É possível
seguir Jesus, evidentemente nos limites que o nosso estágio evolutivo atual
permite, não sendo celibatário?
Perfeitamente,
por que não? Kardec, por exemplo, era casado. E muito bem-casado com Amélie
Boudet, o que não o impediu, mas, muito pelo contrário, o sustentou na luta
pela codificação e divulgação da Doutrina Espírita, revivendo o Cristianismo na
sua pureza doutrinária. Portanto, ele seguiu Jesus sem ser celibatário.
Mudemos o
enfoque. É possível seguir Jesus não sendo casto, considerando, da mesma forma,
os limites que nossa evolução atual nos enseja? Não. Não é possível. E não é
possível porque castidade, ao contrário do que muitos pensam, não se refere
simplesmente à ausência de relacionamento sexual, mas sim de uma pureza
interior que vai muito além da abstinência de sexo. Por essa pureza interior
passa o bom emprego do sexo, onde um não transforma o outro no objeto de
satisfação de seus instintos, mas onde uma pessoa se completa e completa a
outra dentro de um clima de bem-querer onde só é possível ser feliz mergulhado
na felicidade que emana do outro, e cujo autor somos cada um de nós.
Jesus, muito
além de celibatário, era casto. Sua pureza moral não pode ser seguida com uma
simples ausência da atividade sexual que muitas vezes leva o indivíduo ao
desequilíbrio emocional, a exemplo de uma gigantesca represa que, quanto mais é
contida, mais corre o risco de se romper na pedofilia, no estupro e tantos
outros crimes que o sexo reprimido e desequilibrado enseja.
Chico Xavier
e Divaldo Franco, para tomarmos exemplos dentro da Doutrina Espírita, optaram
pelo celibato, face aos inúmeros compromissos que trouxeram junto à família
espiritual de nosso planeta. Só que não ficaram apenas no celibato. Viveu o
primeiro e vive o segundo também a castidade que a evolução alcançada pelos
dois permite.
Albert
Schweitzer era casado e casto. E exatamente por ser casto foi capaz de se
entregar a tratar de leprosos no continente africano; a não pisar sobre uma
simples flor silvestre por respeitar-lhe a existência e o direito à vida; a
amar profundamente aos animais por entendê-los como criaturas de Deus e com o
direito a viver, enquanto presenciamos motoristas insensíveis direcionando o
veículo que dirigem, de forma irresponsável, para cima de uma pomba que busca o
seu alimento numa via pública ou em direção a um cachorro abandonado de rua
pelo simples prazer de tirar uma vida! Dia desses presenciei um motorista em
alta velocidade na área urbana gritando com um cachorro que quase foi atropelado
impiedosamente ao atravessar de um lado para o outro daquela via, como se o
animal tivesse consciência de que atravessava uma rua. Poderia muito bem ter
feito o mesmo com uma criança ou com um idoso com dificuldades de locomoção.
Esse último não tem a castidade para seguir Jesus, por enquanto.
Martin
Luther King Jr. era casado e casto para seguir Jesus a ponto de entregar a sua
própria vida defendendo os direitos de nossos irmãos de cor de pele diferente
da branca, como se esse tecido superficial que reveste nosso corpo não
estivesse destinado à morte como todos os outros, mais dia, menos dia! Ele teve
a castidade suficiente para seguir Jesus.
É impossível
falar sobre celibato ou castidade sem que o tema sexo nos venha à mente. O que
será que a Doutrina Espírita pode nos orientar a respeito? Vejamos as lições de
Emmanuel contida no livro O Consolador, questão 184:Não devemos esquecer que o
amor sexual deve ser entendido como o impulso da vida que conduz o homem às
grandes realizações do amor divino, através da progressividade de sua
espiritualização no devotamento e nos sacrifícios.
Haveis de
observar que Deus não extermina as paixões dos homens, mas fá-las evoluir,
convertendo-as pela dor em sagrados patrimônios da alma, competindo às
criaturas dominar o coração, guiar os impulsos, orientar as tendências, na
evolução sublime dos seus sentimentos.
Examinando-se,
ainda, o elevado coeficiente de viciação do amor sexual, que os homens criaram
para os seus destinos, somos obrigados a ponderar que, se muitos contraem
débitos penosos, entre os excessos da fortuna, da inteligência e do poder,
outros o fazem pelo sexo, abusando de um dos mais sagrados pontos de referência
de sua vida.
Depreende-se,
pois, que, ao invés da educação sexual pela satisfação dos instintos, é
imprescindível que os homens eduquem sua alma para a compreensão sagrada do
sexo.
Quando
tivermos conseguido essa compreensão sagrada, o celibato será uma condição
absolutamente dispensável em todo aquele que decidir seguir Jesus, pois que
terá se iniciado no estado da castidade indispensável para segui- lo.
RICARDO
ORESTES FORNI