Para se
entender com maior profundidade a origem do amor é necessário contextualizá-lo
dentro da teoria da palingenesia, ou reencarnação. Um amor não nasce de simples
semelhanças de modos de ser e de interesses comuns, ele é o resultado de um
longo processo de dezenas ou mesmo centenas de vidas passadas em que duas almas
conviveram juntas. Nestas experiências conjuntas, ambas foram passando por
circunstâncias juntos, enfrentando desafios, superando obstáculos, atravessando
todas as dificuldades, e envolveram-se em laços afetivos e amorosos um com o
outro, brotando daí uma profunda identificação e um sentimento verdadeiro.
Muitas
pessoas me perguntam como podemos descobrir se alguém que muito amamos fez
parte do nosso passado de outras vidas. A resposta a essa pergunta é bem
simples: se você ama verdadeiramente essa pessoa, e a conhece a pouco tempo,
então vocês já viveram, sem sombra de dúvida, experiências mútuas em vidas
passadas. Isso significa que o amor verdadeiro, aquele que reside numa esfera
muito íntima do nosso ser, não pode ser desperto em apenas uma vida. Os laços
do amor real são tão fortes, que apenas experiências milenares podem despertar
em nós um amor que é quase divino, que nasce do infinito e que se manifesta no ser
humano como a expressão do sentimento mais puro que o homem da face da Terra
pode ter acesso: o amor incondicional.
Em nossos
estudos com terapia de vidas passadas chegamos a conclusão, tal como centenas
de terapeutas ao redor do mundo, que todos os seres se agrupam naquilo que se
convencionou chamar de “família de almas” ou “grupo anímico”. Além de nossa
família consangüínea, que forma indivíduos com laços de sangue comuns, todos os
seres possuem uma família espiritual, que é bem maior do que a nossa família
genética atual. Ela é composta por centenas de espíritos que tiveram milhares
de experiências conosco em vidas passadas; são espíritos que nos conhecem há
milênios, e todo esse arcabouço de experiências coletivas os liga por laços de
amizade, carinho, amor, cooperação, compaixão, e outros. Como tudo na vida tem
dois pólos, as experiências negativas também fazem parte destes laços, sendo
comuns sentimentos de ódio, raiva, antipatias, rejeição, ojeriza, malquerença,
amargor, mágoa, etc. Toda essa mistura de sentimentos, tanto os positivos
quanto os negativos, podem se expressar em nossas relações, e na maioria das
vezes nem desconfiamos que eles vêm de vidas passadas, e não da vida atual.
Dentre nossa
família de almas, há aqueles espíritos que cada um de nós guarda uma afeição
mais profunda. Esses geralmente oscilaram, nos diversos papéis de vidas
passadas, sendo nossos filhos, amigos, marido, esposa, pai, mãe, avô, avó,
irmão ou irmã. A proximidade do parentesco físico não é definitiva para indicar
o grau de afeição entre duas almas. Por exemplo, um filho pode amar mais a avó
do que a própria mãe, pois seus laços espirituais podem ter sido mais estreitos
em diversas vidas passadas. Um pai pode amar mais um filho do que o outro:
embora muitos pais neguem essa diferença afetiva, sabemos que isso existe e é
perfeitamente normal, já que um pai pode ter mais experiências amorosas
pretéritas com um filho do que com o outro.
Algumas
vezes as experiências traumáticas do passado podem abafar um amor entre duas
almas. Por exemplo: uma mãe que matou seu filho numa vida passada, quando eles
eram irmãos que disputavam algo. O filho pode carregar essa recordação
inconsciente dentro de si e expressa-la em forma de rejeições, afastamento,
ojeriza e até uma raiva inconsciente pelo que foi feito. É preciso lembrar
sempre que esses traumas, apesar de terem sido esquecidos entre uma vida e
outra, não apagam os sentimentos, sejam eles positivos ou negativos. A falta de
memória não destrói as emoções que guardamos dos espíritos que fizeram parte do
nosso histórico encarnatório.
