"Sobre a Terra, tudo é ilusão, tudo passa, tudo se
transforma de um instante para outro. O
que conta é o que guardamos
dentro de nós, tudo mais há de ficar com
o corpo, que se desfará em pó.“ Chico Xavier
“Devemos aceitar a chegada da chamada morte, assim como o
dia aceita a chegada da noite – tendo confiança que, em breve, de novo há de
raiar o Sol !... “
"A morte é uma simples mudança de estado, a destruição
de uma forma frágil que já não proporciona à vida as condições necessárias ao
seu funcionamento e à sua evolução. Para além da campa, abre-se uma nova fase
de existência. O Espírito, debaixo da sua forma fluídica, imponderável,
prepara-se para novas reencarnações; acha no seu estado mental os frutos da
existência que findou.
Por toda parte se encontra a vida. A Natureza inteira
mostra-nos, no seu maravilhoso panorama, a renovação perpétua de todas as
coisas. Em parte alguma há a morte, como, em geral, é considerada entre nós; em
parte alguma há o aniquilamento; nenhum ente pode perecer no seu princípio de
vida, na sua unidade consciente. O Universo transborda de vida física e
psíquica. Por toda parte o imenso formigar dos seres, a elaboração de almas
que, quando escapam às demoradas e obscuras preparações da matéria, é para
prosseguirem, nas etapas da luz, a sua ascensão magnífica.
A vida do homem é como o Sol das regiões polares durante o
estio. Desce devagar, baixa, vai enfraquecendo, parece desaparecer um instante
por baixo do horizonte. É o fim, na aparência; mas, logo depois, torna a
elevar-se, para novamente descrever a sua órbita imensa no céu.
A morte é apenas um eclipse momentâneo na grande revolução
das nossas existências; mas, basta esse instante para revelar-nos o sentido
grave e profundo da vida. A própria morte pode ter também a sua nobreza, a sua
grandeza. Não devemos temê-la, mas, antes, nos esforçar por embelezá-la,
preparando-se cada um constantemente para ela, pela pesquisa e conquista da
beleza moral, a beleza do Espírito que molda o corpo e o orna com um reflexo
augusto na hora das separações supremas. A maneira por que cada qual sabe
morrer é já, por si mesma, uma indicação do que para cada um de nós será a vida
do Espaço.
Há como uma luz fria e pura em redor da almofada de certos
leitos de morte. Rostos, até aí insignificantes, parecem aureolados por
claridades do Além. Um silêncio imponente faz-se em volta daqueles que deixaram
a Terra. Os vivos, testemunhas da morte, sentem grandes e austeros pensamentos
desprenderem-se do fundo banal das suas impressões habituais, dando alguma
beleza à sua vida interior. O ódio e as más paixões não resistem a esse
espetáculo. Ante o corpo de um inimigo, abranda toda a animosidade, esvai-se
todo o desejo de vingança. Junto de um esquife, o perdão parece mais fácil,
mais imperioso o dever.
Toda morte é um parto, um renascimento; é a manifestação de
uma vida até aí latente em nós, vida invisível da Terra, que vai reunir-se à
vida invisível do Espaço. Depois de certo tempo de perturbação, tornamos a
encontrar-nos, além do túmulo, na plenitude das nossas faculdades e da nossa
consciência, junto dos seres amados que compartilharam as horas tristes ou
alegres da nossa existência terrestre. A tumba apenas encerra pó. Elevemos mais
alto os nossos pensamentos e as nossas recordações, se quisermos achar de novo
o rastro das almas que nos foram caras.
Não peçais às pedras do sepulcro o segredo da vida. Os ossos
e as cinzas que lá jazem nada são, ficai sabendo. As almas que os animaram
deixaram esses lugares, revivem em formas mais sutis, mais apuradas. Do seio do
invisível, onde lhes chegam as vossas orações e as comovem, elas vos seguem com
a vista, vos respondem e vos sorriem. A Revelação Espírita ensinar-vos-á a
comunicar com elas, a unir os vossos sentimentos num mesmo amor, numa esperança
inefável.
