O QUE É A
ERRATICIDADE? O QUE SÃO "ESPÍRITOS ERRANTES"?
O Capítulo
XXXII do Livro dos Médiuns, Kardec nos traz o Vocabulário Espírita. Lá, encontramos a definição do termo
“Erraticidade”, a saber: "situação dos Espíritos errantes, quer dizer -
não encarnados - durante os intervalos de suas existências corporais."
O termo
“Espíritos errantes”, portanto, não tem
a ver com “erro”, e sim com a “condição
de estar desencarnado.”
Nas obras de
Kardec, encontramos muitas vezes o termo “erraticidade”, que indica “estado dos
espíritos durante os intervalos entre as encarnações”. Espíritos “na erraticidade”
são espíritos que se encontram “entre uma encarnação e outra”.
Na questão
226 do Livro dos Espíritos, Kardec pergunta: Pode-se dizer que todos os
Espíritos não encarnados são errantes?
E a resposta
dos Espíritos foi:
"Os que
devem reencarnar-se, sim. Mas os Espíritos Puros, que chegaram à perfeição, não
são errantes: seu estado é definitivo".
Explicação
de Kardec:
"No
tocante às suas qualidades íntimas, os Espíritos pertencem a diferentes ordens
ou graus, pelos quais passam sucessivamente, à medida que se purificam (ver
Escala Espírita, Item 100 do Livro dos Espíritos).
No tocante ao estado, podem ser:
Encarnados,
ou seja, ligados a um corpo material;
Errantes, ou
desligados do corpo material e esperando por uma nova encarnação para se
melhorarem;
Espíritos
Puros ou Perfeitos: os que não tem mais necessidade de encarnação."
Portanto, ao
desencarnarmos, nos encontraremos na “erraticidade”. Note-se que “estar na
erraticidade” não se refere a um lugar, e sim a uma condição (a de espíritos
desencarnados, esperando por nova encarnação).
Encontramos
também a definição do termo “Erraticidade” no livro “Instruções Práticas Sobre
as Manifestações Espíritas”, de Allan Kardec, publicado em 1858, um ano após a
primeira edição de O Livro dos Espíritos. O livro “Introdução ao Espiritismo”,
organizado por José Herculano Pires, traz em um só volume, este e outros dois
livros pouco conhecidos de Kardec: “O Espiritismo na Sua Mais Simples
Expressão” e “O Que É O Espiritismo”.
No livro
“Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas”, encontramos uma
definição mais completa do termo “erraticidade”, a saber:
“Estado dos
Espíritos errantes, isto é, não encarnados, durante os intervalos de suas
diversas existências corpóreas. A erraticidade não é um sinal absoluto de
inferioridade para os Espíritos. Há Espíritos errantes de todas as classes,
salvo os da Primeira Ordem, ou Espíritos
Puros, que não tendo mais que reencarnar, não podem ser considerados como
errantes. Os Espíritos Errantes são felizes ou infelizes, segundo o grau de sua
purificação. É nesse estado que o Espírito, tendo despido o véu material do
corpo, reconhece suas existências anteriores e os erros que o afastam da
perfeição e da felicidade infinita. É então que ele escolhe novas provas, a fim
e avançar mais depressa.”
Ou seja: não
existe a ideia de “inatividade” para o espírito. Tampouco a de “contemplação
eterna”. O Espírito não morre, e mesmo não estando revestido da veste carnal,
ele continua evoluindo no Plano Espiritual, durante o período de erraticidade.
É aí que ele retoma a lembrança do passado, analisa seus progressos e fracassos
nas encarnações sucessivas, e prepara-se para novas provas, que ele mesmo
escolhe, a fim de progredir.
Na
erraticidade o Espírito reencontra afetos e desafetos, e os grupos se reúnem e
se preparam para novos desafios terrenos. É por isso que se diz que há uma
“pré-programação” para o Espírito, que deve sofrer provas ou expiações que ele
mesmo escolheu, pois sabe que elas irão lhe trazer o APRENDIZADO NECESSÁRIO
para sua evolução espiritual. É o “remédio amargo”, que causa um desconforto
passageiro, mas que conduz à cura do Espírito.
PARA ONDE
VÃO OS ESPÍRITOS QUE SE ENCONTRAM NA ERRATICIDADE?
No item II
do mesmo capítulo do Livro dos Espíritos (Cap. VI – Vida Espírita), Kardec faz
a seguinte pergunta:
Questão 234:
Existem, como foi dito, mundos que servem de estações ou de lugares de repouso
aos Espíritos errantes?
E os
Espíritos responderam:
"Sim,
há mundos particularmente destinados aos seres errantes, mundos que eles podem
habitar temporariamente, espécies de acampamentos, de lugares em que possam
repousar de erraticidades muito longas, que são sempre um pouco penosas. São
posições intermediárias entre os outros mundos, graduados de acordo com a
natureza dos Espíritos que podem atingi-los e que neles gozam de maior ou menor
bem estar".
COMO
INTERPRETAR ISSO?