Dessa forma,
a família de almas é nossa família espiritual e vale muito mais do que nossa
família física. Um bom exemplo é observar o comportamento afetivo das pessoas.
Algumas podem gostar mais de um amigo do que de um parente próximo, como pai,
mãe ou irmão. Esse amigo, apesar de não fazer parte de sua família
consangüínea, pode ser um membro próximo de nossa família espiritual, e um amor
muito grande pode estar presente na relação de ambos. Assim, a família
espiritual transcende nossa família de sangue e demonstra a existência de laços
muito maiores, mais sutis e imensamente mais antigos do que os laços
consangüíneos.
Cada família
espiritual é parte de uma família ainda maior, que pode nem sequer viver atualmente
no planeta Terra. Há pessoas que sentem internamente, com grande certeza
íntima, de que seus amigos verdadeiros e sua família não são deste planeta.
Esse é o caso de muitas pessoas que foram exiladas de seu planeta de origem e
estão aqui na Terra há algumas vidas tentando transmutar uma parcela do karma
que ainda as prende nos grilhões terrestres. Alguns sentem isso tão forte que
sequer conseguem manter laços afetivos na Terra, tal é o seu grau de apego a
sua família espiritual extraterrestre. Alguns podem imaginar que isso
representa uma evolução e que é uma indicação de superioridade espiritual, mas
não é bem assim. Essa recusa em se viver a realidade atual implica num forte
apego a um estado arcaico de existência, e esse apego pode aprisionar o espírito
muito fortemente dentro de limites muito reduzidos, o que abafa a natureza
essencial daquela alma e pode degradar seus sentimentos, pensamentos e
comportamentos. O apego é um sinal claro de atraso espiritual e deve ser objeto
de um esforço no sentido da libertação do cárcere terrestre. Se estamos vivendo
aqui na Terra, precisamos da Terra para atingir esse desprendimento; de nada
adianta desejar sair daqui para uma condição externa melhor e mais elevada. O
universo é perfeita harmonia e inteligência, e nada ocorre por acaso. Quem está
aqui, precisa das experiências terrestres para seu desenvolvimento espiritual.
Um fenômeno
interessante que pode ocorrer é a inversão de papel. Uma mãe, que teve
experiências afetivas de marido-esposa muito fortes com seu filho atual, pode
sentir desejos inconscientes de experimentar novamente o amor de marido-mulher.
Alguns pais conseguem desapegar-se disso e viver a condição da atual encarnação
dentro da função de pai e filho. Outros, no entanto, cedem a essas tendências e
podem ser levados até mesmo, em última instância, a molestar seus filhos. Todo
pai que sinta essa inversão de papel deve lutar contra essa tendência, esse
apego, pois só assim poderá viver com mais intensidade a relação atual de
pai-filho. Isso ocorre também entre irmãos, que no passado foram marido e
mulher e hoje sentem vontade de ter carinhos mais próximos, que extrapolam a
relação fraterna natural.
Outro
exemplo são marido e mulher atual, que numa outra existência (ou existências)
foram irmãos e acabam depois se tornando amigos, ou têm dificuldades de manter
relações sexuais por conta das lembranças inconscientes de vidas como irmãos.
Há muitos outros exemplos dessa inversão de papel; o mais importante aqui é
entender que o passado não deve interferir em nossas relações atuais da forma
que elas se apresentam hoje: se hoje sou pai da minha filha, devo trata-la como
filha e deixar de lado os sentimentos típicos de marido e mulher que tivemos em
vidas passadas.
Outro
fenômeno que pode ocorrer, esse não muito comum, é quando duas almas muito
próximas, e que se amam muito, se reencontram, querem viver juntas, mas ambas
são do mesmo sexo. Eles podem viver como bons amigos, ou podem desejar, se o
apego for grande, viverem juntas como companheiros. Se forem dois homens, podem
ceder aos desejos sexuais e iniciarem uma relação que vai além da amizade,
passando a viver como amantes; se forem duas mulheres, podem fazer o mesmo e
até casarem. O mais interessante é que, mesmo sem existir um histórico de
homossexualidade, essas almas podem decidir estreitar os laços dentro de um
contexto amoroso e sexual. Já vi casos como esse, e as pessoas envolvidas me
garantiram que nunca tiveram desejos homossexuais, e o que sentiam uma pela
outra só servia para essa pessoa em específico, e para nenhuma outra.
