Antes da
desencarnação o espírito sente um sutil desprendimento porque no seu íntimo mais profundo pressente e sente
que algo lhe força a distanciar-se da terra. A pessoa não sabe que isso é a
chegada do desencarne e, na verdade essa sensação pode ser também a abertura de
um dom mediúnico e não o desencarne, mas a sensação é semelhante. Muitas vezes
a pessoa que sente isso procura estar perto dos que mais ama e sente muita
vontade de abraçar e demonstrar amor. A sensibilidade fica aguçada e muitas
vezes sente cheiro de perfume de flores, porque os seus sentidos paladar, visão,
audição, tato e olfato ficam mais sensíveis e receptivos a comunicação
espiritual. Animais às vezes captam a mesma sensação e manifestam segundo sua
forma de expressão. Este é o mistério que envolve o dia do desencarne ou o
desdobramento de um dom mediúnico.
No momento
da Morte:
Este é um
dos fenômenos mais singulares que ocorrem em todos os casos de morte natural e,
até mesmo, em algumas mortes subitâneas, por acidentes diversos.
A pessoa,
nos instantes finais de sua existência, vê passar diante de si, como numa tela
de cinema ou num monitor de vídeo, toda a Vida que está prestes a deixar. Os
primeiros meses do renascimento, a pré-infância, a infância, a puberdade, a
adolescência, a juventude e a fase adulta, tudo, tudo que foi experimentado em
cada um desses estágios do desenvolvimento bio-psicológico do ser humano, vem à
tona com uma riqueza de pormenores, absolutamente, incomum.
Deve-se este
fenômeno ao registro minucioso feito pelo corpo perispiritual de todos os
acontecimentos vividos pelo ser humano em cada uma de suas existências. Nada
deixa de ser fixado pelo envoltório sutil da alma, e é, graças a essa
transcrição minuciosa, que podemos, aqui mesmo, em nosso mundo e, mais tarde,
na Vida Espiritual, lembrar-nos de todas as nossas existências pregressas.
Essa visão
retrospectiva possibilita ao ser uma contemplação crítica e analítica de todas
as ações por ele praticadas, durante a última existência, num prévio julgamento
consciencial, com vistas à situação que ele merece na Pátria Espiritual.
Através desse
retrospecto, pode o espírito avaliar a imensa distância que ainda o separa de
um viver, realmente, pautado dentro da legislação divina. Por outro lado,
verifica-se, também, que até o centavo que um dia doamos, como esmola, ao mais
humilde dos pedintes, ali está registrado.
0 fenômeno é
instantâneo. Acontece num átimo. O que mais importa, entretanto, não é a sua
duração, mas a sua qualidade. Mesmo os segredos mais íntimos que, por vezes, o
ser humano reprime para o seu inconsciente, vêm à tona com absoluta fidelidade,
numa demonstração de que nada permanecerá enterrado, para sempre, nos porões da
mente.
E isto
apenas confirma as palavras de Jesus, quando disse:
Nada há
oculto que não venha, um dia, a ser conhecido.
Nessa
retrospectiva, os fatos negativos servem de advertência, e possibilitam ao
espírito entrever as consequências cármicas que, no futuro, eles desencadearão.
Isto nas almas -mais esclarecidas, com senso de responsabilidade e noções
precisas de Vida Eterna e reencarnação. Já os fatos positivos, também
recordados, servem como estímulo a um maior crescimento moral e espiritual nas
novas dimensões da Vida em que a alma está penetrando.
0 grande
vate português Luiz de Camões, em soneto célebre, afirma: – Numa hora, encontro
mil anos e é de jeito que em mil anos não encontro uma hora… De fato, o tempo
psicológico do espírito e suas vivências espirituais não são medidos
exteriormente com os parâmetros habituais dos ponteiros dos relógios. Esse
tempo não cronológico, representado pelo acúmulo de experiências vividas, só
pode ser avaliado, interiormente, em visões retrospectivas, no instante da
morte, ou nos estados de emancipação da alma. No sonho, no sono hipnótico ou
sonambúlico, é perfeitamente possível ao espírito reviver, em segundos, fatos
que ocuparam, por vezes, metade de uma existência.
Ao despertar
no Além e na posse integral dessa visão panorâmica de sua última existência, o
espírito transformar-se-á no grande juiz de si mesmo, no tribunal silencioso de
sua consciência…*************
Equipe do
CVDEE-Cap. 25 do livro Morrer e Depois
Autor: Waldo
Lima do Valle