Da mesma
forma que a Terra é um mundo que abriga Espíritos encarnados, em determinado
grau de evolução, há mundos destinados a abrigar Espíritos na erraticidade (ou
seja, preparando-se para reencarnar). Também estes mundos têm diferentes níveis
de evolução, pois abrigam Espíritos de diferentes graus de adiantamento moral e
intelectual. (Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. III, item 19,
mensagem de Santo Agostinho: Progressão dos Mundos).
QUANTAS
VEZES UM ESPÍRITO REENCARNA NA TERRA? HÁ UM LIMITE?
Não existe
um limite; a reencarnação na Terra, ou em outros mundos, está diretamente
relacionada com o grau de evolução do Espírito, e não no número de vezes que
ele já encarnou.
Todos nós
estamos destinados ao progresso, e nossas vidas sucessivas são os meios que
Deus nos oferece para vivenciarmos os aprendizados, e assim depurar o Espírito.
Há Espíritos que avançam mais rapidamente; há os Espíritos recalcitrantes,
empedernidos, obstinados no mal. Esses, progridem com maior lentidão, e
precisam passar por mais provas e expiações, do que o Espírito que se dedica à
trilha do bem, e ao seu adiantamento moral e intelectual.
O reencarne
na Terra também obedece o mesmo princípio, de evolução do Espírito. Aquele que
já progrediu, pode passar a um mundo mais evoluído que a Terra; e o Espírito
recalcitrante pode ter que reencarnar em um mundo inferior, o que para ele é
motivo de sofrimento.
No Evangelho
Segundo o Espiritismo, Cap. III, Há Muitas Moradas Na Casa de Meu Pai, encontramos a seguinte explicação, nos itens
4 e 5:
Diversas
Categorias de Mundos Habitados
4 -
"...Embora não possamos fazer uma classificação absoluta dos diversos
mundos, podemos, pelo menos, considerando o seu estado e o seu destino, com
base nos seus aspectos mais destacados, dividi-los assim, de um modo geral:
Mundos
Primitivos, onde se verificam as primeiras encarnações da alma humana;
Mundos de
Expiação e de Provas, em que o mal predomina;
Mundos
Regeneradores, onde as almas que ainda têm o que expiar adquirem novas forças,
repousando das fadigas da luta;
Mundos
Felizes, onde o bem supera o mal;
Mundos
Celestes ou Divinos, morada dos Espíritos purificados, onde o bem reina sem
mistura.
A Terra pertence à categoria dos mundos de
expiações e de provas, e é por isso que nela está exposto a tantas
misérias".
5 - Os
Espíritos encarnados num mundo não estão ligados a ele indefinidamente, e não
passam nesse mundo por todas as fases do progresso que devem realizar, para
chegar à perfeição. Quando atingem o grau de adiantamento necessário, passam
para outro mundo mais adiantado, e assim sucessivamente, até chegarem ao estado
de Espíritos puros. Os mundos são as estações em que eles encontram os
elementos de progresso proporcionais ao seu adiantamento. É para eles uma
recompensa passarem a um mundo de ordem mais elevada, como é um castigo
prolongarem sua permanência num mundo infeliz, ou serem relegados a um mundo
ainda mais infeliz, por se haverem obstinado no mal.*
QUAL O
INTERVALO ENTRE AS ENCARNAÇÕES?
O intervalo
entre as reencarnações obedece ao mesmo princípio, de evolução do Espírito. No
Livro dos Espíritos, Cap. VI, Vida Espírita, Kardec faz a seguinte pergunta aos
espíritos:
Questão 223:
A alma se reencarna imediatamente após a separação do corpo?
E a resposta
foi:
“Às vezes,
imediatamente, mas na maioria das vezes, depois de intervalos mais ou menos
longos. Nos mundos superiores a reencarnação é quase sempre imediata.”
E na questão
224, Kardec indaga:
224. O que é
a alma, nos intervalos das encarnações?
"Espírito errante, que aspira a um
novo destino e o espera".
224 – a)
Qual poderá ser a duração desses intervalos?
"De
algumas horas a alguns milhares de séculos. De resto, não existe, propriamente
falando, limite extremo determinado para o estado errante, que pode
prolongar-se por muito tempo, mas que nunca é perpétuo. O Espírito tem sempre a
oportunidade, cedo ou tarde, de recomeçar uma existência que sirva à purificação
das anteriores".
224 – b)
Essa duração está subordinada à vontade
do Espírito, ou pode lhe ser imposta como expiação?
"É uma
conseqüência do livre-arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem,
mas para alguns é também uma punição infligida por Deus. Outros pedem o seu
prolongamento para prosseguir estudos que não podem ser feitos com proveito a
não ser no estado de Espírito".
REFLEXÕES
SOBRE AS RESPOSTAS DOS ESPÍRITOS:
1. Os Espíritos explicaram que, embora às vezes
os espíritos reencarnem imediatamente, na maioria das vezes o reencarne se dá
depois de intervalos mais ou menos longos.
2. O intervalo entre uma encarnação e outra é o
que chamamos de “erraticidade” (não se refere a um local, mas a uma condição do
espírito).