Por exemplo,
uma das meninas gosta de outra menina e quer ficar com ela, mas nunca havia se
relacionado com outras mulheres e garante não sentir qualquer tipo de desejo
sexual por outras mulheres, somente por aquela que se torna sua companheira.
Esse é um caso típico de apego a condição anterior em vidas passadas. Ninguém
pode julgar se isso é correto ou não; a escolha, neste caso, é da própria
pessoa e só a ela compete avaliar a qualidade de suas relações. Repudiamos aqui
o preconceito a homossexualidade e somos favoráveis a liberdade de expressão da
sexualidade. Advertimos, porém, que qualquer excesso nessa área, seja com
heterossexuais ou homossexuais, pode implicar em efeitos graves e num karma
negativo, com severas complicações futuras, na vida atual ou em vidas futuras.
Quando duas
almas que se amam muito estão em planos diferentes, isso pode se tornar um
problema. É o caso de pessoas que nascem no plano físico, e que sonham ou
sentem a presença de espíritos que não estão em corpo físico. Essa pessoa ama o
espírito, e deseja ficar com ele, mas como essa alma não se encontra encarnada,
ela nada pode fazer. É possível encontros em projeção astral, quando dormimos a
noite e nosso corpo espiritual deixa o corpo físico e passa a interagir com
outras dimensões. Nesses momentos, as duas almas podem se encontrar e ficar um
tempo juntas. O encarnado pode ter vários sonhos com o desencarnado, mesmo sem
saber quem ele é e nunca te-lo conhecido na vida atual. Mas intimamente ela
sabe que o conhece, que o ama, e sente vontade de ficar com ele, como mostra
esse exemplo de um breve relato que recebemos:
“Mais uma
noite eu sonhei com aquela moça linda, ela me faz sentir uma forte emoção, uma
saudade, eu a amo, eu acordo chorando, sempre, há anos.”
Os espíritos
de luz que comandam o destino dos seres podem autorizar esta situação para
estimular o desapego entre as duas almas.
O universo
sempre conspira para que uma alma se desenvolva espiritual e passe a amar a
todos, e não apenas uma só pessoa. Embora o amor entre nossa família física e
espiritual seja um exercício do amor incondicional, a maioria dos espíritos que
vivem na Terra ainda estão longe do amor incondicional a todos os seres. Por
esse motivo, a inteligência divina cria circunstâncias que nos façam entender
que o amor vale muito mais quando ele se expande para abraçar todos os seres do
universo, e não apenas pessoas de nossa convivência. O amor universal é a meta
sagrada de todas as almas que aspiram à perfeição. Quando acontece de duas
almas que se amam estarem separadas, uma no plano físico e outra no plano
espiritual, ambas devem exercitar o desapego e procurar outras pessoas para se
relacionar.
Essa
situação também pode ser problemática quando há muitas energias pendentes entre
ambos. Pode acontecer, por exemplo, de o desencarnado desejar ficar junto do
encarnado e começar a boicotar todos os seus relacionamentos. O desejo do
desencarnado é que o encarnado seja só dele, e por conta disso ele poderá agir
no sentido de isolar o encarnado de todos, desejando que fique sozinho. Como o
encarnado sente um amor sincero pelo desencarnado, pode ceder a isso, e aceitar
as sugestões de sempre permanecer sem se relacionar com outros. Quando esse
tipo de assédio ocorre, é bem mais difícil de ser tratado num trabalho
espiritual, pois há uma permissão inconsciente do encarnado diante da obsessão
exercida pelo desencarnado. Neste caso, a melhor forma de agir é conscientizar
o encarnado a se libertar desse apego e viver a vida física naturalmente, sem
ficar esperando que o desencarnado venha a preencher um vazio que ficou das
experiências “perdidas” de vidas passadas, quando ambos viveram juntos.
