Amigos, no
estudo sobre a espiritualidade de nossos irmãos animais, não é sempre que se
encontra bons materiais. Na minha concepção, material bom é aquele que possui
informações com bons argumentos, ou seja, justificativas lógicas.
Quando o
assunto em pauta é a alimentação sem carne, a divergência, mesmo no meio
espírita, é grande. Há alguns dias, deparei-me com um vídeo sobre a
espiritualidade dos animais. Gostei. Entretanto, quando o palestrante começou a
abordar sobre vegetarianismo, os argumentos foram fracos e diversas vezes
equivocados.
Diante
disto, gostaria de abordar o tema de maneira saudável e dividi-lo com vocês. A
matéria abaixo foi publicada na revista Animais Doutrina e Espiritualidade –
nº7 (Editora Mythos).
Assunto
muito polêmico e de pouca reflexão no meio espírita é o vegetarianismo. Quando
digitado “vegetarianismo e espiritismo” em sites de busca, são dezenas de
milhares de resultados encontrados. Por outro lado, contam-se nos dedos das
mãos os centros espíritas que trazem esta reflexão ao público.
Diante da
procura por este assunto, pode-se concluir que muitos são os interessados nesta
reflexão, mas poucos são os coordenadores espíritas que se submetem a estudar
profundamente o assunto e levar a posição do ESPIRITISMO aos espíritas.
Muitos
questionariam: o espírita é obrigado a seguir o vegetarianismo? A resposta,
obviamente, é não. O Espiritismo nada obriga e é, acima de tudo, uma filosofia
de vida, não aplica o dogma como base religiosa.
Talvez, a
pergunta mais sensata seria: o espírita deve refletir sobre a possibilidade de
tornar-se vegetariano? A resposta, logicamente, é sim.
O
Espiritismo muito nos instrui sobre esta possibilidade desde Kardec: “Será
meritório abster-se o homem da alimentação animal, ou de outra qualquer, por
expiação? Sim, se praticar essa privação em benefício dos outros” (questão 724
do Livro dos Espíritos – LE).
Hoje, a
maioria dos espíritas é onívora (consome tanto seres do reino animal como do
vegetal), ou por falta de oportunidade de reflexão, ou por apoiar-se na famosa
máxima “a carne nutre a carne” (questão 723 do LE).
A pergunta é
simples e direta: por quanto tempo mais o espírita apoiar-se-á apenas nesta
frase, e quanto tempo mais levará para tirar conclusões sensatas sobre o tema
diante de tantas obras espíritas que revelam a realidade sobre o assunto?
Claramente,
a frase citada serve aos espíritas que se colocam a favor de uma alimentação em
que a carne tenha lugar garantido, e só! Não se leva em conta a época em que
foi escrito, qual era a situação do homem em termos de conhecimentos
nutricionais em comparação aos dias de hoje.
Tanto esta
frase de 1857, quanto a participação de Chico Xavier no programa Pinga Fogo,
extinta TV Tupi, em 1971, em que ele parecia instruir uma alimentação com carne
para a maioria das pessoas, são justificáveis para a época. Seria leviano da
parte dos Espíritos afirmar que o Espiritismo condenava o consumo de carne,
pois eram escassas as informações sobre as alternativas nutricionais em
substituição à carne; o que não mais se aplica nos dias de hoje.
Nos dois
exemplos citados, está fortemente evidenciada a NECESSIDADE do consumo de carne
para a manutenção da vida saudável, o que não é mais justificado, pois existem
diversas pesquisas científicas provando ser possível uma vida saudável sem o
consumo de animais. São diversos exemplos de pessoas, atletas, crianças e
idosos vegetarianos e saudáveis. Então, por que ainda comer carne?
Kardec
sempre nos instruiu ao estudo científico, filosófico e doutrinário, e ainda
citou que fé inabalável é aquela que pode encarar frente a frente a razão, em
todas as épocas da Humanidade. (KARDEC, citado por Nardi). Nós, espíritas, não
podemos mais justificar o consumo da carne dos animais, porque “a carne nutre a
carne”, pois segundo a ciência e o próprio Espiritismo, isto não serve mais
como argumento nesta discussão.