3. A duração desse intervalo é uma
“consequência” do livre-arbítrio – ou seja: se empregamos mal o nosso
livre-arbítrio, podemos ter que permanecer um período mais longo na condição de
espíritos errantes, como uma pena imposta por Deus.
4. O intervalo entre as reencarnações pode ser
muito longo, mas nunca eterno. Espíritos dominados por sentimentos de revolta,
vingança, ódio, cobiça, inveja, ciúme, orgulho, egoísmo, acabam por não
aproveitar o tempo na erraticidade para aprender e progredir. Esses
sentimentos, aliás, são os que impedem o nosso progresso aqui na Terra, também.
É por isso que temos que lutar contra eles, e vencê-los, para que eles não se
tornem motivo de nossas quedas, e tragam, como consequência, sofrimento para o
Espírito em vida, e além da vida.
5. Mas Deus não quer que suas criaturas sofram
para sempre, e cedo ou tarde, o Espírito acorda para os seus compromissos
espirituais, arrepende-se de seus erros, compreende que perdeu muito tempo
preso a sentimentos inferiores, e pede uma nova encarnação, para reparar os
males que tenha causado, e para passar pelas provas necessárias à sua evolução.
6. Embora no estado de erraticidade, o Espírito
continue progredindo, se assim o quiser, é através das vidas sucessivas que ele
vivencia todo o aprendizado adquirido na erraticidade. Portanto, o Espírito
precisa reencarnar. Cabe ao próprio espírito, que tem o livre-arbítrio,
trabalhar pelo seu progresso, vencendo em si mesmo todos os sentimentos que são
motivos de sua queda moral.
7. A designação do mundo que nos abrigará na
erraticidade, e do mundo no qual deveremos reencarnar, está diretamente
relacionada com nossa “evolução” moral e espiritual. Da mesma forma, o número
de reencarnações e a duração entre as encarnações. Não há espaços delimitados,
número programado de encarnações, prazos pré-estabelecidos, duração mínima e
máxima na erraticidade. Está tudo diretamente relacionado com o progresso do
espírito, com seus esforços e sua predisposição no sentido de evoluir e
aprender, e sua dedicação à causa do Bem.
8. Deus nos concedeu o livre-arbítrio, para que
cada Espírito possa decidir os caminhos que irá percorrer, até atingir o estado
de Espírito Puro. Em casos extremos, os espíritos recalcitrantes são sujeitos
às reencarnações compulsórias, e não podem opinar sobre quando, como e onde
irão reencarnar.
9. Mas, via de regra, nós participamos dessas
escolhas, pois durante nossos períodos na erraticidade recobramos a lembrança
de nossas existências anteriores, e analisamos onde progredimos e onde ainda
precisamos melhorar, e Deus nos concede a oportunidade de reencarnamos no lugar
adequado, nas condições ideais, com as pessoas certas, para que possamos passar
pelas provas necessárias ao nosso aprendizado e crescimento. Não existe o acaso
na casa do Pai. Portanto, nada de queixas...
SOBRE OS
MITOS E AS VERDADES
Há teorias
que não tem nenhum embasamento em Kardec, que definem a média de tempo entre as
encarnações, o número de reencarnações na Terra, e indicam até diferentes
Planos, como um "roteiro" para a evolução do Espírito. Quanto
desconhecimento de Kardec...
Outro dia,
por exemplo, em uma palestra (vejam vocês...) ouvi o palestrante dizer que “a
média entre encarnações é de 250 anos”, segundo pesquisas
"científicas" de um pesquisador espírita. Teoria totalmente infundada,
que muito se distancia de tudo o que Kardec e os Espíritos Superiores nos
trouxeram.
Deus nos deu
o livre-arbítrio. Deus respeita o nosso livre-arbítrio. Se cada Espírito evolui
a seu passo, a seu tempo, como estabelecer prazos? O próprio Livro dos Espíritos
diz, claramente, que "esse tempo pode ser de horas, ou séculos". E
como estabelecer um número fixo de encarnações para um Espírito? Isso vai
contra tudo o que os Espíritos nos ensinaram, através da obra de Kardec.
Não há autor
espírita cuja obra não deva passar pelo crivo da razão, e cujas afirmações não
devam ser confrontadas com os ensinamentos dos Espíritos, que nos foram dados
através das obras de Kardec.
Por isso, é
mais sensato para todos aqueles comprometidos com a Verdade e com a causa espírita,
sejam eles palestrantes espíritas, médiuns, frequentadores de Casas Espíritas e
a todos os que desejam difundir o espiritismo, que façam uma pesquisa EM
KARDEC, antes de disseminar informações que mais confundem, do que esclarecem,
e que prestam um desserviço à Doutrina Espírita, colocando-a no campo do
maravilhoso e do sobrenatural.
Essas
teorias fantasiosas iludem, e não aclaram – impressionam, mas em nada
contribuem para dissipar o véu da ignorância que é um entrave para o progresso
do Espírito.
“Espíritas,
amai-vos, eis o primeiro mandamento. Instrui-vos, eis o segundo.”
por Liz
Bittar, em 20/08/2013