Outro
fenômeno bastante interessante e inexplicável é o chamado “amor à primeira
vista”. Esse fenômeno só é inexplicável quando não se leva em conta a teoria da
reencarnação. O amor à primeira vista consiste no despertar de um sentimento
tão logo vemos ou estamos na presença de uma pessoa desconhecida que nos
desperta algo portentoso, excelso, superior, quase celeste e divino, e que é
incompreensível. Há uma nítida impressão de que já conhecemos aquela pessoa.
Alguns indivíduos, não muito versados na noção reencarnacionista, afirmam que
não existe o amor à primeira vista, mas sim uma espécie de encantamento, de
fascinação, de deslumbramento pela beleza do outro. Apesar de estes sentimentos
estarem misturados no primeiro momento, não seria apressado dizer que há, de
fato, um amor que pode estar sendo ressuscitado, reaceso, vindo à superfície e
despertando, trazendo à tona um sentimento sublime e transcendente que até
então estava meio apagado dentro de nós.
Esse amor
pode ter sua origem em dezenas ou mesmo centenas de vidas passadas onde estas
duas almas viveram juntas. Pode até mesmo ser anterior aos primeiros nascimentos
terrestres. Esse reencontro faz ressurgir uma emoção, um envolvimento que já
existia dentro da pessoa, mas que ainda estava disperso. O amor à primeira
vista não deve ser confundido com maravilhamento pela beleza física. Ele é uma
profunda identificação com alguém que já conhecemos há milênios e que
reencontramos nesta vida. Esse pode ser o início de uma longa história de amor.
Para se
diferenciar um amor verdadeiro e uma simples paixão é preciso notar se há um
total desprendimento em relação a pessoa que amamos. O amor real é calmo,
sereno, não se deixa influenciar por sentimentos de controle, posse, ciúme, e
outras armadilhas inferiores. O amor verdadeiro deseja que o outro esteja bem,
mesmo que ele não fique conosco. Ele é espontânea, livre e há desprendimento;
só o que importa é o bem estar do outro. Fazemos de tudo para que o outro seja
feliz.
A melhor
forma que eu conheço para harmonizar o nosso passado e cuidar para que estes
laços não se tornem disfuncionais e problemáticos na vida atual é a realização
da terapia de vidas passadas. Através da regressão o passado pode ser revisto e
os laços amorosos podem ser tratados, dissolvendo os resíduos de energias
conflituosas, brigas, assassinatos, traumas, e qualquer situação negativa que
tenha ocorrido em vidas passadas. Muitos afirmam que tratar o passado conjunto
com nossos entes queridos pode reacender velhas mágoas, nos fazer lembrar de
velhas disputas e ódios passados, e que isso inviabilizaria nossa convivência
atual com eles.
Quem defende
esta tese alega que uma mãe não poderia conviver bem com seu filho caso
descubra que ele a torturou e matou em vidas passadas. A nossa experiência de
mais de 2.000 regressões individuais prova que essa ideia é bastante
equivocada. Jamais pude presenciar nenhuma relação que tivesse piorado após uma
revisão de vidas passadas negativas entre membros de uma mesma família. Pelo
contrário, as experiências negativas são tratadas e os laços de amor são
purificados, o que torna a convivência atual muito melhor e mais satisfatória.
Já atendi
dezenas de casos em que visitamos vidas passadas bastante duras entre
familiares e o resultado sempre foi uma grande melhora na qualidade da relação
atual. Os bloqueios caem, os conflitos são tratados, as disputas são
harmonizadas e tudo passa a ser objeto de precioso aprendizado. Além disso, o
esquecimento do passado não apaga os sentimentos negativos de vidas passadas,
eles continuam existindo hoje, podem e devem ser tratados, para que as relações
familiares melhorem e para que possamos viver bem com nossos familiares e com
as pessoas que amamos.
Autor: Hugo
Lapa