Muitas vezes, os seres que chorais e que ides procurar no
cemitério estão ao vosso lado. Vêm velar por vós aqueles que foram o amparo da
vossa juventude, que vos embalaram nos braços, os amigos, companheiros das
vossas alegrias e das vossas dores, bem como todas as formas, todos os meigos
fantasmas dos seres que encontrastes no vosso caminho, os quais participaram da
vossa existência e levaram consigo alguma coisa de vós mesmos, da vossa alma e
do vosso coração. Ao redor de vós flutua a multidão dos homens que se sumiram
na morte, multidão confusa, que revive, vos chama e mostra o caminho que tendes
de percorrer.
Ó morte, ó serena majestade! Tu, de quem fazem um
espantalho, és para o pensador simplesmente um momento de descanso, a transição
entre dois atos do destino, dos quais um acaba e o outro se prepara. Quando a
minha pobre alma, errante há tantos séculos através dos mundos, depois de
muitas lutas, vicissitudes e decepções, depois de muitas ilusões desfeitas e
esperanças adiadas, for repousar de novo no teu seio, será com alegria que
saudará a aurora da vida fluídica; será com ebriedade que se elevará do pó
terrestre, através dos espaços insondáveis, em direção àqueles a quem
estremeceu neste mundo e que a esperam.
Para a maior parte dos homens, a morte continua a ser o
grande mistério, o sombrio problema que ninguém ousa olhar de frente. Para nós,
ela é a hora bendita em que o corpo cansado volve à grande Natureza para deixar
à Psique, sua prisioneira, livre passagem para a Pátria Eterna.
Essa pátria é a Imensidade radiosa, cheia de sóis e de
esferas. Junto deles, como há de parecer raquítica a nossa pobre Terra” O
Infinito envolve-a por todos os lados. O infinito na extensão e o infinito na
duração, eis o que se nos depara, quer se trate da alma, quer se trate do
Universo.
Assim como cada uma das nossas existências tem o seu termo e
há de desaparecer, para dar lugar a outra vida, assim também cada um dos mundos
semeados no Espaço tem de morrer, para dar lugar a outros mundos mais
perfeitos.
Dia virá em que a vida humana se extinguirá no Globo
esfriado. A Terra, vasta necrópole, rolará, soturna, na amplidão silenciosa.
Hão de elevar-se ruínas imponentes nos lugares onde
existiram Roma, Paris, Constantinopla, cadáveres de capitais, últimos vestígios
das raças extintas, livros gigantescos de pedra que nenhum olhar carnal voltará
a ler. Mas, a Humanidade terá desaparecido da Terra somente para prosseguir, em
esferas mais bem dotadas, a carreira de sua ascensão. A vaga do progresso terá
impelido todas as almas terrestres para planetas mais bem preparados para a
vida. É provável que civilizações prodigiosas floresçam a esse tempo em Saturno
e Júpiter; ali se hão de expandir humanidades renascidas numa glória
incomparável. Lá é o lugar futuro dos seres humanos, o seu novo campo de ação,
os sítios abençoados onde lhes será dado continuarem a amar e trabalhar para o
seu aperfeiçoamento.
No meio dos seus trabalhos, a triste lembrança da Terra virá
talvez perseguir ainda esses Espíritos; mas, das alturas atingidas, a memória
das dores sofridas, das provas suportadas, será apenas um estimulante para se
elevarem a maiores alturas.
Em vão a evocação do passado, lhes fará surgir à vista os
espectros de carne, os tristes despojos que jazem nas sepulturas terrestres. A
voz da sabedoria dir-lhes-á: “Que importa as sombras que se foram! Nada perece.
Todo ser se transforma e se esclarece sobre os degraus que conduzem de esfera
em esfera, de sol em sol, até Deus”. Espírito imorredouro, lembra-te disto: “A
morte não existe”.
Léon Denis - O Problema do Ser, do Destino e da Dor
Fonte: Página Espírita