A busca da
afetividade constitui-se em uma necessidade de intercâmbio e de relacionamento
entre as criaturas humanas ainda imaturas. Acreditam, aqueles que assim
procedem, que somente através de outrem é possível experimentar a afeição,
recebendo-a e doando-a. Como decorrência, as pessoas que se sentem solitárias,
atormentam-se na incessante inquietação de que somente sentirão segurança e
paz, quando encontrem outrem que se lhe constitua suporte afetivo. Nesse
conceito, encontra-se um grande equívoco, qual seja esperar de outra pessoa a
emoção que lhe constitua completude, significando autor realização.
Um
solitário, quando se apoia em outro indivíduo, que também tem necessidade
afetiva, forma uma dupla de buscadores a sós, esperando aquilo que não sabem ou
não desejam oferecer. É claro que esse relacionamento está fadado ao desastre,
à separação, em face de se encontrarem ambos distantes um do outro
emocionalmente, cada qual pensando em si mesmo, apesar da proximidade física.
Faz-se
imprescindível desenvolver a capacidade de amar, porque o amor também é
aprendido. Ele se encontra ínsito no ser como decorrência da afeição divina, no
entanto, não poucas vezes adormecido ou não identificado, que deve ser
trabalhado mediante experiências de fraternidade, de respeito e de amizade.
Partindo-se
de pequenas conquistas emocionais e de júbilos de significado singelo,
desenvolve-se mediante a arte de servir e de ajudar, criando liames que se
estreitam e se ampliam no sentimento. Estreitam-se, pelo fato de se aprender
união com outrem e ampliam-se mediante a capacidade de entendimento dos limites
do outro, sem exigências descabidas nem largas ao instinto perturbador de
posse, nas suas tentativas de submissão alheia...
Resultante
de muitos conflitos que aturdem o equilíbrio emocional, esses indivíduos
insatisfeitos, que se acostumaram às bengalas e às fugas psicológicas, pensam
que através da afetividade que recebam lograrão o preenchimento do vazio
existencial, como se fosse uma fórmula miraculosa para lhe solucionar as
inquietações.
Os conflitos
devem ser enfrentados nos seus respectivos campos de expressão e nunca mediante
o mascaramento das suas exigências, transferindo-se de apresentação. Os fatores
psicológicos geradores dessas embaraçosas situações são muito complexos e
necessitam de terapêuticas cuidadosas, de modo que possam ser diluídos com
equilíbrio, cedendo lugar a emoções harmônicas propiciadoras de bem-estar.
A
afetividade desempenha importante labor, qual seja o desenvolver da faculdade
de amar com lucidez, ampliando o entendimento em torno dos significados
existenciais que se convertem em motivações para o crescimento intelecto-moral.
Quando se
busca o amor, possivelmente não será encontrando em pessoas, lugares ou
situações que pareçam propiciatórias. É indispensável descobri-lo em si mesmo,
de modo a ampliá-lo no rumo das demais pessoas.
Qual uma
chama débil que se agiganta estimulada por combustível próprio, o amor é
vitalizado pelo sentimento de generosidade e nunca de egoísmo que espera sempre
o benefício antes de proporcionar alegria a outrem.
A
predominância do egoísmo tolda-lhe a visão saudável do sentimento de
afetividade e impõe-lhe exigências descabidas que, invariavelmente, o tornam
vítima das circunstâncias. Em tal condição, sentindo a impossibilidade de amar
ou de ser amado, procura, aflito, despertar o sentimento de compaixão,
apoiando-se na piedade injustificada.
Se
experimentas solidão no teu dia-a-dia, faze uma análise cuidadosa da tua
conduta em relação ao teu próximo, procurando entender o porquê da situação. Sê
sincero contigo mesmo, realizando um exame de consciência a respeito da maneira
como te comportas com os amigos, com aqueles que se te acercam e tentam
convivência fraternal contigo.
Se és do
tipo que espera perfeição nos outros, é natural que estejas sempre
decepcionado, ao constatares as dificuldades alheias, olvidando porém que também
és assim. Se esperas que os outros sejam generosos e fiéis no relacionamento
para contigo, estuda as tuas reações e comportamentos diante deles.
A bênção da
vida é o ensejo edificante de refazimento de experiências e de conquistas de
patamares mais elevados, algumas vezes com sacrifício... Não te atormentes,
portanto, se escasseiam nas paisagens dos teus sentimentos as compensações do
afeto e da amizade.
Observa em
derredor e verás outros corações em carência, à tua semelhança, que necessitam
de oportunidade afetiva, de bondade fraternal. Exercita com eles o intercâmbio
fraterno, sem exigências, não lhes transferindo as inseguranças e fragilidades
que te sejam habituais.
É muito
fácil desenvolver o sentimento de solidariedade, de companheirismo, bastando
que ofereças com naturalidade aquilo que gostarias de receber. A princípio,
apresenta-se um tanto embaraçoso ou desconcertante, mas o poder da bondade é
tão grande, que logo se fazem superados os aparentes obstáculos e, à semelhança
de débil planta que rompe o solo grosseiro atraída pela luz, desenvolve-se e
torna-se produtiva conforme a sua espécie...
Observa com
cuidado e verás a multidão aturdida, agressiva, estremunhada, que te parece
antipática e infeliz. Em realidade, é constituída de pessoas como tu mesmo,
fugindo para lugar nenhum, sem coragem para o auto enfrentamento.
Contribui,
jovialmente, quanto e como possas, para atenuar algum infortúnio ou diminuir
qualquer tipo de sofrimento que registres. Esse comportamento te facultará
muito bem e, quanto menos esperes, estarás enriquecido pela afetividade que
doas e pela alegria em fazê-lo.
Ninguém pode
viver com alegria sem experienciar a afetividade. A afetividade é mensagem de
amor de Deus, estimulando as vidas ao crescimento e à sublimação. A afetividade
deve ser distendida a todos os seres, aos vegetais, animais, seres humanos,
ampliando-a por toda a Natureza.
Quando se
ama, instalam-se a beleza e a alegria de viver. A saúde integral, sem dúvida, é
defluente da harmonia do sentimento pelo amor com as conquistas culturais que
levam à realização pessoal, trabalhando pelo equilíbrio e funcionamento
existencial.
Joanna de
Ângelis.
Psicografia
de Divaldo Pereira Franco, no dia 17 de novembro de 2008, na cidade do Porto em
Portugal.