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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

“OS MILAGRES NA VISÃO ESPÍRITA.”

Milagres existem?        
Algumas pessoas se chocam ao saber que, pela doutrina espírita, milagres não existem. Vamos então analisar melhor tal ideia - tendo em mente que existe uma grande diferença entre o inexplicado e o inexplicável -, tomando a acepção moderna da palavra “milagre” (algo que contraria as leis naturais).
Vejamos o versículo abaixo:
João, 14:12
"Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas..."
São tais palavras ditas pelo próprio Jesus Cristo!
Teríamos então a capacidade de fazer tudo o que ele fez!? Os apóstolos chegaram a realizar alguns milagres.
A Igreja Católica, no processo de beatificação, requer a comprovação de certo número de milagres. Bom, se os apóstolos os faziam e hoje várias pessoas ainda os recebem, quer dizer que os milagres aconteceram e ainda acontecem em certo número. Mas então porque falar que se trata de um milagre algo que qualquer pessoa (atendendo ao pré-requisito citado no versículo acima) tem a capacidade de realizar?
Hoje trens se movem sem existir contato algum entre ele e o solo! Isso tempos atrás seria considerado um milagre. Afinal, como coisa tão sólida e pesada poderia “flutuar”?
Uma vez que um fenômeno se repete consideravelmente, voluntariamente ou não, pode-se dizer que existe aí uma lei (conjunto de regras) que determinam a realização ou não de tal fenômeno, conhecendo-se ou não tal lei.
Mas como Jesus sempre realizava tais "milagres"?
Porque ele tinha dentro de si amor e fé em sua completa essência! Sua fé, aliás, não era um ACREDITAR, mas um SABER tudo o que era possível se fazer através de Deus. Ele sabia o que era requerido para fazer as curas e possuía tais pré-requisitos: fé e amor. Por isso os apóstolos por vezes falharam. Eles não eram, claro, tão puros quanto Jesus Cristo, nem possuíam uma fé livre totalmente de quaisquer dúvidas sobre sua capacidade.
Tais fenômenos não vêm contrariar a lei natural das coisas. De uma ótica materialista, sim, os milagres existem, pois daí não sairão respostas às coisas que tem a ver mais com o plano espiritual que com o plano material. Não tiramos os méritos de Jesus ao não interpretar tais feitos como milagres. Pelo contrário, dá-se ainda mais méritos a ele! Ele realizou tais feitos através da fé, do amor e da superioridade moral que possuía em si mesmo. Se os tivéssemos, também conseguiríamos! Não nos esqueçamos de que o amor é a força maior do universo, uma vez que Deus, seu criador, é amor!
Mas resta ainda um último ponto: e Deus?
Seria Ele capaz de realizar um milagre?
Algo realmente sem nenhum nexo ou possível justificação, realmente contrário às leis naturais?
Não queiramos aqui interpretar os pensamentos e ideias de Deus, que são fruto de uma sabedoria infinita, mas tentemos pensar um pouco.
Deus criou o universo e tudo o que existe. Tal criação se dá sob certas leis naturais, que vêm Dele, claro, e que, por isso, são imutáveis (perfeitas).
Poderia Ele fazer alguma coisa que contrariaria uma lei natural emanada Dele mesmo?
Sim, Ele pode qualquer coisa.
E apenas Ele - pois não há nada maior que Ele - poderia fazer algo contrário a uma lei natural vinda Dele mesmo!
Mas, ao fazê-lo, não estaria aí uma afirmação de que tal lei não era perfeita, pois fora derrogada? Ou não, Ele faria isso apenas para nos mostrar que pode e consegue?
O que dizer-se-ia de um sábio mecânico que, para provar sua habilidade, desmantelasse um relógio construído pelas suas mãos, obra prima de ciência, a fim de demonstrar que pode desmanchar o que fizera? Seu saber, pelo contrário, não ressalta muito mais da regularidade e precisão do movimento de sua obra?
Sabe-se, pelo estudo da Bíblia, que até os maus teriam a capacidade de realizar milagres. Sinais que confundiriam os crentes menos atentos em sua fé. Se um espírito mau pode fazer, por si próprio, algo que vem a derrogar uma lei natural de Deus, isso o faz maior que Ele, e Deus não mais possuiria a onipotência.
Por outro lado, se tal espírito conseguisse realizar esse feito por Deus ter lhe delegado pessoalmente tal poder, para mais facilmente induzir os homens ao mal, faltaria a Ele a soberana bondade. Em ambos os casos, tem-se a negação de um atributo sem o qual Deus não seria Deus.
Não é o sobrenatural que é necessário às religiões, mas sim o princípio espiritual, confundido erradamente com o maravilhoso, e sem o qual não há religião possível. O Espiritismo considera a religião cristã de um ponto de vista mais elevado; dá-lhe uma base mais sólida do que os milagres: as leis imutáveis de Deus, que regem tanto o princípio material quanto o espiritual; esta base desafia o tempo e a ciência, porque ambos virão sancioná-la. Se há fatos que não compreendemos, é porque nos faltam ainda os conhecimentos necessários.
Quer se dar ao povo, aos ignorantes e aos pobres de espírito uma ideia do poder de Deus? É necessário mostrar-lhes a sabedoria infinita que preside a tudo, no admirável organismo de tudo o que vive; é necessário mostrar-lhes a sua bondade na sua solicitude por todas as criaturas, tão ínfimas que sejam; a sua previdência na razão de ser de cada coisa, da qual nenhuma é inútil; do bem que sai sempre do mal aparente e momentâneo.
Aonde está o maior poder: no mover-se uma montanha, ou na criação completa de um planeta? Na cura de um câncer, ou na criação do infinito universo, com todas as suas estrelas, planetas e galáxias?
Se tomarmos a palavra milagre em sua acepção etimológica (de mirari : admirar), aí sim poderemos dizer que milagres existem. Existem coisas admiráveis e surpreendentes que aconteceram, acontecem e acontecerão ainda neste mundo. Mas tomando a palavra em sua acepção moderna ou teológica, por assim dizer, como algo que contraria as leis naturais, aí dizemos que milagres não existem, por tudo que fora exposto acima.

(Saber Espírita)



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