Se em 1971
Chico Xavier parecia aconselhar o consumo dos outros animais, em 1943, André
Luiz em Missionários da Luz já dava indícios de que a nossa inteligência podia
trabalhar em prol de uma alimentação vegetariana e esclarecia:
“(…) esquecíamos
de que a nossa inteligência, tão fértil na descoberta de comodidade e conforto,
teria recursos de encontrar novos elementos e meios de incentivar os
suprimentos proteicos ao organismo, sem recorrer às indústrias da morte.”
Esquecemos
que em O Consolador em 1997 1941 (antes mesmo da participação de Chico Xavier,
juntamente com Emmanuel no programa Pinga Fogo em 1971), Emmanuel foi incisivo
ao CONDENAR o consumo de carne:
“A ingestão
das vísceras dos animais é um erro de enormes consequências, do qual derivaram
numerosos vícios da nutrição humana. É de lastimar semelhante situação, mesmo
porque, se o estado de materialidade da criatura exige a cooperação de
determinadas vitaminas, esses valores nutritivos podem ser encontrados nos
produtos de origem vegetal, sem a necessidade ABSOLUTA dos matadouros e frigoríficos.
”
Sob
justificativas antigas, em que os conhecimentos eram quase nulos sobre a
nutrição vegetariana, muitos espíritas ignoram os mais recentes relatos
mediúnicos que apontam o atraso espiritual da humanidade em comer carne de
irmãos “menores”.
Parece que a
maioria dos espíritas lendo obras como as citadas, consideram e guardam em seus
corações o que lhe é útil; o que não é, como a causa dos animais para grande
parte, é como se descartasse imediatamente após sua leitura. Afinal, não lhe
interessa. É como aquele que se diz espírita, buscando o Centro apenas para
tomar o passe e não participa dos estudos, palestras, ações de solidariedade.
Vive-se superficialmente o Espiritismo, utilizando-se apenas do que lhe parece
agradável.
O
vegetarianismo entre os espíritas é uma semente que até pouco tempo atrás não
possuía a terra fofa e preparada para seu cultivo, mas que agora começa a
encontrar condições para ser semeada.
Como disse o
sábio Chico Xavier no programa Pinga Fogo, há aproximadamente 40 anos:
“Se nós
estamos ainda subordinados à necessidade de valores proteicos que recebemos da
carne, nós não devemos entrar em regimes vegetarianos de um dia para outro e
sim educar o nosso organismo para realizarmos essa adaptação (…). Para
dispensarmos este tipo de concurso dos animais, precisamos tempo (…)”
E ainda
sugeriu o auxílio de um profissional para aqueles que gostariam de abster-se da
carne, sinalizando que, já naquela época, era possível a alimentação sem o
massacre que, ainda hoje, acontece nos matadouros e frigoríficos, por vontade
do ser humano.
Deixemos bem
claro que ser vegetariano não implica em ser bom, e não ser, não implica em ser
ruim. Entretanto, sem dúvidas, quando se deixa de comer nossos irmãos, a
sintonia com energias elevadas se dá mais facilmente. Lembrando uma citação de
Babajiananda, um sábio irmão: "Não é deixando de comer carnes que o ser se
espiritualiza, é se espiritualizando que ele deixa de comer carnes.”
Tudo na vida
é adaptação. Segundo A Gênese em 1868, “(…) à medida que o senso moral
predomina, a sensibilidade se desenvolve, a necessidade da destruição diminui;
termina mesmo por se extinguir e por tornar-se odiosa; então, o homem passa a
ter horror ao sangue.”
Já temos
muita informação sobre o assunto em epígrafe, sendo cada um capaz de discernir
o certo do errado, o bom do ruim. Cada ser é único e responde a novas
revelações de maneiras diferentes. Muitos estão preparados, muitos ainda não. Segundo
Jesus Cristo, “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, aqueles que ainda não,
certamente um dia terão. Aí está o que chamamos de progresso e evolução
espiritual.
Segundo o
Irmão X, psicografado por Chico Xavier:
“Comece a
renovação de seus costumes pelo prato de cada dia. Diminua gradativamente a
volúpia de comer a carne dos animais. O cemitério na barriga é um tormento,
depois da grande transição. O lombo de porco ou o bife de vitela, temperados
com sal e pimenta, não nos situam muito longe dos nossos antepassados, os
tamoios e os caiapós, que se devoravam uns aos outros.”
Fernanda-Animais
e o Espiritismo