experiência mística, ou uma experiência de
desdobramento, ou quando se aproxima o momento do desencarne, e que dizem ter
visto Jesus ou a virgem Maria. Elas estão vendo um espírito amigo, talvez o
mentor do seu grupo familiar – mas o próprio mentor se apresenta daquela forma
para ser aceito, para tranquilizar a pessoa.
O trabalho é
o mesmo. O trabalho exercido pelos espíritos é o mesmo. Quem faz essas
distinções somos nós, que vivemos muito iludidos neste mundo de aparências e
rótulos.
Morel Felipe
Wilkon